sábado, 4 de junho de 2011

O Advogado do Terror, por Carlos Antunes


Título original: L'avocat de la terreur
Realização: Barbet Schroeder
Elenco: Jacques Vergès, Djamila Bouhared e Magdalena Kopp
Editora: CLAP Filmes

Há um homem imponente fumando charuto sentado à sua secretária. Ele fala para a câmara que o filma e responde, sempre perfeitamente à vontade, às perguntas sobre a sua vida enquanto defensor de culpados, sobretudo terroristas e ditadores.
Esse homem é Jacques Vergès e é uma figura mais transversal e determinante no Terrorismo de toda a metade tardia do século XX do que o famoso Carlos. Mas muitos menos o conhecerão ou terão visto este filme sobre ele.
O Advogado do Terror é um documentário tendencioso, não tanto porque Barbet Schroeder defenda as escolhas deste advogado mas porque a sua montagem foca uma vertente da vida profissional deste homem.
O foco de Schroeder está no contacto permanente de Vergès, enquanto advogado de certeza e pessoalmente como consequência, com todas as importantes vertentes do terrorismo desde a década de 1950 na Argélia colonizada pelos franceses até à prisão d'O Chacal já na década de 1990.
Um advogado que assumiu a defesa de algumas causas por culpa da sua herança de colonizado, outras por identificação intelectual com os acusados. A descoberta não serve de justificação e nem mesmo há uma compreensão total deste homem.
As suas escolhas parecem dizer mais do que as suas razões, mas há muito para descobrir sobre um advogado que parece ter atravessado por completo a linha de escrupulosidade que se costuma dizer que a classe dos advogados desconhece por completo.
Este foi um homem genial que compreendeu que a defesa deste tipo de casos exigia criatividade e uma abordagem de alta visibilidade, não apenas manipulação das próprias leis.
Um homem que sentiu a atracção pelo tipo de luta dos seus clientes mas que não se sentiu inclinado a aderir a ela por essa via, tanto por ser um intelectual como por ser um amante dos prazeres da vida.
Vergès foi o terrorista possível, importante em muitos aspectos de todas as lutas, mas olhado como interveniente de segunda linha, mero defensor dos verdadeiros culpados.
Só que, como ouvimos mais do que uma pessoa dizer, os advogados eram a única fonte de ligação entre os presos de diferentes cadeias, as fontes de comunicação utilizadas para preparar reivindicações conjuntas.
A sua culpa poderá, mesmo, ser mais profunda, mas o seu julgamento no caso "Carlos" ficou por fazer e muitas verdades ficaram por revelar.
Num filme sobre um homem que não se verga a nenhuma pergunta sobre as suas relações mais duvidosas, será fácil esquecer um dos momentos mais preciosos do filme, a captura de um momento de emoção em que Vergès chora por se recordar que nenhum dos seus clientes - termo que ele corrige para amigos - foi alguma vez executado.
Há um coração neste homem e talvez seja necessário haver sempre uma pessoa assim no mundo, que defenda até mesmo quem se declara culpado. Um ser perto da amoralidade mas com sentimentos escondidos.


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