sábado, 11 de junho de 2011

A Ressaca - Parte II, por Carlos Antunes


Título original: The Hangover Part II

The Hangover Part II não é mais do que a deslocalização para Banguecoque de The Hangover com um macaco no lugar do tigre. É tudo igual até ao momento musical (gratuito) a meio do filme.
O único ponto em que o filme se distingue do seu anterior é porque vai mais adiante no grau de escatologia a que está disposto a submeter os seus personagens. A fama de Banguecoque não é boa e isso corre a favor do exagero, sobretudo sexual, do desvario em que se envolve este grupo de indivíduos.
O filme continua a ter o rumo de aventura de redescoberta dos acontecimentos, mas a sua graça está desaparecida. As novas situações criadas são apenas actos de violência cometidos contra o wolfpack.
A pouca graça vem das aparições de Mr. Chow, um boneco de composição exagerada e hilariante, e do comportamento errático de Alan, vivendo no seu universo privado - e desfasado do real - a que chamam Alan-land.
O seu estado de "stay at home son" e as suas confusões verbais tornam-no numa amálgama da juventude irreflectida e da existência abstraída.
As criações de Zach Galifianakis, em qualquer filme, são visões de um brilhante comediante, mas o seu efeito é tanto maior quanto o seu papel é menor (talvez porque isso lhe garanta maior liberdade). Memorável secundário em Jantar de Idiotas ou Juventude em Revolta, deixou claro em A Tempo e Horas que (ainda) não basta montar um filme em torno do seu talento, é preciso dar-lhe um apoio sólido que, desta vez, os restantes personagens não foram.
A falta de risos em permanência leva a que, a partir de um certo momento, nos limitemos a resistir ao filme, esperando as prometidas fotos que surgirão durante o genérico final.
Quando chegam, conseguem levar os limites daquilo que estamos dispostos a ver (e, inevitavelmente, aceitar) ainda mais longe, sobretudo porque se escusam a ter qualquer limite gráfico. Mas aquilo que muitos não verão (ou não quererão ver) é que a penúltima foto apresentada é uma paródia indigna a uma importante foto de Eddie Adams.
Tudo é válido para fazer comédia - Ricky Gervais já o fez com o Holocausto de forma muito inteligente, sem melindrar ninguém - mas The Hangover Part II não está já nesse campo. Os seus criadores perderam a noção de onde está o limite que divide o humor da alarvidade. A insensibilidade demonstrada é um acto irreflectido de quem se limitou a ir ao fundo do poço do "asqueroso" para tentar fazer rir.
Aquilo que foi, há dois anos, uma surpresa eficaz e uma comédia conseguida transformou-se numa fórmula de repetição de sucesso fácil (ou não se falasse já em mais uma sequela). Dois filmes depois, em que explorou o seu próprio humor até ao limite do aceitável, Todd Phillips conseguiu tornar uma comédia de excepção num modelo acabado.


4 comentários:

  1. O que eu li de melhor em relação a uma crítica deste filme foi escrito por Jorge Leitão Ramos:
    " (...) o problema nem é, todavia, o que eles pensam de nós. O que é vergonhoso é nós aceitarmos isso quando vemos um filme como este."

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  2. Obrigado pela citação. Não costumo comprar o Expresso, mas parece-me uma frase que resume o essencial melhor do que eu conseguiria.

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  3. uma excelente crítica, que acerta em cheio em todos os pontos + e - do filme!

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  4. uma excelente crítica, certeira nos + e - da sequela!

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