domingo, 21 de agosto de 2011

A Viagem do Director, por Carlos Antunes


Título original: The Human Resources Manager

Esta é uma viagem de humanização em que o director de recursos humanos se transforma no ser humano disponível para os outros.
Uma visão mais esperançada do que crítica às relações modernas nas grandes empresas.
A viagem começa depois de um atentado no qual uma das vítimas é uma empregada romena de uma padaria israelita. Um jornalista denuncia a falta de humanidade da padaria que não se preocupou com essa empregada que, afinal, já lá nem estava a trabalhar.
O director acompanha o caixão dessa empregada até à sua terra natal para o enterrar. Os percalços são vários mas é ao encontrar-se com o filho da mulher que vai enterrar - um miúdo tão alienado dos outros como o director parece ser - que as suas emoções começam a ressurgir.
O problema com a viagem está no facto de não ser o director que é o verdadeiro ser desumano aqui. Na verdade o jornalista que o explora e à vítima do atentado terrorista ou a dona da padaria que o sacrifica em nome da reputação da fábrica são muito piores do que ele.
A sua transformação até já parecia estar a acontecer na sua vida privada, ao oferecer-se para ser um dos responsáveis pela viagem escolar da sua filha, mas o artigo no jornal engendrado pelas duas pessoas menos do que recomendáveis - já depois de um enorme esforço da parte dele para trazer à tona a verdade - obriga-o a faltar.
O director até tentou poupar um dos seus funcionários a problemas mais graves por enganar a direcção, mas isso não conta para nada no momento em que é necessário que ele parta.
É um erro que este homem seja enviado para esta função, como é um erro assumir que ele é menos do que humano só porque é solitário, pouco sociável e infeliz no trabalho.
Ele funciona em sociedade e esforça-se por fazer o melhor com todos, mesmo se isso não o motiva. Gasta dinheiro sem limites para conseguir superar a burocracia, perde a viagem da filha e foge com o caixão no momento em que vai ser enterrado, tudo para fazer chegar aquela mulher ao lugar a que pertence e dar ao filho dela uma família a que voltar.
O director começou apenas com o objectivo de se livrar de um problema e acabou por se dedicar a uma missão. Fez mais do que a padaria exigia e investiu mais do que a maioria dos seres humanos faria.
Já as restantes personagens não têm de se transformar. O fotógrafo pode seguir na viagem apenas para explorar a situação ainda mais e a dona da padaria fica em Israel descansada da vida.
Só mesmo o miúdo é que consegue aprender a chorar e a aceitar que sente como os outros.
Se isso se deve à relação com o director não é conclusivo pois esta é ténue e mal construída nos momentos que as personagens partilham.
Tentando ser uma comédia "com coração", o filme não consegue aproveitar os momentos mais propícios ao espanto, como a cedência de um tanque armado para levar o caixão até à sua morada final porque, durante uns dias, ninguém dará por falta dele.
Essa é a humanidade que valia a pena ver no filme, a superação da burocracia e o desprendimento com as consequências em nome de uma mulher que já não pode testemunhar tais atitudes.

 

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