domingo, 11 de setembro de 2011

Little Deaths, por Carlos Antunes



Título original: Little Deaths 
Realização: Sean Hogan, Andrew Parkinson e Simon Rumley 
Argumento: Sean Hogan, Andrew Parkinson e Simon Rumley 
Elenco: Scott Ainslie, Mike Anfield e James Anniballi

A tradução para inglês da expressão francesa que denomina o orgasmo feminino deita a perder toda a poesia que ela tem e não consegue sugerir nenhum sentido de mistura de sexo e violência.
Daí que, talvez, não seja de admirar que, no conjunto das três curtas-metragens que constituem o filme, apenas a última consiga explorar essa relação, enquanto as outras se limitam a utilizar o sexo como algo menos do que o pano de fundo das suas respectivas histórias.
O sexo é uma casualidade no caminho do efeito de terror quejá estavam determinados a executar.
No caso de House & Home (Sean Hogan) é uma surpresa final mal guardada que estava à espera para saltar para fora independentemente dos actos perpretados contra a rapariga recolhida na rua.
A revolta dos sem abrigo tem um acrescento de terror para lá da mera revolta social, mas é tão previsível que se denuncia a meio caminho e se torna apenas uma espera insatisfatória.
No caso de Mutant Tool (Andrew Parkinson) é uma narrativa temporalmente mesclada (e, com isso, mais confusa do que intrigante) que liga a indústria farmacêutica moderna a experiências nazis.
A fálica revelação grotesca fica-se pela punchline sem qualquer capacidade de oferecer um argumento conclusivo sobre o seu propósito. A menos, claro, que a acumulação de imagens extremas e gratuitas sem nenhuma narrativa elucidada para as sustentar seja uma conclusão por si mesma.
Bitch (Simon Rumley) faz algo em favor do filme, embora por essa altura a maioria do público se tenha desligado da experiência na sala.
A inversão de poder numa relação masoquista fomentada pelo genuíno terror a cães explora um realismo que é tanto mais cruel quanto a sua violência vem da violenta submissão a que alguém se sujeita antes de se transformar num dominador ainda mais cruel na sua maquinação racional e vingativa de como roubar a dignidade e a confiança a alguém ainda antes de lhe roubar a vida.
Só neste segmento é que a relação entre sexualidade e violência, até mais concretamente entre sexo e morte, consegue traduzir a metáfora de que o título pretende dar conta.
O projecto acaba por ser uma união de conveniência, acima de tudo, de forma a constituir a hora e meia inevitável para o lançamento em sala.
A única coisa que, verdadeiramente, pode ligar as três narrativas é um uso excessivo de filtros de cor que não chegam para criar uma atmosfera por si só.
Como conjunto Little Deaths é mau, tendo a sorte do seu segmento final ser o melhor para atenuar a reação à saída da sala.
Certamente que em DVD a experiência seria melhor, pois avisado o espectador teria saltado directamente para a meia hora final, evitando o lixo individual que ocupa o tempo até lá.


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