quinta-feira, 8 de março de 2012

Uma Doce Mentira, por Carlos Antunes


Título original: De vrais mensonges
Realização: Pierre Salvadori
Argumento: Benoît Graffin e Pierre Salvadori
Elenco: Audrey Tautou, Nathalie Baye e Sami Bouajila

Um filme de Pierre Salvadori apresentado ao público português é sempre uma ocasião de encanto e estranhamento. Encanto porque ele faz comédia de traços vincadamente franceses. Estranhamento porque são comédias de traços populares que se prestavam a agregar um público permanente para o cinema francês.
Ainda para mais quando tem como protagonista Audrey Tautou quue tem ainda o crédito da memória de Amélie (embora tal se comece a parecer com uma maldição por sistemática comparação).
Também ela protagonizava Hors de prix, uma comédia romântica que fazia muito melhor figura do que as muitas repetições americanas do género, mas suponho que nada há a fazer quando nem do remake inglês de Cible émouvante ouvimos falar por cá.
Neste caso Salvadori brinca com o falhanço amoroso em formas bem reconhecidas: um romântico embaraçado que escreve uma carta anónima, uma esposa que não supera a ideia de que o marido voltará para ela depois da mulher muito mais nova com que se juntou e uma mulher focada no seu trabalho, pouco confiante e que se aproxima da frigidez amorosa.
Eles constituirão um triângulo amoroso em que ele, um delicioso Sami Bouajila, acabará perdido nas mãos das duas mulheres, nada menos que mãe e filha.
A filha reenvia para a mãe a carta anónima que recebeu para que a mãe supere os quatros anos que leva trancada em casa abandonada e deprimida. A mãe vai fazê-lo bem demais e tornar-se atrevida depois de perceber os encantos de Bouajila muito antes da filha descobrir que fora ele a escrever-lhe.
Depois chega o final feliz e algumas resoluções demasiado conveniente (típicas do género) como aquela literal presença por detrás do pano no momento da grande conversa.
Se não é pela originalidade que a história seduz, é certamente pelo prazer com que se centra nos mal entendidos e nas farsolas para fazer pouco dos exageros românticos de quem quer ver a vida como um filme: um feliz e profundo acaso.
Essa intenção funciona bem porque as personagens não são simplistas mas antes tímidas mostras da sua própria profundidade numa situação que não lhes proporciona as melhores hipóteses de serem elas próprias.
É tudo fonte e consequência de uma eficaz comédia que não tem medo se expôr as suas próprias convenções a algum ridículo. E isso só conquista o público.




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