quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Proposta de alteração ao Óscar de Melhor Documentário tenciona institucionalizar o poder do crítico


Já não é de hoje, mas este ano na pré-lista de documentários ao Óscar notou-se a ausência flagrante de obras tidas como preferidas como Into the Abyss, Senna e The Interrupters. Um dos motivos é porque a pré-selecção dos documentários é feita por um grupo bastante limitado de membros da Academia (pertencentes ao Documentary Branch) que selecciona quinze filmes e depois 15 nomeados. Estes membros têm de visualizar todos os documentários elegíveis (em 2010 foram 101 e em 2011, 124). Outro dos motivos é que muitos destes documentários são considerados elegíveis mesmo tendo sido criados directamente para televisão ou para museus e festivais e que mesmo sem distribuição comercial conseguem ser exibidos numa sala de cinema para se poderem candidatar. 

Michael Moore - que popularizou os documentários entre o grande público, especialmente ao ganhar o Óscar de Melhor Documentário com Bowling for Columbine (2002) - é o principal impulsionador de uma mudança que promete alterar o panorama actual. A ideia é que já para os Óscares 2013 se possam candidatar apenas documentários que tenham recebido crítica num dos dois grandes jornais norte-americanos (The New York Times e Los Angeles Times). Esta ideia pretende diminuir a lista de candidatos e dar primazia a documentários criados propositadamente para cinema e poderá provocar mudanças por exemplo no caso de documentários exibidos no Docuweeks de onde saíram vários filmes que se candidataram aos Óscares, como o caso de Semper Fi: Always Faithful (que surge na lista de 15 pré-nomeados deste ano). Normalmente os filmes exibidos neste âmbitos, raras vezes recebem crítica num destes jornais. Como reverso da medalha, temos o facto de os candidatos elegíveis fiquem reduzidos aos documentários de realizadores mais proeminentes ou com mais conhecimento e dinheiro na indústria. Outros argumentam que as novas regras vão contra a verdadeira natureza dos documentaristas, que resistem apesar das dificuldades mesmo abordando assuntos que não são apelativos comercialmente

Neste momento, o LA Times escreve críticas a praticamente todos os filmes em exibição comercial durante uma semana em Los Angeles e o New York Times actua da mesma forma, em relação a filmes estreados em Nova Iorque e Los Angeles, abrindo excepções por vezes em documentários estreados em museu. Esta proposta de alteração não especifica a dimensão da crítica ou se precisa de ser incluída na versão impressa do jornal ou apenas online. Críticas realizadas por críticos de televisão não serão consideradas.

Qual a vossa opinião sobre esta regra que quase institucionaliza o poder do crítico, especialmente numa altura em que grandes jornais internacionais começam a ver o seu futuro ameaçado?

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