quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Bem-vindo a Cedar Rapids, por Carlos Antunes


Título original: Cedar Rapids
Realização: Miguel Arteta
Argumento: Phil Johnston
Elenco: Ed Helms, John C. Reilly, Anne Heche, Isiah Whitlock Jr. e Sigourney Weaver
Editora: Pris Audiovisuais

Para Tim Lippe a convenção de vendedores de seguros em Cedar Rapids - uma pequena cidad, ainda assim maior do que aquela de onde ele é originário - é o mesmo antro de perdição que Las Vegas é para o Wolf Pack d'A Ressaca (só para dar um exemplo que, convenientemente, conta com Ed Helms).
À escala da América interior este é o retrato da perda de inocência que afecta o rumo de um país que quer ser enorme mas ainda não apagou o espírito de aldeia no seu cerne.
Lippe nunca saiu da sua zona de conforto, nunca viajou de avião e nunca fez nada de remotamente interessante.
Lippe é, afinal de contas, o rapazinho que cresceu mas não amadureceu. Um rapazinho que perdeu a virgindade para a sua primeira paixão, a sua professora de liceu agora divorciada e em busca de diversão. Para ele, tal relação é já um compromisso por mais que ela tente fazê-lo ver o contrário.
Os três veteranos que encontra por tais andanças dão-lhe a conhecer os prazeres mais banais - karaoke, nadar em roupa interior, dançar num casamento de desconhecidos - que para ele são já extravagâncias.
O caminho só se torna mais sórdido: adultério, corrupção e drogas. Mas os perigosos personagens que o desencaminharam são as boas pessoas que o salvam.
Lippe reergue-se e, embora não possa alguma vez ser um Mr. Smith, purifica o ambiente em que se movem aqueles que deveriam ser anjos da guarda das pessoas a quem vendem seguros. E fá-lo invocando a fidelidade das cidades pequenas onde ainda se confia no carácter e onde o poder não tem força.
O tema não tem nada de tão sério que o filme não consiga dizer através de um humor desenfreado, mas o quarteto que se vê na fotografia que acompanha esta crítica é uma mais valia subtil e transformadora.
Anne Heche é uma senhora cheia de classe até no meio de dois homens a fazerem de idiotas, Ed Helms tem sempre muito para revelar como comediante, Isia Whitlock Jr. não seja por mais nada recorda-se pela imitação (um pouco irónica, se pensarmos bem nisso) de Omar Little e John C. Reilly tem o seu papel mais liberto e tresloucado de dois anos que lhe correram muito bem no grande ecrã.
Com eles Miguel Arteta voltou a levar por diante uma comédia sobre o passar à vida adulta pelo mais tortuoso dos caminhos.
Em Youth in Revolt era o existencialismo francês de famílias a viver em parques de roulottes. Aqui é a queda e o reerguer de um homem bom em modo acelerado num fim de semana só.
Com Miguel Arteta, a pequena e invisível América está condenada a salvar-se. E de erro tremendo em erro tremendo, chegará glorificada à idade adulta.




Extras

De entre os Extras, os breves documentários Tweaking in the USA e Wedding Belles - Furando um casamento de lésbicas são o que de mais interessante temos direito.
Dando uma visão da execução do filme com ligação a algumas das hipocrisias sociais que ele vai criticando no momento da derrocada moral do seu protagonista
Os restantes extras são Cenas eliminadas, Gag Reel, Mike O'Malley - Urban Clogger e o falso (mas assustadoramente credível) Anúncio da Top Notch.


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