quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O Último Voo, por Tiago Ramos



Título original: Le dernier vol (2009)
Realização: Karim Dridi

Existe algum potencial na história verídica do piloto britânico Bill Lancaster desaparecido no deserto do Sahara, nem que seja pelo carácter romântico da mesma. A dificuldade inicial porém seria recriar essa história no cinema sem abusar dos lugares comuns dos filmes do género, algo que Le dernier vol acaba por conseguir ao não abusar da comoção e sentimentalismo e explorando a coragem e o desespero de duas personagens em face a adversidades.

No entanto, face a essa potencialidade o filme acaba por perder-se no argumento demasiado vazio que não se foca no essencial, perdendo tempo com uma rebelião tuaregue que, a ser explorada, garantiria momentos interessantes, mas que da forma como foi usada serve apenas como uma mera contextualização histórica. Do mesmo modo como a câmara de Karim Dridi falha em captar a essência amedrontadora e inóspita do deserto, recriando um efeito contrário e totalmente oposto à intenção narrativa: por vezes, aquele mesmo deserto parece demasiadamente convidativo, como se fosse um postal turístico e não um inimigo comum. Esse deserto merecia ter recebido o tratamento de uma personagem singular, mas o realizador prefere, a dada altura, deslizar a narrativa para algo semelhante a uma versão francesa de The English Patient (1996). Valha-nos porém a química e o reencontro de Marion Cotillard e Guillaume Canet à frente das câmaras.


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