sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Hanna, por Carlos Antunes


Título original: Hanna
Realização: Joe Wright
Argumento: Seth Lochhead e David Farr
Editora: Pris Audiovisuais

Hanna transmite uma sensação esquizóide que começa logo na sua macroestrutura que, no bloco central, se desvia quase por completo da acção para a comédia de traços adolescentes.
A própria definição da identidade da história sofre desse mal, tentando ser um thriller consciencioso, um conto de fadas em que o mundo moderno faz o papel da floresta desconhecida e perigosa, uma reflexão sobre o antagonizante grau de maturidade mostrado por homens e mulheres e um retrato da passagem à vida adulta polarizado entre violência e inocência extremas. Nem todas essas intenções combinam e mesmo as que combinam raramente são usadas em conjunto
Tais cisões reflectem-se visualmente naquilo que parece mais uma aglutinação de cenas - algumas assumidamente bem concebidas - do que uma concepção coerente do princípio (muito seco) ao fim (recheado de simbolismos e cenários irrealistas).
Algo patente naquela que será a cena mais recordada do filme (ou, pelo menos, a mais sublinhada), passada nos túneis da estrutura onde Hanna escapa. A cena mergulha numa ciativa concepção labiríntica que vai adicionando uma vertigem psicadélica à força da intermitência das luzes e da montagem que transformam aqueles minutos num (mau) videoclip que se submete à função ilustrativa da música.
Noutras cenas há uma justa integração da música, não por acaso cenas em que os sons sugerem ambientes - concepções infantis da realidade em grande parte - e são intervalados com silêncios em que a psicologia activa das personagens complementa os sentimentos que a música tem de transmitir.
Como tudo o resto, a interessante banda sonora dos Chemical Brothers tem de se passear por extremos, com tanto de hiperactividade como de expectativa sonoras.
A banda sonora sujeita-se à mesma busca de ritmo e sintonia que permitam ao filme explicar como funciona em conjunto o realismo encorpado do thriller retro-futurista, o afecto do núcleo familiar casualmente constituído em viagem e os elementos mágicos que sugerem o confronto o confronto entre a jovem princesa e a velha bruxa em formato de acção actual.
O realizador nunca é iluminado para resolver esse elemento essencial de coerência, pelo que a memória do filme se transforma numa procura de construção própria de uma estrutura de camadas em que não se encontra um núcleo mas em que todas elas parecem, na verdade, dispersarem-se para o exterior.
Só dois elementos do filmes estão perfeitos. As sugestões calmas de placidez e terror de, respectivamente, Saoirse Ronan e Tom Hollander são fascinantes. Deixassem-nos a sós, presa e perseguidor - sem certezas de qual é o papel de cada um - e teríamos um filme inesquecível.




Extras

O Comentário com o Realizador é, certamente, a peça mais importante entre os extras. A abertura com que Joe Wright fala das suas intenções é notável porque o deixa exposto tanto a admiração como a frustação. Admiração pelo que tentou e frustação por ver o grau do seu falhanço ao mesmo tempo.
Anatomia de uma Cena: The Escape from Camp G é breve mas elucidativo na forma como foi montada a cena mais impactante do filme (embora não a mais interessante).
Um Final Alternativo que pouca diferença faria mas que ficou, de facto, melhor fora da montagem final, a par de Cenas Eliminadas cujo efeito é o mesmo, complementam a edição.


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