segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A Moral Conjugal, por Tiago Ramos


Título original: A Moral Conjugal (2011)
Realização: Artur Serra Araújo
Argumento: Artur Serra Araújo
Elenco: José Wallenstein, Catarina WallensteinSão José Correia, Maria João Bastos e Dinarte Branco

Estreado no Fantasporto 2012, A Moral Conjugal é um curioso objecto inserido no actual cinema português. Detentor de um estilo de linguagem (tanto a nível narrativo, como estético) mais ligeiro do que habitualmente temos oportunidade de ver no raro lote de filmes nacionais que chegam às salas de cinema, tem um premissa divertida e simpática. Não que isso lhe valha por si só, já que não é isento de problemas maiores - esses mesmo que o impedem de ser um objecto mais consistente do que é na realidade. O primeiro impasse com que facilmente nos deparamos tem que ver com as suas intenções. Veja-se a sua cena inicial num tom aparentemente sério, com diálogos e interpretações forçadas, a tender para ridículo (especialmente evidente nas interacções entre a personagem de Dinarte Branco e as de Maria João Bastos e São José Correia). A inusitada e quase bizarra situação coloca-nos na dúvida se parte da intenção da acção será propositada ou não, colocando a dúvida sobre o que estamos a ver. Será um drama inevitavelmente tão bizarro que tende para uma indesejada comédia ou esse tom é propositadamente criado para nos preparar para a sequência de humor negro que surge na segunda parte da trama?

O espectador fica com dúvidas durante grande parte da narrativa, o que o impede de se relacionar tanto com as personagens como com a acção. Felizmente, na segunda metade, a narrativa ganha um rumo interessante que acaba por se expor como uma comédia inusitada com um elevado teor de humor negro (já evidente na sua primeira longa-metragem Suicídio Encomendado). Centrando a trama na dependência emocional, o filme acaba por desenvolver as personagens para aquilo que se torna numa comédia de vingança, que nunca seria possível sem a interacção entre os actores São José Correia, José Wallenstein e Catarina Wallenstein que tomam as rédeas da acção e a encaminham para o tom mais correcto e que deveria ter existido desde o primeiro minuto.

Se esse tom de comédia negra acaba por ser bem aproveitada na sua fase final, não deixa de ser verdade também que essa história deveria ser acompanhada por uma realização e fotografia diferentes, que se apresenta com enquadramentos totalmente desinspirados e demasiado fechados numa visão restrita e que condiciona o espectador. Não há porém porque não destacar A Moral Conjugal com um simpático, inusitado e divertido filme com uma visão invulgar e marginal ao habitual estereótipo do cinema português.


Classificação:

Sem comentários:

Enviar um comentário