segunda-feira, 14 de maio de 2012

Os Vingadores, por Carlos Antunes


Título original: The Avengers
Realização: Joss Whedon
Argumento: Joss Whedon

Durante o seu tempo de projecção, The Avengers é um divertimento eficaz e inofensivo. Olhado à saída, contra os outros filmes que a Marvel vem produzindo, é formulaico e desapontante.
Não se afastando do estilo que encontrou para Iron Man (e Thor e Captain America: The First Avenger) aproxima-se, cada vez mais, das memórias de um puro buddy cop movie como se faziam na década de 1980.
Nesse aspecto, esta comédia de acção tem o mérito de conseguir equilibrar o protagonismo das suas muitas figuras, sobretudo integrando duas escalas tão distintas quanto são o Deus do Trovão e uma espia russa.
O âmbito humano, quando tem espaço para aparecer nas personagens apesar dos seus poderes, é bem conseguido, mais por recuperação das personalidades que já se destacavam nos filmes individuais. Robert Downey Jr. como Tony Stark é o dono das tiradas mais provocadoras e Tom Hiddleston como Loki empresta verdadeira composição a um vilão que, de outra forma, quase conseguiriam reduzir a uma figura "de papelão".
Além deles, só Scarlett Johansson mostra tanto de talento como de estilo na variação da personalidade da sua personagem, de assustada a dominante, diferenciando a necessidade de parecer fraca do momento em que tal é resultado da sua personagem não se equiparar, em poder, às restantes.
O que falta ao filme é uma construção dramática em torno das personagens e, sobretudo, da sua constituição como grupo que ultrapasse as necessidade imediatas - um motivo para se unirem e "vingarem" algo, por exemplo. Ao fim de mais de duas horas de filme não há senão traços ténues de personalidades activas e relevantes, mas há uma certeza sobre o facto de esperarem que se aceite que estas personagens foram definidas em filmes anteriores e que o grupo será verdadeiramente definido no filme seguinte. Por outras palavras, que o público tem de ser um fiel pagante para ser parte entendida do entusiasmo geral.
Daqui a pouco voltarei a falar do filme que está para vir, até pela pertinência argumentativa do truque que a Marvel usa sempre para lançar a próxima estreia, mas primeiro há que falar do que ficou para trás. Ou lá falta.
Apesar de serem, num plano de pequenas conexões, filmes em contínuo, a sua narrativa falha uma série de passos necessários para definir as personagens e explicar elementos que acabam por ser essenciais à acção.
Faltou um terceiro filme de Hulk para sabermos como este ganhou domínio inteligente sobre a sua transformação; um filme dedicado a Loki para saber como encontrou e porque necessita dos seus aliados; e um filme do duo Hawkeye-Black Widow para conhecermos a forte relação que já tinham um com o outro ao chegarem à equipa. Estes são os exemplos prementes entre um conjunto de vários filmes que ficaram por fazer como verdadeiros prelúdios individuais dedicados em exclusivo a encaminhar personagens e público em direcção ao "Assemble".
A causa principal disto é o facto dos filmes Marvel serem usados em função dos restantes mas nunca pensados como um todo.
Isto vê-se, igualmente, no lançamento do tal próximo filme da Casa das Ideias (e, eventualmente, dos próprios Vingadores) que mostra mais uma raça extra-terrestre a caminho de invadir a Terra, o que faz prever um filme em tudo igual a este, ou seja, a caminhar para um terceiro acto pobre mas espalhafatoso, como o já tinham sido em filmes anteriores.
Um terceiro acto, ainda para mais, desligado dos restantes que sugeriam ressonâncias com a II Guerra Mundial ou a política americana perante vários conflitos ao longo das últimas décadas.
Um terceiro acto que nos atira para o meio de um combate citadino entre heróis e extra-terrestres - reminiscente de tantas cenas iguais, nem que seja o recente Transformers: Dark of the Moon - e com isso ridiculariza o vilão tirânico e impositivo que Loki conseguia ser (até para ser um oponente capaz de sustentar a necessidade de tão forte equipa).
Ridiculariza-o tanto quanto a cena - a mais aclamada pela reacção do público - em que o Hulk lhe aplica um golpe saído de Tom & Jerry, num sinal que a obsessão com o humor mina qualquer base mais sólida para as personagens dos filmes Marvel.
Uma base que, como os leitores dos comics sabem (apreciem ou não), existe no embate das personalidades do Homem de Ferro e do Capitão América que poderia vir a definir a liderança e o rumo da equipa e de todo o universo destes super-heróis. Se um único filme nunca será suficiente para contar algo tão complexo, o sucesso comercial tal como pensado até aqui evitará que venha a haver uma história que ultrapasse o fulcro de curto prazo - e, com isso, atinja patamares dos quais, independentemente de outras considerações críticas, os Batman de Christopher Nolan se têm aproximado.
Joss Whedon consegue preservar as costuras de um filme demasiado carregado e sem alicerces sólidos. Mas por mais que eu queira elogiar o divertimento isolado que ele fez, a realidade que torna o filme numa engrenagem (importante, mas uma engrenagem ainda assim) de uma enorme máquina de produção leva a que haja uma dureza para com um modelo caminhando a passos largos para o esgotamento. Mesmo se talentos irreverentes, ocasionalmente, venham adiá-lo.


11 comentários:

  1. exatamente a mesma nota que dei! e em quase tudo tenho de concordar! numa palavra: chato!

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  2. Discordo completamente. Um ótimo filme de ação e aventura. Um verdadeiro Blockbuster. Nota máxima.

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  3. O Loki é o deus da trapaça é um vilão que preza pela manipulação e mentira. É poderoso qb. Ao pé do Thor em combate perde todos os dias, ao pé do hulk também.
    A cena mencionada poderá ridicularizar o vilão, mas não é de todo idiota de acontecer. Fisicamente o Loki é muito pouco para o Hulk, a sua arte é outra e por isso acho que nenhum fã de comics achou a cena estranha ou rídicula.

    Em relação à informação que ficou por dizer. Não a senti nunca e claro que coisas vêm de trás, dos outros filmes, mas não preciso de um filme sobre a Widow e o Hawkeye para perceber que são próximos, etc. Apenas no Hulk é que as coisas podem complicar e cada um faz a sua leitura, ou simplesmente é um erro de argumento ele no fim ajudar os bons. A verdade é que não lhe dou grande importância, é como na BD, o Hulk tem algumas noções e se o planeta está a ser atacado...

    O Banner não tem controlo sobre o hulk, mas a transformação é algo relativamente fácil de provocar, principalmente quando o corpo se sente ameaçado, por isso é que o Banner nunca se consegue suicidar. Quando dispara a bala na boca (como ele diz) a transformação é imediata e o Hulk cura-se de quase tudo. Já no filme do Norton ele se atira de um helicóptero em humano e levanta-se em hulk.

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  4. Loot, faço-te apenas ver que sou fã da BD e que achei a cena estranha.
    Havia muitas maneiras de menorizar o poder do Loki sem o ridicularizar (lembras-te do pontapé que o Hulk ao Blonsky no filme do Louis Leterrier?).
    Além disso, o Loki está em poder do Cubo Cósmico, um artefacto que atinge poderes auto-sustentáveis a um nível consciente e ilimitado. Isso não é suficiente para o tornar num vilão equiparável à equipa dos Vingadores sem precisar de abrir um portal aos ETs?

    Quanto às back stories, fazem muita falta.
    Que andou o Cap a fazer num mundo que não compreende (além de dar murros em sacos de boxe, claro)?
    Como é que Tony Stark chegou à conclusão que é boa ideia criar um edifício auto-sustentável em vez de continuar a ser o individualista arrogante de sempre (além desse prédio servir, no final do filme, para avisar da sequela inevitável...)?
    Como é que o Thor regressa tão facilmente à Terra se tinha destruído a Bifröst e isolando-se em Asgard? (E se podia, afinal, dar com o paradeiro do irmão, porque não o perseguiu às paragens longe da Terra?)

    E quanto ao Banner, é o caso mais grave de falta de informação.
    A dúvida sobre o seu actual estado tem sido levantado por muitas pessoas com quem tenho falado, fãs ou não da BD.

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    1. Não digo que o filme não beneficie de maior contexto, há por exemplo cenas cortadas sobre o Cap explicando o que dizes. Porém, não acho que estejam em falta para a compreensão do filme, apenas lhe darão riqueza. Porque todos percebemos que o Cap está deslocado, pelas referências que não entende e pelas memórias e bocas.

      O Tony vem em seguimento dos filmes anteriores, bate certo o prédio com os seus novos ideais.

      O caso do Thor também é explicado como já disse o Armindo. Odin usou poderes negros para o fazer regressar à Terra. É numa frase apenas que tal se menciona, se não se apanha escapa, mas está lá.

      Quanto ao Hulk, penso que vem em linha com o actual da Marvel. Cada vez mais está consolidado que o Hulk em termos físicos é a maior besta da Marvel, leia-se Planet hulk e World War Hulk (aquela luta com o Sentry é uma coisa monstruosa). Claro que será a personagem à qual apontarão mais coisas, daí ter dito que percebo as várias questões colocadas, mas a mim não me incomodou e adorei a representação. Escrevo isto para trocar umas opiniões apenas isso :)

      Quanto ao uso do cubo mágico tens razão. Depreende-se que este Loki não tem o conhecimento para o usar na sua íntegra ou que fez um acordo quando andou perdido e que agora tem de o honrar. Não sei, sei apenas que o Loki não é um Thanos e o cubo nas mãos deste, como é citado, dar-lhe-á galáxias. também não sou um grande conhecedor do cubo se fosse a infinite gauntlet era outra história.

      Quanto ao filme, eu gostei muito, pode não ser perfeito mas toda aquela diversão da BD senti-a em live action. O humor no ponto, o Loki a querer libertar-nos de liberdade é excepcional. E nisto concordo muito Loki nas mãos de outro actor sim podia cair num ridículo pavoroso. Tom Hiddlestone é muito importante aqui.

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  5. Ò Carlos Antunes, abriste aqui conversa... eheheh!
    A tua review tem o seu fundamento (porque articulas as tuas razões) mas não alinho inteiramente por tudo isso. E para mim Avengers é um triunfo maior no género: tornaram possível o impossível!
    É um filme que, gostando, pede para se ver segunda vez...

    Sobre a narrativa... eu achei-a suculenta. E se formos a pensar bem, é tão repleta de coisas que consegue colocar muitos factos em marcha não só a servir o filme como até mesmo em situação extra-Avengers. O caso do Hawkeye e da Black Widow, não precisava de rebuscarem mais o caso deles, quando eles mesmo o referem e bem, contudo serve para projectar futuras incursões, talvez em filmes separados (eu gostava que fosse um só sobre a SHIELD).

    Sobre o Hulk... eu senti que o Joss Whedon, experiente em banda-desenhada, pretendeu levar a limites as acções do Hulk, que continua um brutamontes sim, tal como uma besta ameaçada. Mas isso nunca impediu o Hulk de ter o seu próprio raciocínio e de fazer julgamentos à Hulk. Vimos isso perfeitamente no filme de Ang Lee (o tal que criticou há uns anos atrás - antes do Split Screen - por o Hulk não ter tamanhos consistentes... lembra-se?). O Hulk sempre distinguiu ameaças... e o que deve fazer. E nada lhe é mais libertador que a inteligência da palavra única que o lider-estratega Capitão América lhe diz... Hulk é o Hulk!
    O que Hulk fez ao Loki, é tão inesperado como lógico... ele insulta o Hulk e este trata-o como um insecto. Eficaz e com grande efeito.

    Por falar no Loki... das BDs antiguinhas que li, ele era o tipo de vilão, com tudo maquiavélicamente pensado, mas sempre com sentido de gradiloquência. Ele quer humilhar e que muita gente veja isso, mas nunca cede a actos prácticos (viu-se isso em "Thor", ele podia ter acabado com o pai e ser verdadeiramente rei mas ele precisa de público a dar-lhe vénias de poder. No Avengers, o propósito dele foi esse mesmo... enquanto que dissimuladamente atingia grandemente o semi-irmão.

    Por exemplo, a questão mais levantada costuma ser essa de como conseguiu, então, o Thor regressar á Terra sem a "ponte do arco-iris" (ok, a máquina Bifrost). É o próprio Loki em Avengers quem dá resposta a isso, apontando até o "como" e "quem" (Odin, que gastou imensas pedras de magia negra para enviar Thor à Terra - numa só frase de Loki ficou logo esclarecido para mim). E Loki já havia demonstrado em "Thor" que havia outras formas de passar entre mundos sem a Bifrost...

    Muita gente diz (criticas) apontam que Avengers é um filme desmiolado... eu até acho o contrário. É tão complexo mas tratado para parecer simples de apreender tudo, sendo que teria a obrigação de conseguir funcionar também perante quem não viu a timeline vingadores nos sucessivos filmes Marvel, que perante quem os viu percebe que há um emaranhado de arcos narrativos que se entrelaçam finalmente no Avengers. Nunca ninguém o fez em cinema. A Marvel conseguiu-o. E tenho a certeza que este enorme feito colocou um problema interno na DC Comics...

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  6. "Faltou um terceiro filme de Hulk para sabermos como este ganhou domínio inteligente sobre a sua transformação"

    A prática do auto-controle pois! Ligeiramente furioso está sempre ele. Basta-lhe permitir-se a si mesmo se descontrolar um pouco... e fica Hulk.
    Já agora a cena da tentativa de suicidio de Banner está nas cenas extras do 2º Hulk...

    Ainda assim, uma das conversas mais admiráveis de Avengers, é de Tony Stark a Bruce Banner, quando ele afirma que o Hulk sempre esteve dentro dele... incluindo o facto de ter sido já o próprio Hulk que o salvou da extrema radiação gamma (situação que remete inteiramente a todo o 1º Hulk... e aos feitos do Banner "pai").

    No meu "antigamente", o Hulk teve uma fase em que a sua transformação mantinha a mente do Banner e todo o seu intelecto. Gradualmente, me está a parecer que um próximo filme do Hulk, o 3º, terá algum apontamento assim.

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  7. ArmPauloFer, realmente, ao fim de uns anos de me "queimar", a conversa em comentários deixou de ser do meu interesse.
    Mas como aqui há racionalidade e conhecimento que me pode corrigir se estiver enganado, volto a ter prazer nisso.

    Antes de lhe responder detalhadamente, queria só dizer que acho que não fiz a crítica ao Hulk de Ang Lee, apenas ao do Leterrier (mas posso ter-me esquecido).
    E não me lembro de ter falado mal do tamanho variável, mas se o fiz apenas posso dizer que hoje em dia esse detalhe me interessaria cada vez menos.

    E obrigado por ires lendo o raio dos textos que vou para aqui lançando, mesmo ao fim de tantos anos.
    Já não é nada mau.

    Abraço!

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    1. De nada Carlos Antunes, vou acompanhando sempre que posso. Imensas vezes vê filmes que só vejo, alguns, muito tempo depois (e nem sempre acontece voltarmos atrás para procurar onde foi que se leu a critica que deu vontade de ver os filmes...).
      Sobre este caso dos Hulks... sim foi realmente o Pedro Pacheco quem referiu isso na review dele do segundo Hulk... mas como logo a seguir publicaste outra ao mesmo filme (e comentei as duas, lá no Hotvnews)... a memória disse-me que foi só uma... e que era tua. Sorry!
      Estás perdoado, eheheheh!

      Sobre o achares que te queimas... quando te encontro por aí (não são muitas as vezes) não me parece. Certa vez não correu bem lá naquele top sobre adaptações a filmes da BD (mas não super-heroís) mas nada vi de mal... são argumentos e todos têm, mesmo que diferentes.

      Vá... continua lá o bom trabalho... há sempre quem vá lendo.

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    2. Ah, esse top! Sim, estou lembrado.
      Continuo a afirmar que era um top com um tema mas sem um foco...
      Mas aí (e na periferia do "aí") ficaram demonstradas algumas coisas menos simpáticas que continuam a fazer-me preferir o silêncio.

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