domingo, 13 de maio de 2012

Rafa, por Carlos Antunes


Título original: Rafa
Realização: João Salaviza
Argumento: João Salaviza
Elenco: Rodrigo Perdigão, Joana de Verona e Nuno Bernardo

Rafa mostra João Salaviza a voltar aos temas que o motivaram para Arena, construindo a história em torno de um isolamento sem possibilidades à vista.
A prisão ressurge como a causa de uma solidão inconformada que despoleta a masculinidade dos protagonistas.
Uma masculinidade juvenil que despoleta em Rafa uma atitude de afronta manietada por circunstâncias que o ultrapassam.
Rafa responde aos polícias com a raiva possível, sabendo que não tem hipóteses de vencer aquela pequena batalha. Relembrando Arena, vemos essa mesma provocação “de peito feito” mas inconsequente nos momentos em que Mauro atira a bicicleta do varandim ou em que fecha o miúdo na bagageira. Atitudes dominantes que só têm efeito naquele momento.
Afrontar os polícias no interior da sala de interrogatório é o menor dos seus feitos, pois além de ser o mais vazio de propósito, não tem a dimensão da travessia do rio que ele faz.
A única hipótese de Rafa é a de tentar ser o adulto – e o homem da casa – num cenário em que a mãe precisa de ser libertada.
Mas há uma falta de experiência que não lhe permite superar-se de imediato, uma dicotomia irreconciliável entre o adulto que precisa de ser e a criança que não consegue evitar ser que o leva a roubar dinheiro de umas mochilas imediatamente antes de entrar na esquadra.
A sua própria figura fala dessa captação do momento em que a passagem de uma idade à outra está a acontecer: o capuz na cabeça tentando imitar uma pose de rebeldia adolescente, mas num tamanho que já lhe está pequeno demais.
O rompimento das limitações da sua idade acaba por se cumprir no final, não tanto pelo que ele fez mas pelo reconhecimento do valor dessa tentativa. A irmã confia-lhe o sobrinho quando chega a sua vez de tentar resolver a situação da mãe deles.
Reconhece-lhe assim, sem saber o que ele fez por Lisboa sozinho, que a sua atitude de se colocar em movimento em vez de continuar à espera tem o valor de uma maturidade recém descoberta.
Este final não é concludente, mas está mais perto de desaguar precisamente no ponto certo, dado que Salaviza escreveu, desta vez, uma história onde se actua perante o tempo que passa em vez de meramente o contemplar.
Esta curta permanece na expectativa do resto da história que teria se fosse uma longa-metragem, o que vale a pena reconhecer como um excelente aliciante para o público que quer ver-se perante outras obras de Salaviza. Mas é, também, insatisfatório ver a falta de conclusão num formato que exige uma estrutura completa, como qualquer outro mais longo.
Quando a anunciada longa-metragem do autor estiver pronta a ser vista, teremos a noção se isso lhe permite chegar mais longe narrativamente, tão longe quanto o seu investimento na solidez e no detalhe da composição já o leva como realizador.




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