Título original: 360 (2011)
Realização: Fernando MeirellesArgumento: Peter Morgan
Elenco: Rachel Weisz, Jude Law, Anthony Hopkins, Lucia Siposová, Gabriela Marcinkova, Maria Flor, Ben Foster e Jamel Debbouze
Há na cena inicial de 360 talento e expectativa suficientes para introduzir o espectador com ansiedade na trama. É com um olhar desinspirado e cru aquele que o realizador brasileiro Fernando Meirelles num interessante microcosmos das relações humanas com potencial para criar um trabalho seco e frio. E de facto, havendo muitos defeitos no trabalho do cineasta à frente deste filme (e que os há muitos), não será de menosprezar a abordagem compete e funcionalmente visual que o realizador utiliza, bem equilibrada com uma delicada fotografia e o uso dos split screens através de uma montagem criativa, para transmitir o chamado efeito borboleta. Se o conceito sagazmente recriado com uma interessante e constante utilização de espelhos começa, logo de início, a dar um tom rico à narrativa, não permanece contudo senão uma enorme desilusão à medida que nos adensamos na história. Se bem que o problema é precisamente esse, a impossibilidade do espectador se conectar à história, devido ao tom superficial que esta é abordada. Se há defeitos no trabalho de Fernando Meirelles em 360, eles são largamente provocados pelo argumento de Peter Morgan, insonso e cheio de lugares-comuns que nos faz de imediato recordar outro trabalho seu igualmente semelhante (alguém se lembra de Hereafter?) e que repete exactamente os mesmos problemas. Na verdade, a construção narrativa é tão fragmentada que é impossível haver uma conexão às personagens ou tampouco assistirmos ao seu crescimento. Falta um toque homogéneo à narrativa que mais parece uma sucessão de pequenas histórias que são fracamente conectadas (algumas delas nem chegam a ter ligação) e que resultam numa sucessão de clichés e num terrível subaproveitamento da capacidade dos actores.
Vemos por exemplo, o caso das personagens de Jude Law e Rachel Weisz (cuja história abre e encerra o filme), cujo talento é inegável, mas com as capacidades tão subvalorizadas pelo argumento, a favor de uma história tão banal e tão fraca, que se revela verdadeiramente inútil para compor o arco e o mosaico que se esperava. Veja-se por exemplo, a interessante história do aeroporto, envolvendo um Anthony Hopkins (com um riquíssimo monólogo a seu cargo) ou um talentoso Ben Foster, com uma personagem absolutamente rica e merecedora de grande destaque (que poderia permitir um trabalho digno de uma nomeação aos Óscares), mas que acaba renegada para uns míseros dez minutos. E isto é especialmente grave quando se poderiam abdicar de outras histórias menos ricas e absolutamente sem sentido para a narrativa, para permitir às restantes florescerem. O ponto positivo talvez seja a história protagonizada pelas checoslovacas Lucia Siposová e Gabriela Marcinkova, uma das mais ricas e interessantes do filme e cujo talento para a representação é inegável.
O que temos em mãos então? Uma história artificial, sem alma, provavelmente um dos argumentos mais pobres de Peter Morgan, que com algum esforço Fernando Meirelles tenta tomar as rédeas, sem porém conseguir. Há um excesso de ambição que torna um trabalho potencialmente excelente numa manta de retalhos, superficial e com pouca ligação entre si. Uma pena.
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