Título original: Hope Springs
Realização: David Frankel
Argumento: Vanessa Taylor
Poderá estar para breve o momento em que o sexo na terceira idade se torne uma trivialidade entre a representação cinematográfica americana, embora ainda muito longe da desinibição de Wolke 9.
Mas por entre a composição pudica lá se revelam pequenos momentos em que o sexo - como parte inerente de uma sexualidade já abordada - se mostra ao público como elemento definidor das personagens do filme.
Ainda há pouco isso se tornava parte integrante - e feliz - do processo de envelhecimento em Late Bloomers e agora encaramos o papel oposto neste Hope Springs.
Trata-se de mostrar o desgaste que trinta e um anos de casamento provocam na vida partilhada entre o casal.
A maneira como os corpos se afastam um do outro em definitivo (quartos separados, falta do mais banal contacto físico...) e a mente aceita essa situação com justificações tolas (apneia do sono, conforto do cônjuge...) que parecem ir ganhando uma lógica que serve apenas para acalmar a própria ânsia que elas causam.
Em desespero, é a mulher do casal quem assume o papel principal na recuperação da vida sexual do casal, pagando a terapia para ambos e superando um estigma que as velhas relações têm na relação dominante do homem por via do dinheiro.
A partir daí começa a traçar-se um retrato que vai vilipendiando o comportamento do homem à medida que este se opõem aos esforços da mulher e do terapeuta.
Dentro do consultório, por exemplo, a maneira como ambos são dispostos indica-nos isso mesmo, pois sentados no mesmo sofá conseguem simbolizar o bom e o mau da relação com ela banhada por luz natural e ele envolto na sombra da outra ponta do sofá.
Os papéis superam o arquétipo porque o diálogo sobre sexo vem mostrar o quanto ambas as partes falharam por viverem constragidas numa América que, na sua maior parte, continuou a remeter os relatórios Kinsey para a obscuridade.
Descobrimos que ele não sabe como falar com ela sobre sexo e que ela nem sequer sabe pensar sobre sexo. Pressentimos a realidade social de uma época passada a impôr-se a uma realidade pessoal - de inevitável rejeição mútua - e a tornar pertinente a vida sexual deste personagens mais velhos.
Com isso interfer o problema de Hope Springs ter de terminar assegurando o epíteto de comédia romântica.
Isso obriga o filme a dar o salto para o final feliz com um acto isolado que endireita a relação de Kay e Arnold.
Tal acto deixa por analisar as causas mais profundas dos problemas que tocam os dois membros do casal. Ficam a pairar os temas que realmente podem expressar a complexidade de uma sexualidade calada e afastada das representações ficcionais de grande público.
Os eventuais traumas - os olhos fechados durante o acto sexual ou a incapacidade de tentar sexo oral - que Tommy Lee Jones e Meryl Streep se empenham em fazer transparecer em credíveis interpretações com o toque ficcional que faz o público interessar-se mais atentamente pelas personagens e a sua situação - como os dois magníficos e empenhados actores que são - ficam para trás num ápice quando o filme se vê a pisar a meta de tempo que julga que o público consegue suportar.
Isso leva a que o prometedor drama fique apagado por uma cena tão caricata quanto um acto ilícito falhado dentro de uma sala de cinema. Caricata porque o seu humor só vem de quem a interpreta e da idade que tem e não de uma verdadeira escrita cómica.
Ao contrário de Steve Carell que fez desaparecer a sua exuberância cómica para servir a componente dramática de ponderada mas decisiva influência na abertura da mentalidade do casal, o filme não soube deixar o tom de comédia ir-se reduzindo à tristeza da desadequação do formato do "velho casamento" perante a permanente potencial relação biológica dos seres humanos, que era o tema essencial do filme.
Terapia a Dois: 3*
ResponderEliminarO melhor do filme é o clima de amor, amizade e compaixão existente no casal protagonista mas não mais do que isso.
Cumprimentos, Frederico Daniel.