quinta-feira, 1 de novembro de 2012

BFI London Film Festival 2012, por Leonor Pinho


Voltamos a convidar um autor externo para trabalhar como nosso correspondente no estrangeiro. Desta vez foi Leonor Pinho, estudante de Mestrado em World Cinema pelo Birkbeck College, University of London, que assistiu a algumas sessões do BFI London Film Festival 2012 e que faz agora a sua cobertura do festival.

Sobre o festival
Numa cidade como Londres, onde há um festival de cinema em cada esquina, o London Film Festival é apenas mais um. Mas é, sem dúvida, aquele a que mais espectadores aderem e conhecem – não só pelos bons filmes que o festival costuma apresentar mas pelo simples facto de ser aquele que se pode dar ao luxo de exibir cartazes publicitários em todos os pontos importantes da cidade. Nada contra, atenção. É graças à forte divulgação que se vêem as salas cheias e os bilhetes para os principais filmes esgotados uma semana depois de terem sido postos à venda. Como ainda sou estudante tento aproveitar ao máximo as sessões matinais livres (e quase vazias) que o serviço educativo do festival proporciona – as sessões onde se encontram os madrugadores e/ou os verdadeiros amantes de cinema – mas é nas salas sem cadeiras vagas que se sente verdadeiramente a partilha de emoções por isso nunca resisto a comprar mais um ou dois bilhetes. Qualquer sessão a partir do meio-dia não desilude! 



Amor, relações e sexo(s). É disto que Xavier Dolan nos fala em Laurence Anyways – outra vez. Mas, tal como nos seus primeiros filmes J’ai tuè ma mère (2009) e Les Amours Imaginaires (2010) , nós não nos importamos pois Dolan parece saber do que fala. Não sei se a repetição pode ou não culminar na perfeição, mas a repetição de Dolan permite-lhe evoluir na maturidade com que aborda, não só o tema mas também a realização dos seus filmes. É pena, portanto, que seja na repetição que Laurence Anyways peque. Demasiado embrenhado na frágil relação entre Laurence e Fred – após 2 anos de relação, Laurence admite que quer ser uma mulher, não querendo, no entanto, acabar a sua relação com Fred - Dolan filma o ciclo vicioso de amor e ódio em que esta se tornou sem saber quando parar. Durante duas horas e meia, Dolan procura um ponto final que, logo no início do filme, percebemos que não pode existir – resta-nos então a sucessão de episódios egoístas cuja previsibilidade retira a maturidade e intensidade que o filme apresenta de forma credível no início. Laurence Anyways conta com as performances intensas e emotivas de Melvil Poupaud e Suzanne Clément, que dão credibilidade ao drama humano retratado, e com extraordinários momentos musicais que, na minha opinião, estão sempre entre os melhores momentos dos filmes de Dolan.

Beasts of the Southern Wild (2012), de Benh Zeitlin Uma estrelaUma estrelaUma estrelaUma estrela½



Quando os créditos começaram a correr, o senhor que estava sentado ao meu lado levantou-se e, ao tentar passar por mim para sair, disse-me: «o filme já terminou mas tu não te queres ir embora». Ele tinha razão – eu não queria. Beasts of the Southern Wild foi um daqueles filmes que me levam numa viagem que eu quero que dure para sempre – até que as luzes se acendem e eu permaneço sentada à espera que se apaguem outra vez para que eu possa continuar a sonhar. Benh Zeitlin cria um mundo de fantasia e realidade, pois uma não pode viver sem a outra, onde vive a pequena Hushpuppy (a impressionante Quvenzhané Wallis) ao cuidado - pouco capaz - do seu pai (Dwight Henry). Com a doença do pai vem também a subida do nível das águas na Bathtub, a comunidade sulista onde vivem, e Hushpuppy vê-se obrigada a crescer e a fugir com a sua família (a comunidade funciona como uma família em que todos se protegem uns aos outros), mas apenas enquanto a água não permite a sua sobrevivência – todos pretendem voltar à Bathtub, a casa. Com uma banda sonora (Benh Zeitlin e Dan Romer) e cinematografia (Ben Richardson) tocantes, Beasts of the Southern Wild tem tudo a seu favor e não desilude. Um filme para ver com atenção e aprender. Seremos nós as bestas que corrompem este mundo ao se esquecerem de valorizar aquilo que realmente importa – a nossa simples existência?

No (2012), de Pablo Larraín Uma estrelaUma estrelaUma estrelaUma estrela


O filme relata a história da campanha NO que combateu o governo de Pinochet, no referendum de 1988. Mais do que uma celebração da vitória da campanha, o interesse de Pablo Larraín recai sobre a luta entre as campanhas – a forma como o NO opta pelo positivismo e a promessa de algo melhor para apelar ao cidadãos, e como o SI decide existir simplesmente como o negativo do NO. E é por isso que Larraín centra a sua narrativa nas personagens (opostas) de Gael García Bernal e Alfredo Castro, ambas baseadas em personagens reais, que interpretam os directores das duas companhias publicitárias – e que partilham também o mesmo local de trabalho, uma das principais agências publicitárias do regime.  Ao contrário de Tony Manero (2008) e Post Mortem (2010), ambos testemunhas subtis do regime de Pinochet, No é finalmente uma representação "sem medos" da violência a que os cidadãos foram sujeitos durante a ditadura. E talvez seja isso o mais interessante no filme, ver como é que Larraín termina esta trilogia, marcadamente direccionada para a divulgação da repressão social que ocorreu no Chile entre 1973 e 1988, de forma tão efusiva, apesar de tensa nos momentos necessários, e optimista. Tal como a campanha NO.

Aquele que poderia ter sido o novo épico histórico de Raúl Ruiz, tornou-se num filme histórico, de todo épico, nas mãos de Valeria Sarmiento aquando da sua morte. Esta conseguiu fazer uma obra com algum interesse mas que tenta mostrar demasiadas personagens e histórias num filme que teria ganho em focar a sua atenção em menos histórias pessoais. Fica a dúvida se Ruiz o teria conseguido fazer, ou se as personagens escolhidas teriam interesse (ou história) suficiente para nos manter de olhos postos no ecrã. Com pequenas aparições de actores como Catherine Deneuve, Isabelle Hupert e Michel Piccoli – numa pequena homenagem à memória de Ruiz - Linhas de Wellington relata o episódio da última invasão francesa em 1810, guiada pelo Marechal Massena, e a derrota dos franceses, às mãos da frente anglo-portuguesa, na tentativa de chegarem até Lisboa pelas Linhas de Torres Vedras, sem nunca se deter tempo suficiente em nenhuma das facções. Um filme histórico, sem muita história para contar. 

Argo (2012), de Ben Affleck Uma estrelaUma estrelaUma estrelaUma estrela½


Ben Affleck continua a surpreender – como realizador e, neste caso, até como actor. Depois do sucesso das suas primeiras longas Gone Baby Gone (2007) e The Town (2010), Affleck dramatiza agora a história de Tony Mendez, operacional da CIA, que juntamente com a Embaixada do Canadá no Irão conseguiu fazer regressar aos EUA seis diplomatas americanos que fugiram da Embaixada americana durante as revoltas de 1979. Apesar do resultado da operação ser conhecido de antemão, Affleck consegue criar momentos de tensão que nos fazem esquecer o que sabemos e seguir o que nos vai sendo contado ao longo do filme. Mas é sem dúvida a forma como os diplomatas são salvos que suscita mais curiosidade entre os espectadores – cada um deles será ‘transformado’ num membro de uma equipa de filmagens canadiana que escolhe o Irão como local de filmagens para o seu novo filme. Tony Mendez tem então que recorrer às suas ligações em Hollywood para criar o filme falso no qual os diplomatas irão trabalhar. São estes momentos hollydwoodescos que permitem alguns risos no meio de tanta preocupação, sem nunca parecerem forçados, funcionando também um pouco como crítica à falsidade que facilmente se cria (ou que existe) em Hollywood. 

Filme de duas premissas – a visita dos Reis de Inglaterra à casa de veraneio do Presidente Roosevelt em 1939 e a relação íntima de Roosevelt com a sua prima e amante, Margaret Suckley - em que ambas se apoiam uma na outra, e nenhuma tem força suficiente para se destacar. Hyde Park on Hudson torna-se, desta maneira, um filme que se segue com alguma atenção, mas com pouco entusiasmo. Rimos por vezes, e até sentimos alguma empatia com as personagens mas, no fim, tal como na história, apenas aceitamos aquilo que Michell nos dá e tentamos que isso seja suficiente. Bill Murray e Laura Linney, assim como a fotografia de Lol Crawley, são o melhor do filme e isso já me parece uma boa razão para vê-lo.

2 comentários:

  1. Tradução péssima, cheia de erros!

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    1. Tradução de quê? Este é um artigo original escrito por Leonor Pinho em português.

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