terça-feira, 13 de novembro de 2012

Saga Twilight, por Tiago Ramos


Uma das sagas de maior sucesso dos últimos anos e das que mais gerou opiniões contraditórias chega agora ao fim. Inspirada na saga de livros de Stephenie Meyer, a saga Twilight conquistou uma legião de fãs (muitos deles também leitores dos livros) e que romperam recordes de bilheteira um pouco por todo o mundo. Amada por uns, odiada por outros, o cerne da história - apesar da introdução de elementos fantásticos, como os vampiros e lobisomens - é bastante clássico e tradicional, assente numa lógica de romance casto (raras são as histórias para jovens adultos que ainda exploram temas como a castidade ou a recusa do sexo pré-marital), se bem que por vezes assente num tipo de relacionamento que pode ser visto, por vezes, como disfuncional. As pequenas críticas que apresento abaixo são as minhas opiniões pessoais, baseadas puramente do ponto de vista cinematográfico e sem qualquer conhecimento ou referência ao material de origem, pretendendo antecipar a estreia do último capítulo da saga, a 15 de Novembro.

Twilight (2008), de Catherine Hardwicke Uma estrelaUma estrela½
Depois dos livros que fizeram a sua quota enorme de sucesso mundial, o primeiro capítulo da saga, intitulado Crepúsculo, relançou a história clássica de vampiros com objectivo de se aproximar de um público mais jovem. A realização de Catherine Hardwicke aproxima-se de uma perspectiva tradicional, tanto na forma como no conteúdo, explorando o início de um triângulo amoroso de uma forma delicada. Assume um tom quase trágico e lúgubre, com uma fotografia em tons de sépia, que é interessante, apesar de falhar no ritmo em alguns momentos. O problema está contudo na história, demasiado insonsa a maioria das vezes, capaz de fazer facilmente o espectador bocejar. Mas o pior é que, junto com essa história, surgem também dois protagonistas completamente apáticos e inexpressivos (Robert Patinson e Kristen Stewart) que nunca conseguem segurar o filme além do marasmo em que acaba por cair. A banda sonora é o que mais se destaca (algo que aliás se repete na restante saga), com temas de Muse, Paramore, Linkin Park ou Radiohead.

The Twilight Saga: New Moon (2009), de Chris Weitz Uma estrelaUma estrela
O segundo capítulo prometia mostrar mais acção ao introduzir o clã dos Volturi. Isso, aliado ao facto de termos Chris Weitz na realização, antecipava uma mudança desejada no estilo da saga que, afinal, acabou por não se revelar. No final de contas, a sequela revelou ser inferior ao capítulo inicial, ao reduzir ainda mais as personagens a meros estereótipos. A ideia base tinha potencial e recuperava a ideia do amor trágico, ao estilo Romeu & Julieta. Mesmo não sendo original poderia ter resultado num filme relativamente agradável se não aproveitasse para reforçar um dos lados do triângulo amoroso de uma forma demasiado piegas. A produção começa a aperceber-se ainda mais do poder de marketing da saga e vulgariza as personagens, especialmente quando dá destaque ao clã de lobisomens como um bando de homens jovens, com um físico invejável e de tronco despido. O argumento tem demasiada tendência para novela, enquanto que os dois protagonistas continuam a vaguear pelo filme sem qualquer expressão e química - entre si e o espectador. Destaca-se porém uma melhoria significativa na fotografia - uma das melhores da saga, a cargo de Javier Aguirresarobe - e Chris Weitz revela ter soluções visuais bastante mais interessantes que Catherine Hardwicke. A banda sonora inclui temas de Muse, Bon Iver, Lykke Li, OK Go, Thom Yorke, The Killers, Grizzly Bears e The Killers. Continua a ser o melhor.

Depois de um capítulo fraco, Eclipse melhora ligeiramente, especialmente pelas rédeas asseguradas por David Slade (que já tinha revelado ideias interessantes em Hard Candy). Inevitavelmente, o triângulo amoroso entre Bella, Edward e Jacob - o ponto central do filme - continua a ser aquilo que é mais fraco e aborrecido em toda a saga. Cai excessivamente na novelização e na constante dúvida da protagonista, com um romance sempre asfixiado pelo próprio do marketing do projecto. Mas apesar disso e dos constantes flashbacks que quebram o ritmo da história, o filme encontra um maior equilíbrio, especialmente porque David Slade parece conseguir liderar melhor o elenco e tanto Robert Pattinson como Kristen Stewart melhoram na forma como interpretam as personagens de sempre. Ashley Greene e Anna Kendrick continuam a ser uma das melhores coisas que saiu da saga, mas é a presença de Bryce Dallas Howard (para interpretar uma personagem interpretada por Rachelle Lefevre nos dois capítulos anteriores) que revela ser o melhor do filme, dado o seu carisma como vilã. É impossível não voltar a falar na banda sonora: desta vez inclui temas de The Black Keys, Sia, Florence + The Machine, Beck, Bat for Lashes, Vampire Weekend, Metric ou Band of Horses.

Sempre evitei falar na história em si (que admito que nunca me agradou) por achar que esta é uma característica própria dos livros que, como material de origem, os filmes têm de sujeitar-se de certo modo. Mas começa a ser inevitável não abordá-la neste capítulo dada inércia, absurdo e inutilidade com que parece confrontar-se a todo o instante. O mesmo acontece neste filme, o penúltimo da saga, baseado no livro Amanhecer, mas que por força do poder comercial acaba por ser dividido em dois filmes. A história continua a ser uma exortação ou um sermão moral sobre a castidade que começa a cansar cada vez mais o espectador. Este capítulo marca a união marital entre os protagonistas (depois de um inusitado pedido de casamento no final do filme anterior), que tem como consequência directa a ansiada união física (continua, porém, o moralismo contra o sexo pré-marital, prolongando a ideia de castidade ao camuflar o receio da protagonista para com sexo, com a questão do auto-controlo do vampiro). O industrialismo e marketing é tão evidente neste filme que acaba por ser um produto sem qualquer alma ou ligeiro interesse. A maior parte dos 117 minutos de filme são gastos nas cenas da lua-de-mel dos protagonistas, como crescendo para a constante pressão de Bela para que Edward a transforme em vampira (a personagem continua a demonstrar ser um mau exemplo para as jovens que a idolatram, ao sujeitar-se a uma relação abusiva, disfuncional e perturbadora, aliado às suas constantes tendências depressivas e eternas dúvidas). Nada de potencialmente interessante acontece, com excepção de uma parte final tão rápida quanto inconsistente, com uma bizarra gravidez (um híbrido entre humano e vampiro com consequências quase mortais para Bella durante a gestação e parto), um momento quase pedófilo (a que insistem em chamar imprinting) e uma quase-morte da protagonista que - e isto não é necessariamente uma piada - quase consegue ser dos seus momentos mais expressivos. Já nem a banda sonora salva a saga do absurdo em que acabou. A ideia de épico confronto entre clãs de vampiros não é suficiente para antecipar ansiosamente a conclusão da saga (especialmente porque quem leu os livros sabe que há tendência para um mega anti-clímax).

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