quarta-feira, 22 de maio de 2013

Rugas, por Tiago Ramos


Título original: Arrugas (2011)
Realização: Ignacio Ferreras
Elenco: Tacho González, Álvaro Guevara e Mabel Rivera

Poucas vezes no cinema se tem como protagonista uma faixa etária mais idosa, ou uma história centrada no processo de envelhecimento. Recordamos títulos como Wolke 9 (2008), ou os recentes The Best Exotic Marigold Hotel (2011) e Amour (2012). Mas poucos como este Arrugas o tratam de uma forma tão sincera e carinhosa, o que surpreende ainda mais quando estamos perante um filme de animação, normalmente reservado para personagens e públicos mais jovens (talvez apenas Up se iguale na abordagem da temática). Ignacio Ferreras trabalha neste filme de uma forma tão habilidosa e impressionante, explorando ângulos de câmara ou jogos de luz e sombra, como se de uma produção live-action se tratasse. O facto de trabalhar em animação não forçou o realizador e argumentistas a suavizar a narrativa. Desta forma retratam-se personagens adoráveis, mas simultaneamente credíveis e que provocam reacções emocionais ao espectador, enquanto se depara com os medos, fantasias e desconfianças das personagens, tão adultas quanto facilmente reconhecíveis em todos nós. O argumento, baseado na banda desenhada de Paco Roca, cria personagens detalhadas e uma história realista que oscila entre a comédia e o drama, dando destaque ao momento em que o protagonista dá entrada num lar da terceira idade e se vê subitamente confrontado com o seu (e dos que o rodeiam) processo de envelhecimento e degradação mental e física, à medida que redescobre o poder do amor e da amizade.

Tecnicamente, o trabalho de animação em 2D é tradicional e embora por vezes pouco flexível, é sobretudo rico em detalhes, reflectindo realisticamente épocas diferentes, sonhos ou memórias, com uma precisão incrível e de invejar a produções cinematográficas live-action. De destacar ainda a poderosa e emocional banda sonora de Nani García.

O resultado é uma obra bela que consegue transmitir a sua forte mensagem, mas sem nunca ser moralista. Um filme que fará o espectador rever as suas acções perante os ente queridos mais idosos, bem como a sua própria percepção do que é o processo de envelhecimento, evitando porém o sentimentalismo fácil. É mais que um filme sobre a morte ou a doença, ou sobre o fim, mas sim uma celebração da própria vida. Uma comédia trágica, bela e dignificantemente humana. E sobretudo, uma provocação da perspectiva dos mais velhos sobre os mais novos, tantas vezes esquecidos - ironicamente - que também chegarão a esse momento de mudança da sua própria vida.


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