Realização: Christian Petzold
Argumento: Christian Petzold e Harun Farocki
Elenco: Nina Hoss, Ronald Zehrfeld, Rainer Bock e Jasna Fritzi Bauer
Barbara é um filme sobre transformações. O alemão Christian Petzold filma indirectamente uma Alemanha dividida, em plena Guerra Fria, com todos os seus dilemas morais e políticos, sob o ponto de vista da sua protagonista feminina. E essa Alemanha gélida é filmada também numa perspectiva também ela rígida e clínica, como é habitual no trabalho do cineasta e como pudemos comprovar no final de 2012 nas nossas salas de cinema, com a estreia de Jerichow (2009). Mas onde este último primava pela rigidez de uma história repleta de personagens-arquétipo e por isso de um lado emocional quase inexistente, em Barbara parte-se de um caminho inicial semelhante, para afinal revelar uma complexa evolução de uma personagem. A Barbara que dá nome ao filme é vivida por Nina Hoss num retrato convincente de uma personagem que se deixa mudar pela sociedade onde é forçosamente inserida. Daí que não seja de estranhar que a postura inicial da actriz seja a mesma do cineasta: uma atitude gélida e fria, de quem vive num constante estado de alerta, sufocada no meio de um ambiente rural bem distante da azáfama de uma cidade como Berlim, onde todos a olham com a desconfiança típica da altura complicada em que se vivia. Essa distância inicial entre as personagens e por consequência também do espectador é a forma que Christian Petzold tem de provocar a sensação de alienação tão desejada, de quem procura não estabelecer laços emocionais, nem levantar suspeitas, enquanto planeia uma fuga para a Alemanha Ocidental.
É aí que o argumento contrabalança essa postura, introduzindo gradualmente uma aproximação da protagonista às personagens que a rodeiam. Fá-lo criando uma delicada metáfora entre a prisão em que vive - bem recriada pelas visitas tensas, bruscas e irregulares do agente da Stasi - ali naquela zona rural, afastada de tudo, mas com uma papel preponderante naquela sociedade, e a prisão em que vive uma sua paciente, uma jovem adolescente, sem quaisquer perspectivas de futuro, ao não ser que Barbara cuide dela. O cineasta alemão retrata tudo isso com um cuidado formal e clássico, com a subtileza do trabalho fotográfico de Hans Fromm, expondo o regime, mas sem nunca ser excessivamente didáctico ou panfletário. As problemáticas de época são retratadas nas entrelinhas da protagonista, na subtileza do meio que a rodeia e no olhar frio de Petzold. Mas dentro dessa frieza, é capaz de criar um olhar humano, através da evolução da personagem, da qual terminamos com uma opinião final completamente oposta à que nos havia sido inicialmente mostrada. No final, a esperança de uma contrasta com aspereza da moral de sacrifício mas também com um lado humano, numa Alemanha fria e severa.
Barbara é um filme sobre transformações. O alemão Christian Petzold filma indirectamente uma Alemanha dividida, em plena Guerra Fria, com todos os seus dilemas morais e políticos, sob o ponto de vista da sua protagonista feminina. E essa Alemanha gélida é filmada também numa perspectiva também ela rígida e clínica, como é habitual no trabalho do cineasta e como pudemos comprovar no final de 2012 nas nossas salas de cinema, com a estreia de Jerichow (2009). Mas onde este último primava pela rigidez de uma história repleta de personagens-arquétipo e por isso de um lado emocional quase inexistente, em Barbara parte-se de um caminho inicial semelhante, para afinal revelar uma complexa evolução de uma personagem. A Barbara que dá nome ao filme é vivida por Nina Hoss num retrato convincente de uma personagem que se deixa mudar pela sociedade onde é forçosamente inserida. Daí que não seja de estranhar que a postura inicial da actriz seja a mesma do cineasta: uma atitude gélida e fria, de quem vive num constante estado de alerta, sufocada no meio de um ambiente rural bem distante da azáfama de uma cidade como Berlim, onde todos a olham com a desconfiança típica da altura complicada em que se vivia. Essa distância inicial entre as personagens e por consequência também do espectador é a forma que Christian Petzold tem de provocar a sensação de alienação tão desejada, de quem procura não estabelecer laços emocionais, nem levantar suspeitas, enquanto planeia uma fuga para a Alemanha Ocidental.
É aí que o argumento contrabalança essa postura, introduzindo gradualmente uma aproximação da protagonista às personagens que a rodeiam. Fá-lo criando uma delicada metáfora entre a prisão em que vive - bem recriada pelas visitas tensas, bruscas e irregulares do agente da Stasi - ali naquela zona rural, afastada de tudo, mas com uma papel preponderante naquela sociedade, e a prisão em que vive uma sua paciente, uma jovem adolescente, sem quaisquer perspectivas de futuro, ao não ser que Barbara cuide dela. O cineasta alemão retrata tudo isso com um cuidado formal e clássico, com a subtileza do trabalho fotográfico de Hans Fromm, expondo o regime, mas sem nunca ser excessivamente didáctico ou panfletário. As problemáticas de época são retratadas nas entrelinhas da protagonista, na subtileza do meio que a rodeia e no olhar frio de Petzold. Mas dentro dessa frieza, é capaz de criar um olhar humano, através da evolução da personagem, da qual terminamos com uma opinião final completamente oposta à que nos havia sido inicialmente mostrada. No final, a esperança de uma contrasta com aspereza da moral de sacrifício mas também com um lado humano, numa Alemanha fria e severa.
Classificação:
Excelente review.
ResponderEliminarConcordo com tudo o que aqui escreves e acrescento apenas que era previsível o acto humano de sacrifício, porque em tudo o lado mais fraco ganha sempre alguns contornos e a frieza desaparece, nem que seja por breves instantes.
Não conhecia o actor que fazia de André, gostei muito da interpretação dele. Vou segui-lo com maior atenção.
P.