Realização: Joaquim Leitão
Argumento: Joaquim Leitão
Elenco: Carla Chambel, Sabri Lucas, Martim Barbeiro, Mário Bomba, Cristina Câmara, Paulo Pires, Adriano Luz, Filipe Vargas, João Baptista e Delfina Cruz
Pouco após os minutos iniciais começa a parecer que se nota uma agenda do seu realizador, uma espécie de alerta moral ou social como objectivo do filme. O problema é que à medida que a narrativa se desenvolve, o espectador nunca consegue perceber exactamente qual é: há momentos em que se nota um certo confronto com a realidade (com referências sócio-políticas e a polícia em greve a reivindicar os seus direitos), temos casos de violência doméstica, racismo, excesso de violência e abuso de poder na polícia e redes de pedofilia. E todos estes temas sucedem-se em catadupa (a gritar contemporaneidade, de forma forçada), a jeito de uma pequena reviravolta na história que obriga o espectador a prestar atenção, mas sem nunca fazê-lo de forma coerente e precisa. Isso acontece por vários motivos e o primeiro deles é o desperdício do talento de Joaquim Leitão num filme que parece aprisionado a um formato televisivo (quase novela, até) e que desenrola uma série de clichés das séries policiais e nenhum deles é particularmente positivo. Aliás, temos vários momentos em que aquele que por vezes parece um filme que defende a acção da nossa polícia deixa cair por terra isso mesmo e tira qualquer credibilidade à mesma, ao fazer crer que tudo se investiga e descobre à custa de palpites, acções precipitadas e juízos de valor. E num filme que actua sobre um suposto manto de coragem, há também direito a uma narrativa que não se coíbe de evidenciar algum mau-gosto (há uma cena pavorosa, com uma criança de nove anos a descrever actos sexuais, que seria facilmente dispensável, por exemplo). Em Quarta Divisão aquilo que parece nunca chega a ser, porque a narrativa acredita que essa é a única forma de deixar o espectador interessado na história: na verdade até é, mas fá-lo à custa de vários momentos de humor involuntário, com diálogos risíveis e interpretações exageradas.
O valor do filme poderia estar precisamente na mão de Joaquim Leitão que já demonstrou ter capacidade de entreter a sua audiência, com bons temas e boa capacidade de extravasar barreiras (Duma vez por todas; Inferno; 20,13), mas aqui nunca o consegue, por força do moralismo que impõe, sem qualquer pinga de credibilidade. Carla Chambel esforça-se, mas em demasia, com a sua personagem a ser uma colecção daqueles estereótipos de investigadores de passado doloroso e que se mexem à margem das normas, num esforço que resulta muitas vezes num intenso overacting. Pelo menos tem alguma energia, algo que por exemplo a interpretação de Cristina Câmara precisava, para não soar tão insossa numa personagem que se queria tão importante.
E quando o filme termina e denuncia a sua mensagem de teor moralista e social (referindo as importantes estatísticas da violência doméstica em Portugal), finalmente percebemos o verdadeiro objectivo do filme. O problema é que da forma como o fez, com voltas e reviravoltas de teor absurdo e de mau-gosto, deixa o espectador com um sentimento de compaixão precisamente pelo perpetuador de tais acções. E se havia algum valor a destacar neste Quarta Divisão, cai por terra nestes créditos finais.
Pouco após os minutos iniciais começa a parecer que se nota uma agenda do seu realizador, uma espécie de alerta moral ou social como objectivo do filme. O problema é que à medida que a narrativa se desenvolve, o espectador nunca consegue perceber exactamente qual é: há momentos em que se nota um certo confronto com a realidade (com referências sócio-políticas e a polícia em greve a reivindicar os seus direitos), temos casos de violência doméstica, racismo, excesso de violência e abuso de poder na polícia e redes de pedofilia. E todos estes temas sucedem-se em catadupa (a gritar contemporaneidade, de forma forçada), a jeito de uma pequena reviravolta na história que obriga o espectador a prestar atenção, mas sem nunca fazê-lo de forma coerente e precisa. Isso acontece por vários motivos e o primeiro deles é o desperdício do talento de Joaquim Leitão num filme que parece aprisionado a um formato televisivo (quase novela, até) e que desenrola uma série de clichés das séries policiais e nenhum deles é particularmente positivo. Aliás, temos vários momentos em que aquele que por vezes parece um filme que defende a acção da nossa polícia deixa cair por terra isso mesmo e tira qualquer credibilidade à mesma, ao fazer crer que tudo se investiga e descobre à custa de palpites, acções precipitadas e juízos de valor. E num filme que actua sobre um suposto manto de coragem, há também direito a uma narrativa que não se coíbe de evidenciar algum mau-gosto (há uma cena pavorosa, com uma criança de nove anos a descrever actos sexuais, que seria facilmente dispensável, por exemplo). Em Quarta Divisão aquilo que parece nunca chega a ser, porque a narrativa acredita que essa é a única forma de deixar o espectador interessado na história: na verdade até é, mas fá-lo à custa de vários momentos de humor involuntário, com diálogos risíveis e interpretações exageradas.
O valor do filme poderia estar precisamente na mão de Joaquim Leitão que já demonstrou ter capacidade de entreter a sua audiência, com bons temas e boa capacidade de extravasar barreiras (Duma vez por todas; Inferno; 20,13), mas aqui nunca o consegue, por força do moralismo que impõe, sem qualquer pinga de credibilidade. Carla Chambel esforça-se, mas em demasia, com a sua personagem a ser uma colecção daqueles estereótipos de investigadores de passado doloroso e que se mexem à margem das normas, num esforço que resulta muitas vezes num intenso overacting. Pelo menos tem alguma energia, algo que por exemplo a interpretação de Cristina Câmara precisava, para não soar tão insossa numa personagem que se queria tão importante.
E quando o filme termina e denuncia a sua mensagem de teor moralista e social (referindo as importantes estatísticas da violência doméstica em Portugal), finalmente percebemos o verdadeiro objectivo do filme. O problema é que da forma como o fez, com voltas e reviravoltas de teor absurdo e de mau-gosto, deixa o espectador com um sentimento de compaixão precisamente pelo perpetuador de tais acções. E se havia algum valor a destacar neste Quarta Divisão, cai por terra nestes créditos finais.
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