Realização: Thomas Vinterberg
Argumento: Tobias Lindholm e Thomas Vinterberg
Elenco: Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen e Annika Wedderkopp
Sendo um dos fundadores do Dogma 95, é curioso que o melhor trabalho do dinamarquês Thomas Vinterberg tenha sido precisamente o primeiro filme à luz dessa doutrina. Festen (1998) foi um dos melhores filmes do movimento - parece-nos agora praticamente abandonado, especialmente por quem o fundou - e foram precisos quatorze anos para que o espectador pudesse voltar a ver o seu talento, depois de uma série de anos praticamente à deriva. A Caça não é só um dos melhores filmes do realizador, como também um dos melhores do ano e um ensaio profundo sobre o poder da mentira. À medida que nos vamos adensando na história, não nos é deixada margem para dúvidas da inocência do seu protagonista. Não há espaço para ambiguidades, dúvidas, nem esperamos uma reviravolta final que mostre que afinal talvez ele não seja tão inocente quanto parece. Como sustentar um filme que há partida revela a sua conclusão logo numa fase tão prematura? Cria-se assim um poderoso ensaio sobre o ser humano e a força injusta de um boato, como forma de destruir a vida de um inocente. A câmara dá-nos de imediato a conhecer o protagonista, com pequenos pormenores que só fazem o espectador identificar-se e simpatizar com ele. Ele é inocente e o espectador sabe-o. Encontramo-nos assim situação privilegiada e não há cá jogos de gato e rato. O que há (e aí Thomas Vinterberg não nos poupa) é uma perturbadora e agonizante sequência de eventos que só nos deixam horrorizados perante o poder de uma acusação infundada de uma criança e que, mesmo após esta o desmentir, já o boato se alastrou de tal forma entre a população adulta que é tarde demais. Tarde demais porque o retrato do ser humano que nos é apresentado é cruel e a postura desconfiada e acusatória daquela população faz-nos quase parecer estar perante uma caça às bruxas. Sem forquilhas e tochas, mas por pouco.
Mads Mikkelsen tem a força de um desempenho absolutamente incrível, ponderado e incisivo, à medida que a sua vida se vai desmoronando à sua frente. A precisão da sua actuação, na forma como revela o desespero, apatia, medo e insegurança da personagem, é o ponto fulcral para esta batalha psicológica pela busca da verdade. Com uma direcção de fotografia magnífica, repleta de jogos de luz e um trabalho de som e banda sonora perfeitamente adequados ao clima tenso que a narrativa imprime, A Caça vai-se construindo nessa revelação da faceta mais cruel do ser humano, inflamado por uma acusação que não procura comprovar (quando obtém a resposta real, nega-a e transforma-a) e uma sede de justiça hipócrita. O poder viral de um boato é aqui expresso de uma forma intensa (e incrivelmente horrorosa pelo seu realismo) e passível de ser aplicado à sociedade contemporânea em todas as suas vertentes. O mal existe e somos todos nós.
Elenco: Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen e Annika Wedderkopp
Sendo um dos fundadores do Dogma 95, é curioso que o melhor trabalho do dinamarquês Thomas Vinterberg tenha sido precisamente o primeiro filme à luz dessa doutrina. Festen (1998) foi um dos melhores filmes do movimento - parece-nos agora praticamente abandonado, especialmente por quem o fundou - e foram precisos quatorze anos para que o espectador pudesse voltar a ver o seu talento, depois de uma série de anos praticamente à deriva. A Caça não é só um dos melhores filmes do realizador, como também um dos melhores do ano e um ensaio profundo sobre o poder da mentira. À medida que nos vamos adensando na história, não nos é deixada margem para dúvidas da inocência do seu protagonista. Não há espaço para ambiguidades, dúvidas, nem esperamos uma reviravolta final que mostre que afinal talvez ele não seja tão inocente quanto parece. Como sustentar um filme que há partida revela a sua conclusão logo numa fase tão prematura? Cria-se assim um poderoso ensaio sobre o ser humano e a força injusta de um boato, como forma de destruir a vida de um inocente. A câmara dá-nos de imediato a conhecer o protagonista, com pequenos pormenores que só fazem o espectador identificar-se e simpatizar com ele. Ele é inocente e o espectador sabe-o. Encontramo-nos assim situação privilegiada e não há cá jogos de gato e rato. O que há (e aí Thomas Vinterberg não nos poupa) é uma perturbadora e agonizante sequência de eventos que só nos deixam horrorizados perante o poder de uma acusação infundada de uma criança e que, mesmo após esta o desmentir, já o boato se alastrou de tal forma entre a população adulta que é tarde demais. Tarde demais porque o retrato do ser humano que nos é apresentado é cruel e a postura desconfiada e acusatória daquela população faz-nos quase parecer estar perante uma caça às bruxas. Sem forquilhas e tochas, mas por pouco.
Mads Mikkelsen tem a força de um desempenho absolutamente incrível, ponderado e incisivo, à medida que a sua vida se vai desmoronando à sua frente. A precisão da sua actuação, na forma como revela o desespero, apatia, medo e insegurança da personagem, é o ponto fulcral para esta batalha psicológica pela busca da verdade. Com uma direcção de fotografia magnífica, repleta de jogos de luz e um trabalho de som e banda sonora perfeitamente adequados ao clima tenso que a narrativa imprime, A Caça vai-se construindo nessa revelação da faceta mais cruel do ser humano, inflamado por uma acusação que não procura comprovar (quando obtém a resposta real, nega-a e transforma-a) e uma sede de justiça hipócrita. O poder viral de um boato é aqui expresso de uma forma intensa (e incrivelmente horrorosa pelo seu realismo) e passível de ser aplicado à sociedade contemporânea em todas as suas vertentes. O mal existe e somos todos nós.
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