Título original: The Innkeepers
Realização: Ti West
Argumento: Ti West
Elenco: Sara Paxton, Pat Healy e Kelly McGillis
O primeiro dos sustos que Ti West prega a uma das suas personagens, ao mesmo tempo que ao espectador, é conseguido através de um daqueles vídeos que prolongam o silêncio até fazerem surgir um grito de incontáveis decibéis.
Tal susto serve como explicação simplificada do que o realizador entende como terror, uma espera calma e intrigante que só se revela num final súbito e intenso.
Se não estivéssemos avisados, julgaríamos que The Innkeepers não era senão um filme sobre a relação de contornos esbatidos entre os dois trabalhadores no último fim de semana de actividade de um hotel assombrado.
Eles brincam com a ideia de encontrarem provas dos fantasmas que ali caminham, mas estão no campo seguro de quem não acredita realmente que haja algo a descobrir ali.
Mas se ele é o fanático armado com câmaras e microfones, ela é a rapariga ligeiramente ingénua mais tentada a aceitar essas possibilidades.
A descoberta destes personagens neste contexto específico, que ocupa a maior parte do filme, é agradável, sendo possível criar um gosto por estas personagens sem necessitar que nos dêem uma visão do seu passado e, ainda mais, não tendo a certeza se algum dos dois irá ter um futuro passado este fim de semana.
Através deles ficamos a conhecer a história do lugar sem vermos reconstituições do passado e começa a instalar-se a dúvida sobre se há realmente algo ali para ser descoberto ou apenas uma esperança deles em que surja ainda uma solução - nem que sejam fantasmas que os perseguem - que permita a estas duas pessoas sem perspectivas nenhumas na vida, ao menos manterem o trabalho.
A dúvida continua a insinuar-se, tanto sobre as personagens como sobre nós próprios, à medida que os acontecimentos inexplicáveis se dissipam por motivos que os (ou nos) fazem sentir tontos por terem cedido aos receios mais insubstanciais da mente.
Ficamos sem saber se é loucura, desespero por atenção - uma das poucas hóspedes é uma actriz agora ganhando a vida com a sua sensibilidade aos espíritos e energias - ou crendice aquilo que depois começa a acontecer à personagem de Sara Paxton (que está surpreendentemente bem aqui).
Só sabemos que, o terrível desfecho, é culpa dela própria, fechando um círculo através do qual ela própria se colocou a jeito do que a esperava.
Todo o filme é essa maneira de nos obrigar a fazer esse investimento, a complementar o que está no ecrã dizendo-nos que os sustos são causados por nós tanto quanto pelo realizador.
Se bem que Ti West sabe usar a arquitectura do hotel, com o seu isolamento e a impositiva solidão sobre os personagens para criar o mais propício ambiente a que nos assustemos a nós próprios. Ele conhece as ferramentas clássicas do género e sabe como usá-las.
The Innkeepers é um conto de terror que se vale do ambiente e das nossas próprias expectativas - tanto desejo como insegurança face ao medo - para levar as suas intenções a resultarem.
Vale, por isso, bem mais do que muitos filmes de terror que se enchem de cenas escabrosas e truques de feira que obrigam muitos dos espectadores a fecharem os olhos em vez de os seduzirem a ver com cada vez mais atenção.
Crítica originalmente publicada a 18/03/2012
Gostei bastante. Uma vibe muito 80's.
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