Na tentativa de criar mais um filme de super-heróis, com uma entoação humana, profunda e de certo modo, mais realista, Zack Snyder (sob o mentor Christopher Nolan) acaba por descaracterizar a figura do Super-Homem. Homem de Aço é um produto genérico, blockbuster assumido, sem qualquer personalidade própria e exageradamente repleto de uma acção ininterrupta com câmara ao ombro e um argumento incrivelmente raso. Ao abdicar da narrativa linear, desenvolve um produto pouco coeso e frequentemente desinteressante, que nem o talentoso elenco consegue safar. ½ Tiago Ramos
Feito por quem não compreende o mito do Super-Homem mas que crê conseguir transformar qualquer "produto" em sucesso - por estar enfeitiçado com os epítetos ("visionário", sobretudo, que dá para todos) que lhes colocam - eis mais um blockbuster onde a opressão sensorial se substitui ao resto de forma a que o público não dê por desperdiçado o preço do bilhete. Um filme sem um pingo de originalidade, sem um traço de coerência e sem uma noção do ridículo a que se expõe sempre que tenta uma seriedade - que não realismo - pesada e mal explorada. Enquanto for este o resultado que passa por inteligência no seio da indústria estamos condenados a aborrecer-nos na sala de cinema durante (injustificadas) duas horas e meia. Carlos Antunes
A Datilógrafa (2012), de Régis Roinsard
Merece reconhecimento a qualidade com que A Datilógrafa reproduz a estética do final dos anos 1950, mesmo se parte dessa estética é sempre uma reinvenção mitificada da realidade de então. Pena que o filme obedeça ao maniqueísmo das modernas comédias românticas - e americanizadas - em vez de procurar acrescentar-lhe noções críticas do papel feminino do tempo retratado, ao contrário de um exemplo recente como Potiche (e isto sem entrar em comparações de inventividade com François Ozon, que seriam ainda mais debilitantes). Admitindo que o argumento busca uma perseguição da inocência simples daquele tempo para melhor acompanhar as imagens de um colorido feminino, há apesar de tudo que afirmar que tal inocência, mesmo a ter existido naquele tempo, não merece benevolência hoje em dia apenas por isso. A escalas diferentes, era também este o mal que afectava The Artist. ½ Carlos Antunes
Descomplexadamente assumido como um produto inofensivo, A Datilógrafa desenvolve-se através de uma história terrivelmente previsível e com um objectivo de curto alcance. Beneficia muito, porém, do seu visual esteticamente delicado e estilizado, num sub-género a que o cinema francês frequentemente obedece. É pitoresco e estereotipado, mas tem um charme quase irresistível, bem perpetuado pelo excelente elenco, encabeçado por Romain Duris, Bérénice Bejo e Deborah François. ½ Tiago Ramos
Merece reconhecimento a qualidade com que A Datilógrafa reproduz a estética do final dos anos 1950, mesmo se parte dessa estética é sempre uma reinvenção mitificada da realidade de então. Pena que o filme obedeça ao maniqueísmo das modernas comédias românticas - e americanizadas - em vez de procurar acrescentar-lhe noções críticas do papel feminino do tempo retratado, ao contrário de um exemplo recente como Potiche (e isto sem entrar em comparações de inventividade com François Ozon, que seriam ainda mais debilitantes). Admitindo que o argumento busca uma perseguição da inocência simples daquele tempo para melhor acompanhar as imagens de um colorido feminino, há apesar de tudo que afirmar que tal inocência, mesmo a ter existido naquele tempo, não merece benevolência hoje em dia apenas por isso. A escalas diferentes, era também este o mal que afectava The Artist. ½ Carlos Antunes
Operação Gerónimo: A Caça a Bin Laden (2012), de John Stockwell
Não se compreende o que faz um telefilme nas nossas salas de cinema, mesmo se os calendários têm vários outros exemplos do absurdo que rege a programação das mesmas. Telefilme até na produção, com uma exploração bruta do dramatismo com intenção de aplaudir as famílias que cederam os seus filhos/maridos/pais à Guerra contra o Terror; com uma visão das cenas de acção ao pior estilo de jogos de vídeo; com uma realização a tentar sempre acrescentar algo que disfarce a sua funcionalidade a roçar o insuficiente. Para o público americano pode ter feito sentido este elogio das suas forças armadas e da actuação dos seus dirigentes políticos, mas deste lado do Atlântico, julgar que o filme chamará público apenas porque partilha com Zero Dark Thirty a temática é, no mínimo, caricato. ½ Carlos Antunes
Estreia em cinema, mas foi finalizado como produto televisivo, algo visivelmente notório na forma como conduz e apresenta a narrativa. Filmado num tom quase documental, raramente descura o foco no evento principal (a busca por Osama Bin Laden e o raid à casa onde se escondia), evitando focar-se demasiado tempo em tramas secundárias. É bastante competente e apresenta um trabalho sonoro notável, mas é difícil prestar-lhe atenção depois de termos visto um filme tão carismático quanto Zero Dark Thirty. ½ Tiago Ramos
Não se compreende o que faz um telefilme nas nossas salas de cinema, mesmo se os calendários têm vários outros exemplos do absurdo que rege a programação das mesmas. Telefilme até na produção, com uma exploração bruta do dramatismo com intenção de aplaudir as famílias que cederam os seus filhos/maridos/pais à Guerra contra o Terror; com uma visão das cenas de acção ao pior estilo de jogos de vídeo; com uma realização a tentar sempre acrescentar algo que disfarce a sua funcionalidade a roçar o insuficiente. Para o público americano pode ter feito sentido este elogio das suas forças armadas e da actuação dos seus dirigentes políticos, mas deste lado do Atlântico, julgar que o filme chamará público apenas porque partilha com Zero Dark Thirty a temática é, no mínimo, caricato. ½ Carlos Antunes
Bairro (2013), de Jorge Cardoso, Lourenço Mello, José Manuel Fernandes e Ricardo Inácio
Movimentos de câmara sem serventia, planos criminosos obtusos e incredíveis, cenas de sexo gratuitas, alívios cómicos fora de tempo. Isto é apenas uma breve enumeração das características de um filme que não consegue sustentar-se como um produto independente. Até porque à medida que o filme avança e na necessidade de o fazer caber no formato temporal do cinema, a coisa só piora com a montagem a sacrificar a lógica para fazer caber todos os elementos (que poucas vezes se mostram coesos) do trabalho de Francisco Moita Flores. Esta amostra promete um resultado televisivo enfermo das piores características das novelas a que a TVI insiste em apelidar de "Ficção" e sem nenhuma qualidade redentora aparente. Carlos Antunes
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