O ano passado V/H/S deixava uma péssima impressão que V/H/S/2 consegue superar. Num esquema idêntico ao anterior (fora alguns detalhes de somenos), o filme consegue colocar ainda mais em causa a sua lógica. Desde logo porque as velhas VHS se tornam num absurdo chamariz quando todos os segmentos são feitos a partir de câmaras digitais. Mas, igualmente, porque realizadores se recusam a pensar o mecanismo do filme que estão a fazer.
Na sua demanda por mostrarem trabalho de cineastas em vez de se apagarem no conceito, tratam todos de arranjar maneiras de multiplicar os pontos de vista numa mesma cena e, a partir disso, trabalharem a montagem. Considerando que estamos perante found footage múltipla que muitas vezes que se dispersa dentro do filme, podemos ter a certeza que seria impossível conseguir o género de resultado apresentado.
Quem mais perto está de ser bem sucedido com esse método - por envolver uma equipa de filmagem - é Timo Tjahjanto que, tendo igualmente em conta a abordagem temática aos problemas do seu país, é quem está mais perto de um segmento que valha isoladamente (e que valia a pena ser visto sem este tipo de execução).
De resto, um conceito relativamente interessante de Simon Barrett para Adam Wingard - argumentista e realizador de You're Next, respectivamente - executar com pouca inspiração e a curiosidade de ter um segmento com um zombie POV são os elementos possíveis de louvar em mais um filme que parece ter sido congeminado a partir do mínimo valor (de produção, artístico, etc...) possível. Carlos Antunes
The ABCs of Death (2012), de vários
Não será tanto uma curiosidade como um (mau) prenúncio o facto de a maioria dos realizadores de V/H/S/2 aparecerem nesta outra antologia de terror. Que, na verdade, de terror tem muito pouco, acontecendo em quase todos os segmentos que os realizadores confundam medo com confusão (perante o absurdo). Ou nojo, a sensação que se parece instalar em definitivo à medida que os segmentos se sucedem, tomando a exibição de dejectos e fluídos corporais o lugar da tensão. Se isso até tem graça quando Lee Hardcastle nos apresenta a sua animação em plasticina (T is for Toilet) o resto do tempo parece apenas condenar ao esquecimento os segmentos que até têm qualidade.
Não são muitos, até porque vários dos segmentos apenas se parecem destacar por estarem emparedados entre outros verdadeiramente medíocres. Isolados, não mereceriam um segundo olhar. Aliás, são bem poucos: L is for Libido de Timo Tjahjanto e M is for Miscarriage de Ti West (curiosamente, os dois únicos nomes a reter das antlogias V/H/S).
Ambos exploram o grau de terror inerente ao próprio ser humano e ambos sabem manipular os seus efeitos até um final verdadeiramente surpreendente e eficaz. Timo Tjahjanto volta a falar (exagerando, espera-se) dos problemas da sua região do globo num espectáculo que exige muito do espectador ao ver e, mais ainda ao pensar nas implicações. Ti West limita-se a criar um pequeno momento doméstico cuja implicação final também tem esse poder de desarme de convicções.
Duas verdadeiras peças de terror pelo que dizem de nós e das nossas sociedades. Mas ter de aguentar todas as outras letras para isso é demais. Carlos Antunes
The Lords of Salem (2012), de Rob Zombie
Parecia que Zob Zombie estava prestes a mostrar-se como um verdadeiro cineasta em vez de um mero executante de efeitos-choque. A sua exploração dos ambientes de tensão e a escolha de um tema que lhe é natural como gatilho da história prometeram muito. Mas depois ele volta aos seus truques de sempre, exagerando até que concretiza a sua própria versão - imitação? - escabrosa de Rosemary's Baby. Mesmo assim, a interessante direcção de actores que Rob Zombie mostra aqui e a a cada vez mais interessante protagonista em que se transforma a sua mulher, Sheri, não são negligenciáveis. Carlos Antunes
Home Sweet Home (2013), de David Morlet
É um dos géneros que costuma ter presença quase sempre garantida no MOTELx, mas com You're Next a ter honras de encerrar o festival, não sei qual era a necessidade de ter também este filme. Uma incapacidade de gerar tensão ou, sequer, interesse pelos personagens deixa o público sem qualquer tipo de paciência para esperar a faquíssima compensação que o filme pensa proporcionar com o twist final. Carlos Antunes
Hell Baby (2013), de Robert Ben Garant e Thomas Lennon
Uma comédia desmiolada e previsível, talvez não tão má como aqueles Movies que parodiam tudo pela imitação alarve, mas ainda assim pouco melhor apenas porque em algumas breves cenas usa de um humor de sucesso mais arriscado. O resto do tempo nem sátira é, apenas um suceder de momentos que confundem estranheza com divertimento. Lá porque um filme destes se lembra que Rosemary's Baby e The Exorcist existiram não quer dizer tenha lugar no MOTELx, quer apenas dizer que não há nenhum género que escape a este tipo de abuso. Carlos Antunes
Wither (2012), de Sonny Laguna e Tommy Wiklund
Não se trata de um mau filme, trata-se apenas de um esforço indistinto que, tirando a demonstração de que na Suécia as qualidades da caracterização e dos efeitos está ao nível do que se vê de Hollywood, não adiciona nenhuma ideia ao que se tem visto desde o Evil Dead de Sam Raimi. Tem alguma eficácia mas mais nada. Carlos Antunes
Sem comentários:
Enviar um comentário