sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Semana em Crítica - 5 de Setembro

Apenas o Vento (2012), de Benedek Fliegauf


Apesar da intenção social estar visivelmente notória (a xenofobia e o racismo contra a etnia cigana na Europa Central, nomeadamente na Hungria), em Apenas o Vento surpreende a força e a violência com que Fliegauf estabelece um retrato de uma família cigana - como símbolo da comunidade - com um olhar íntimo, extremamente próximo, quase sensorial e sobretudo extremamente angustiante. A tensão com que filma aquelas 24 horas do quotidiano da família, sempre na iminência de uma eventual desgraça, de câmara à mão, cria um sentido de opressão que perdura para além da conclusão do seu visionamento. Uma estrelaUma estrelaUma estrelaUma estrela Tiago Ramos



Viagem a Tóquio (1953), de Yasujirô Ozu


Mais que um clássico inegável e intemporal, Viagem a Tóquio é um retrato de uma cidade (e por consequência de um país) e de uma sociedade em mudança, já nos anos 50. Uma transformação pós-guerra pelo olhar inteligente e subtil de Ozu, com tudo no mais exacto equilíbrio (desde a narrativa às opções estilísticas) e onde se notam as influências que mais tarde - ainda hoje - muitos cineastas foram buscar. Um filme de detalhes, sobretudo a nível de expressões corporais e de olhares, onde cada fotograma tem uma justificação e que não precisa de diálogos exaustivos para transmitir a sua mensagem. Drama intensamente delicado, mas profundamente esmagador no seu retrato da família - tema frequente no cinema de Ozu. Uma estrelaUma estrelaUma estrelaUma estrela½ Tiago Ramos


Mesmo dez anos depois de Viagem a Tóquio há muito a unir o cinema de Ozu até este seu derradeiro trabalho. Quase complementar do primeiro - inteligente e importante decisão da Leopardo Filmes em trazer para os cinemas portugueses dois tão portentosos filmes - O Gosto do Sakê é um delicado refinamento do seu estilo e narrativa, em mais um retrato familiar, sobre a perda e a nostalgia. Simbolicamente poderoso por ter sido este o seu último trabalho, os valores do filme transcendem absolutamente todos esses paternalismos do "canto do cisne", com O Gosto do Sakê a não ser nem melhor nem pior que os outros seus filmes - mas sim uma distinta obra de arte numa filmografia tão consistente. Uma estrelaUma estrelaUma estrelaUma estrela Tiago Ramos


Um dos autores mais cínicos e ácidos do cinema contemporâneo, Todd Solondz regressa às suas personagens disfuncionais, com o olhar sarcástico que lhe é habitual, se bem que aqui não tão intenso como em trabalhos anteriores. Comédia negra, surprendentemente também algo simplista dentro do seu género de sátira social, o filme acaba por se dissolver na sua intenção (mais virada agora para o mainstream, se é que se pode aplicar esse rótulo ao seu cinema) mais sarcástica, que parece amenizada. Uma estrelaUma estrelaUma estrela Tiago Ramos



Armadas e Perigosas (2013), de Paul Feig


Depois de nos trazer uma das mais brilhantes comédias dos últimos anos (falo assumida e despoduradamente de Bridesmaids), esperava-se de Paul Feig algo - no mínimo - tão bom, mas a verdade é que o argumento de Katie Dippold para este The Heat (embora seja ela uma das argumentistas da brilhante série Parks and Recreation) é incomparável ao talento de Kristen Wiig e Annie Mumolo em Bridesmaids. Armadas e Perigosas é uma espécie de revisitação das comédias policiais dos anos 90, à qual a presença de Sandra Bullock não será de todo ingénua. Mas o argumento surpreende particularmente por não ser tão "cómico" quanto o trailer por exemplo fazia antever, deixando espaço para um teor dramático bem latente na construção das personagens principais. Sandra Bullock e Melissa McCarthy contracenam com uma excelente química - uma espécie de contraponto entre uma antiga querida da comédia norte-americana e uma nova revelação - se bem que não deixamos de encontrar no caso da primeira alguma repetição do que foi o seu trabalho em Miss Congeniality (2000) e, no caso da segunda, já algum exagero no typecasting (quase uma réplica da que levou à corrida pelo Óscar em 2012 e que depois voltámos a ver em pequenas participações). Moderadamente divertido, bem interpretado e com um toque emocional e subtil bem-vindo, Armadas e Perigosas é um entretenimento cativante, se bem que não exactamente o esperado. Uma estrelaUma estrelaUma estrela½ Tiago Ramos



Encruzilhadas (2013), de David Marconi


Mais uma tentativa do cinema francês em replicar a indústria norte-americana (neste caso é até falado em inglês) e que curiosamente, nos últimos meses, tanto e insistemente teimam em fazer chegar às nossas salas de cinema (a única justificação, diria, será para cumprir com as quotas de exibição de cinema europeu). Thriller que, de início, parece antever algo interessante e misterioso, rapidamente se torna numa verdadeira encruzilhada narrativa, tão pouco plausível como pouco inteligente, apenas na tentativa de surpreender o espectador, sem uma mínima preocupação com a lógica e a consistência. Uma estrela½ Tiago Ramos



R.I.P.D. - Agentes do Outro Mundo (2013), de Robert Schwentke


Pelo menos na sua temática, o material promocional já permitia vislumbrar uma tentativa de replicar um modelo de história em tudo muito semelhante à temática trazida pela trilogia M.I.B. - aqui aplicada a entidades "de outro mundo", que é como quem diz, mortos (em substituição dos extraterrestres) que tentam destruir o mundo dos vivos. Argumento deplorável, desavergonhadamente pobre e sem graça, efeitos visuais tão limitados quanto a piada do filme, a que os actores não conseguem fazer face (nem Jeff Bridges), com personagens tão rasas e desinspiradas. Há que dar o desconto e pensar porém que, afinal, todos precisamos de dinheiro. Uma estrela Tiago Ramos

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