terça-feira, 12 de agosto de 2014

Os Guardiões da Galáxia, por Carlos Antunes



Título original: Guardians of the Galaxy
Realização: 
Argumento: Nicole Perlman


Foi em 2008 que a Marvel descobriu que o modelo mais humorado do filme de acção - Iron Man - parecia produzir melhores resultados do que uma versão mais intensa mas sisuda - The Incredible Hulk.
(Reduzo o modelo a uma das suas características mais óbvias sem querer minimizar outros aspectos que têm introduzido nuances importantes.)
No entanto desde então que a Marvel tem vindo a aplicar este modelo a todos os seus personagens numa padronização que tem dado bons resultados de bilheteira mas também vários resultados cinematográficos insatisfatórios.
Os melhores de entre eles têm-se visto fora do universo dos personagens que formam os The Avengers - e, por isso, também fora do âmbito da produção exclusiva dos estúdios Marvel -, em particular ambos os The Amazing Spider-Man.
Muito embora os filmes mais recentes de Thor e Captain American tenham mostrado sempre melhorias significativas, o modelo de criação dos filmes continuava a não ser adaptável por completo às suas personagens.
Guardians of the Galaxy é o momento em que o estilo Marvel encontrar quem melhor o serve: um conjunto de personagens ineptas capazes de grandes momentos de heroísmo mas também das maiores tolices, quando umas e outras não são as mesmas.
Mais ainda do que isso, são personagens que (para já) não estão condicionadas a serem trabalhadas em função de filmes alheios ou de grupo que estão para vir, pelo que estão encapsuladas no seu próprio universo.
Um universo de space opera que vai rareando no cinema e onde se aposta na inconvencionalidade do humor criado pelas personagens nas situações específicas em que se inserem.
Boa parte do prazer do filme vem dessa admiração confessa por Lucas - e também Spielberg - sendo que poderá ser o único blockbuster capaz de fazer reviver a aventura espacial tal como a admirávemos há três décadas atrás.
O restante vem da sua capacidade para não se levar a sério, como a própria escolha da banda sonora - cheia de hits pop dançáveis (literalmente) - consegue dar a perceber com prazeirosa eficácia.
Muito dessa capacidade existe graças ao realizador, novamente uma escolha inesperada da parte dos produtores, mas desta vez certeira - algo que tem sido mais raro.
O realizador não pode chegar ao ponto radical com que tratou o conceito de super-herói em Super, mas tem à sua disposição personagens longe de serem imaculadas que lhe permitem explorar nuances de comportamento que outros filmes Marvel apenas afloraram.
Ainda para mais é um realizador capaz de lidar brilhantemente com as relações entre personagens - ou entre este tipo de personagens - e que tem ao seu serviço uma óptima escolha de actores com verdadeira química gerada entre eles.
Um grupo onde ao talento comprovado se junta uma boa dose de surpresa, algo que está resumido em Chris Pratt: reconhecido apenas pelos atentos a Parks and Recreation dá um protagonista de enorme carisma e notável adaptação ao papel.
(O mesmo se poderia dizer de Lee Pace, que faz um excelente vilão mas que recebe menos tempo de ecrã do que poderia e deveria.)
Com tudo isto, é garantido que este poderá ser o filme de "super-heróis" capaz de atrair também o público que tende a rejeitar esse género.
A única dúvida que o filme levanta é se o estúdio irá manter a independência deste grupo quando o sucesso for evidente, já que isso poderá colocar em causa o distintivo estilo de aventura de ficção científica aqui recuperado à memória cinematográfica.




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