sábado, 5 de março de 2016

Cinco razões porque "The Americans" é uma série a não perder


A quarta temporada de The Americans estreará dia 16 de Março, nos Estados Unidos, no canal FX.

Uma série que em Portugal passou praticamente despercebida (a primeira temporada foi exibida no canal FOX e a segunda e terceira - esta só agora no início do ano - no canal FOX Crime) e que mesmo nos Estados Unidos não tem ganho o protagonismo que merecia. Apesar de alguns dos grandes críticos a considerarem-no o "melhor programa actualmente em exibição" ou a "melhor série de espiões", constar em listas de melhores do ano (incluindo o American Film Institute) a série nunca conseguiu ser globalmente aclamada nos grandes circuitos de prémios televisivos norte-americanos (como os Golden Globes ou os Primetime Emmy), nem sequer uma audiência acima da média. Ainda assim é seguramente uma das melhores séries da actualidade, consistente, excitante, emocionante, dramática e acutilante, tudo no ponto certo. Porquê?

1. Genérico inicial.





Comecemos por algo tão básico como o genérico inicial. Pouco importante para muitos, mas que facilmente se torna icónico (quem não se lembra do genérico de séries como Six Feet Under ou Mad Men, por exemplo?) e que em The Americans não é de descartar. Isto porque estabelece de imediato o mote da série: a Guerra Fria, um conflito de ideais, um conflito de personalidades, uma era. Que começa por confrontar a propaganda soviética com a propaganda norte-americana da altura - e cujos métodos não eram assim tão diferentes entre si. Que mostra personagens soviéticas em poses familiares e recreativas - crescer na Rússia seria tão diferente de crescer na América. Que é curta e rápida, repleta de imagens e planos sobrepostos - uma grande técnica da Propaganda, repleta de mensagens subliminares e que origina uma overdose sensorial. Uma tipografia icónica, com palavras escritas em russo e que depressa surgem escritas em inglês. Um tema musical introdutório estranho e agressivo que não sai da cabeça.


2. Banda Sonora





Já falamos do tema musical dos genéricos inicial e final, mas toda a composição original de Nathan Barr é notável. Incorpora bem o espírito dos anos 80, com recurso ao piano, repercussão e baixo, mas introduz elementos da música russa, contribuindo para estabelecer a temática da série e enaltecer determinados elementos dramáticos ou emocionantes da história. Mas também a supervisão musical de Janice Ginsberg criou uma mixtape invulgar e consistente de hits musicais da década de 80, bem adequados à história (quem não se lembra da cena final do episódio piloto ao som de In the Air Tonight, de Phil Collins ou a season finale da primeira temporada ao som de Games without Frontiers, de Peter Gabriel?).

3. Os protagonistas são russos.




Este é um dos pontos mais surpreendentes da história e que mostra como a produção é destemida e corajosa. A série sobre espiões da Guerra Fria não é feita sob a perspectiva dos espiões norte-americanos, das investigações da CIA ou do FBI. É sim sobre os espiões soviéticos "adormecidos", ensinados a comportarem-se como norte-americanos, a viver o american dream com uma família e filhos nos subúrbios de Nova Iorque. Embora os actores protagonistas sejam norte-americanos (Keri Russell e Matthew Rhys em interpretações poderosas), falam frequentemente em russo. Outras personagens secundárias falam também muitas vezes em russo, sendo que a série recorre muito ao uso de legendas (algo que não é comum no mercado norte-americano). Existem ainda vários actores de origem russa ou nascidos na União Soviética, que falam fluentemente russo durante a narrativa: Annet Mahendru, Lev Gorn, Costa Ronin ou Vera Cherny, por exemplo.

4. A evolução da complexa narrativa.




Podia ser apenas uma simples série sobre espiões e já seria um grande trabalho. Ainda assim, não se limita aos clássicos de espionagem. É uma série repleta de momentos acção, drama e sexo, com algumas cenas bastante arrojadas, mas é também uma série sobre a família e a complexidade do casamento. Cada temporada evolui narrativamente e deixa o espectador no dilema de apoiar personagens que são simultaneamente heróis e vilões. Enquanto que a primeira temporada contextualiza a série no início dos anos 80, com um jogo do gato e do rato, onde Philip (Matthew Rhys) e Elizabeth (Keri Russell) tentam esconder as suas verdadeiras origens do seu vizinho, amigo e agente da CIA Stan (Noah Emmerich); a segunda temporada ultrapassa esse patamar. Começamos a seguir os dilemas morais de Philip e Elizabeth, à medida que os valores soviéticos entram em conflito com os novos valores que apreenderam ao longo dos anos enquanto cidadãos norte-americanos. Já na terceira temporada, a sua posição enquanto espiões é descoberta pela filha adolescente Paige, que começa a ganhar consciência social e política e adere à religião católica. Enquanto que do lado russo, o casal é incentivado a criar em Paige (Holly Taylor) uma nova geração de espiões, nascidos e criados em solo americano; do lado ocidental, o Pastor Tim (Kelly AuCoin) começa a incutir-lhe uma tendência de contra-inteligência.

5. Margo Martindale




Ironicamente chamada na série BoJack Horseman de Character Actress Margo Martindale, a actriz tem ao longo dos anos feito uma série de participações especiais em produções televisivas que se destacam muitas vezes das dos actores principais. Em The Americans, a actriz atinge esse patamar de excelência, num papel especial de Claudia, uma agente do KGB, responsável por monitorizar o casal Jennings. A sua personagem é perversamente manipuladora, agindo muitas vezes como mera observadora, mas também como orientadora das missões, intervindo em casos extremos, sempre com métodos duvidosos e entrando em conflito directo com Elizabeth. É sem dúvida, um dos pontos altos da série.

Em Portugal, o canal FOX Crime exibe ainda a terceira temporada de The Americans. A quarta temporada ainda não tem data de estreia prevista para o nosso país. As duas primeiras temporadas estão disponíveis no Netflix.

2 comentários:

  1. Peço desculpa mas a 1 e 2 season estão disponíveis no Netflix

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    1. Olá Rodrigo! Obrigado pela correcção. De facto, fiquei na dúvida porque há alguns países onde não há acordo para exibir "The Americans" no Netflix, mas assim ainda bem...! :)
      Abraço.

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