segunda-feira, 29 de maio de 2017

Mulher Maravilha, por Eduardo Antunes

http://splitscreen-blog.blogspot.com/2017/05/mulher-maravilha-por-eduardo-antunes.html

Título original: Wonder Woman (2017)
Realização: Patty Jenkins
Elenco: Gal GadotChris PineConnie NielsenRobin WrightDanny HustonElena Anaya

Com a reputação medíocre que as adaptações cinematográficas de histórias baseadas nas personagens das bandas desenhadas da DC Comics têm tido desde 2013, e face à pressão que os estúdios da Warner Bros. têm claramente sentido relativamente ao sucesso constante dos filmes dos Estúdios Marvel, poderá finalmente a Mulher Maravilha ser a esperança por detrás da Warner Bros. em finalmente conseguir chegar a críticos e fãs da mesma maneira?

Se a resposta é inegavelmente positiva, posso igualmente afirmar, de forma bastante pessoal, que havia bastante tempo que um filme, ainda para mais um blockbuster como este, não me deixava desta forma emocionado. Desde cedo fora ouvindo comentários que comparavam Wonder Woman ao sentimento que Superman de Richard Donner fez vibrar no público de então. Mais do que acreditar que um homem podia voar, permitiu à sua audiência acreditar na profunda humanidade advinda de uma personagem inteiramente fora da nossa realidade.
E é apenas quando a Mulher Maravilha chega aos ecrãs de cinema pela primeira vez, passados tantos anos depois da sua original estreia nas páginas da sua banda desenhada, que as inspiradoras palavras que Man of Steel introduziu mas nunca demonstrou, finalmente reverberam perante nós: "You will give the people of Earth an ideal to strive towards. They will race behind you, they will stumble, they will fall. But in time (...) you will help them accomplish wonders."

É acima de tudo esse potencial que este filme, sobre qualquer outra recente tentativa dedicada a estes denominados super-heróis, consegue demonstrar. Faz-nos acreditar num ideal de humanidade, coragem e esperança sob a forma desta particular mulher. Mais do que uma mítica guerreira envolta em confronto durante a Grande Guerra, Diana revela-se enquanto mulher, inocente e ainda ingénua na fé depositada na humanidade que pretende proteger sem conhecimento do custo. Mas por isso mesmo, se revela mais humana, crescendo para lá da sua visão acertada, porém limitada, corrigindo-a mas não deixando de a enaltecer e nela acreditar. E quando, chegados a meio do filme, ao testemunharmos Diana atravessando a Terra de Ninguém com a sua inteira determinação e em nome dos ideais expressados, também nós entendemos que verdadeiramente almejamos a ser mais como ela:
Diana - We have to help these people (...)
Steve - This is not what we came here to do.
Diana - No, but it is what I am going to do!



Para isso na sua maior parte contribui a actriz principal (com o apoio de uma faceta de Chris Pine a que não estamos habituados a ver) que, apesar do seu papel esquecível noutro franchise, mostra aqui com toda uma destreza e se revela como a aposta certa para representar esta personagem. Não só o seu elegante mas impositivo porte físico é demonstrativo do seu papel como Amazona, como também, mais importante que isso, é a sua vulnerável mas confiante expressão demonstrativa de toda a humanidade, sensibilidade e coragem presentes ao longo de toda a sua interpretação e perfeitamente contrastante com o pano de fundo da Primeira Guerra Mundial. Pano de fundo esse que em muito também ajuda a demonstrar, ao contrário dos três filmes anteriores da DC, a possibilidade destes heróis se apresentarem em narrativas dramáticas e realistas (tanto quanto a sua natureza mitológica o permita) sem necessitarem de revelarem um carácter pessimista ou mesmo deprimente.

Por tudo isto, custa tão mais que o terceiro acto claramente não faça parte do restante filme, assemelhando-se demasiado a tantos outras experiências cinemáticas, perdendo um pouco do dramatismo tão bem conseguido até então em detrimento de um duelo final com o obrigatório vilão, por um aparentemente necessário espectáculo visual. E apesar de serem mantidas até ao final as questões que tinham vindo a modelar e fazer crescer a nossa heroína, o conflito "físico" fica muito aquém do conflito moral em causa. 
O entendimento de Diana na capacidade do homem causar violência sem influência externa põe em causa e revela inútil a sua demanda e faz-nos temer pela crença da protagonista na salvação dos seus protegidos. Entendimento que quase perde a sua força dramática quando, imediatamente a seguir, se revela de qualquer das formas o vilão que desde o início parecia apenas uma fábula. Para além de que, chegados aos créditos, qualquer uma das outras sequências de acção (e, em especial, o momento referido mais acima) nos ficou vincada na nossa memória mais que esta última.
Face a tudo aquilo que arrisca, na forma profunda como olha e nos faz olhar sobre a personagem de Diana, no final não se compromente inteiramente às ideias que apresentou desde o início. Até Donner com Superman, a este ponto confirmada inspiração para este filme, trabalhou um final onde não havia um combate a ser travado, antes atrevendo-se a apresentar algo muito pessoal.

Mas ainda que o filme apresente algumas das mesmas falhas de tantos outros filmes semelhantes e não se permita distanciar o suficiente do género perto do final (como Logan se atreveu a fazer ou mesmo The Dark Knight há quase uma década), a narrativa agarra-nos desde o princípio, fazendo-nos querer acompanhar a nossa protagonista para lá do grande ecrã e relembrando-nos a razão de olharmos estes heróis como potenciais ídolos, a razão da Mulher Maravilha continuar a significar, após tantos anos, um ícone e símbolo para tantas pessoas. 
Esperemos que, mais do que poder liderar uma nova geração de super-heróis cinematográficos com maior profundidade dramática, a Mulher Maravilha nos possa continuar a maravilhar e inspirar a sermos tão melhores quanto podemos e devemos sempre ser, acima de qualquer género ou nacionalidade.

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1 comentário:

  1. Adorei a sua crítica. Eu concordo com você, o filme é agarra-nos desde o princípio. Na minha opinião, este foi um dos melhores filmes de super heroi que foi lançado no ano passado. O filme da Mulher Maravilha foi uma surpresa pra mim, já que foi uma historia muito criativa que usou elementos innovadores. É algo muito diferente ao que estávamos acostumados a ver. Realmente vale a pena todo o trabalho que a produção fez, cada detalhe faz que seja um grande filme. Acho que é uma boa idéia fazer este tipo de adaptações cinematográficas dos quadrinhos.

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