Título original: Spider-Man: Into the Spider-Verse (2018)
Argumento: Phil Lord, Rodney Rothman
Elenco: Shameik Moore, Jake Johnson, Hailee Steinfeld, Liev Schreiber, Mahershala Ali, Brian Tyree Henry, John Mulaney, Kimiko Glenn, Nicolas Cage, Lily Tomlin, Kathryn Hahn
Depois de nos trazerem filmes de extrema inteligência na subversão dos respectivos géneros, mantendo um nível de humor que muitos lutam por saber replicar, as mentes por trás de 21 Jump Street e The Lego Movie voltam a surpreender no que parece ser uma aposta complicada mas que nos agarra desde o primeiro teaser que surgiu.
Não se poderia alguma vez falar sobre este filme sem premiar os visuais extraordinários, que quebram um limite na animação que nem conhecia, criando um estilo totalmente novo, ao mesmo tempo que baseado em algo a este ponto já tão conhecido, numa homenagem sem receios de ser criativa e sincera a um meio cada vez mais assoberbado de adaptações e mudanças.
Esse arrojo passa igualmente para a história; depois dos filmes nomeados acima, não seria de esperar menos do que a subversão de um género sem o desrespeitar e, ao invés, o filme tira total proveito das suas próprias potencialidades, contradições e complexidades. Ao longo de toda a sua duração brinca com a ideia de diversas realidades coexistentes, apontando as mínimas variações existentes numa semelhante origem entre as diferentes iteracções da personagem de Homem-Aranha, sem perder o seu lado mais dramático, em equilíbrio com um humor introduzido nos momentos correctos e nunca sobreposto à narrativa, mesmo quando personagens absurdas se apresentam.
Mas apesar de uma narrativa que tira proveito de tantas criações, o filme consegue arranjar o tempo para se focar, primordial, contínua e consistentemente, em Miles Morales (Shameik Morre), numa personagem que, na sua base, se assemelha bastante a Parker, mas cuja grande diferença passa pela relação que mantém com o tio que, sendo uma influência ambígua para Miles, apresenta-se mais disponível para ensiná-lo do que o seu distante pai, o que traz uma contrastante dicotomia digna de um adolescente que necessita de aprender sobre responsabilidade.
Para esse aspecto narrativo ajuda também o Peter Parker de Johnson. As pessoas, de uma forma geral, tendem a desvalorizar versões (no grande ecrã) alternativas ou evoluídas das suas personagens favoritas, por se distanciarem da versão que têm em mente quando entram na sala de cinema ou dos valores que em tempos defendiam, como aconteceu com Batman ou Luke Skywalker em tempos recentes.
Mas se olharmos para esta versão de Peter Parker, mais velho e ressentido com uma vida da qual se farta mas igualmente não se quer distanciar e, por isso, com uma atitude despreocupada e algo infantil, mas não deixando de parte o dever que sabe que deve manter, o que pareceria alienígena face o nosso conhecimento dessa personagem, permite aqui criar uma relação com Miles que o fará aprender a reavaliar as escolhas que tomou até então, para da mesma forma se tornar um mentor para um novo Homem-Aranha que apresenta dificuldades em deixar-se abrir às suas recentemente descobertas capacidades.
Em paralelo a tudo isto, o elemento narrativo que permite o desenvolvimento da premissa do filme (da junção de diferentes universos paralelos) não se apresenta solto de tudo o resto, servindo como mote para o filme, como forma de apresentação das diferentes personagens presentes no filme, e como motivação para um dos vilões do filme que apenas busca domínio sobre o seu próprio tempo com algo que perdeu. Assim, todos os elementos se integram para um todo coeso, que nunca se sente verdadeiramente fragmentado nos seus variadíssimos pedaços, aproveitando a temática subjacente ao subtítulo para albergar todo o argumento.
E assim se nota que, quando é dado controlo sobre personagens das quais uma equipa conhece verdadeiramente o potencial e para o qual é capaz de utilizar um meio como a animação de forma tão arrojada, podemos ter um resultado final como Into the Spider-Verse, que efectivamente não apresenta quaisquer receios no risco que toma, por ter (e saber que tem) controlo sobre todos os seus aspectos.
Esse arrojo passa igualmente para a história; depois dos filmes nomeados acima, não seria de esperar menos do que a subversão de um género sem o desrespeitar e, ao invés, o filme tira total proveito das suas próprias potencialidades, contradições e complexidades. Ao longo de toda a sua duração brinca com a ideia de diversas realidades coexistentes, apontando as mínimas variações existentes numa semelhante origem entre as diferentes iteracções da personagem de Homem-Aranha, sem perder o seu lado mais dramático, em equilíbrio com um humor introduzido nos momentos correctos e nunca sobreposto à narrativa, mesmo quando personagens absurdas se apresentam.
Mas apesar de uma narrativa que tira proveito de tantas criações, o filme consegue arranjar o tempo para se focar, primordial, contínua e consistentemente, em Miles Morales (Shameik Morre), numa personagem que, na sua base, se assemelha bastante a Parker, mas cuja grande diferença passa pela relação que mantém com o tio que, sendo uma influência ambígua para Miles, apresenta-se mais disponível para ensiná-lo do que o seu distante pai, o que traz uma contrastante dicotomia digna de um adolescente que necessita de aprender sobre responsabilidade.
Para esse aspecto narrativo ajuda também o Peter Parker de Johnson. As pessoas, de uma forma geral, tendem a desvalorizar versões (no grande ecrã) alternativas ou evoluídas das suas personagens favoritas, por se distanciarem da versão que têm em mente quando entram na sala de cinema ou dos valores que em tempos defendiam, como aconteceu com Batman ou Luke Skywalker em tempos recentes.
Mas se olharmos para esta versão de Peter Parker, mais velho e ressentido com uma vida da qual se farta mas igualmente não se quer distanciar e, por isso, com uma atitude despreocupada e algo infantil, mas não deixando de parte o dever que sabe que deve manter, o que pareceria alienígena face o nosso conhecimento dessa personagem, permite aqui criar uma relação com Miles que o fará aprender a reavaliar as escolhas que tomou até então, para da mesma forma se tornar um mentor para um novo Homem-Aranha que apresenta dificuldades em deixar-se abrir às suas recentemente descobertas capacidades.
Em paralelo a tudo isto, o elemento narrativo que permite o desenvolvimento da premissa do filme (da junção de diferentes universos paralelos) não se apresenta solto de tudo o resto, servindo como mote para o filme, como forma de apresentação das diferentes personagens presentes no filme, e como motivação para um dos vilões do filme que apenas busca domínio sobre o seu próprio tempo com algo que perdeu. Assim, todos os elementos se integram para um todo coeso, que nunca se sente verdadeiramente fragmentado nos seus variadíssimos pedaços, aproveitando a temática subjacente ao subtítulo para albergar todo o argumento.
E assim se nota que, quando é dado controlo sobre personagens das quais uma equipa conhece verdadeiramente o potencial e para o qual é capaz de utilizar um meio como a animação de forma tão arrojada, podemos ter um resultado final como Into the Spider-Verse, que efectivamente não apresenta quaisquer receios no risco que toma, por ter (e saber que tem) controlo sobre todos os seus aspectos.
Sem comentários:
Enviar um comentário