Título original: Mowgli: Legend of the Jungle (2018)
Realização: Andy Serkis
Argumento: Callie Kloves
Elenco: Rohan Chand, Christian Bale, Andy Serkis, Naomie Harris, Benedict Cumberbatch, Peter Mullan, Tom Hollander, Jack Reynor, Matthew Rhys, Freida Pinto
É de facto um infortúnio que Serkis tenha decidido lançar-se na adaptação desta história ao mesmo tempo que a Disney fez a passagem para "imagem real" da sua própria adaptação de 1967. E, ainda que o tom e a narrativa deste incluam elementos aparentemente mais próximos do livro original, talvez por esse mesmo facto não tivesse sido uma boa aposta incluir este filme nos cinemas.
O primeiro elemento que define e distingue este empreendimento cinematográfico é o tom com que conta a narrativa, por si só mais completa e complexa que o seu primo da Disney. Enquanto que o estúdio da Disney tende a aligeirar as histórias que conta, mesmo que mantendo um tom bastante dramático e emotivo por vezes, o argumento aqui não foge dos momentos mais fortes e chocantes que certamente a história original de Rudyard Kipling incluía, já que esta é uma história que pretende demonstrar um olhar mais dramático e crítico (ainda que o mais subtilmente possível) sobre a posição do homem face à natureza, e o equilíbrio desejado presente na personagem de Mogli.
Para isso, Serkis, com toda a sua experiência enquanto actor na utilização do sistema de motion capture em séries tão distintas no seu uso como Lord of the Rings ou o mais recente reboot de Planet of the Apes, consegue tornar este filme mais distinto e eficaz no que toca à expressão das suas personagens que o filme de Jon Favreau de há dois anos. Serkis compreende a necessidade de oferecer uma maior expressão humana aos animais, de forma a nos reconhecermos um pouco nestes seres, ao contrário de The Jungle Book, que oferece um olhar mais realista sobre o "desenho" das personagens, o que parece contraditório, dado o carácter de cada filme.
Chama-se especial atenção para a perícia na criação de Bagheera de Bale e Baloo de Serkis, não fossem personagens principais, um deles inclusivamente interpretado pelo realizador e pessoa que masterizou estas técnicas desde há dezasseis anos. Ainda assim, a expressão dos lobos aqui parece estranha e algo falsa, provavelmente dado a forma do focinho, que não permite o mesmo efeito humanizador e antropomórfico atingido com os restantes animais.
Felizmente, para todos eles as respectivas interpretações oferecem um apoio extra tremendo para a nossa aceitação desta realidade paralela, seja com Bale, Serkis, Harris ou Cumberbatch.
Para além da utilização dos gráficos computacionais com grande efeito nas personagens animais, também a utilização da cor na criação da floresta imensa que Mogli (e a audiência) explora ao longo desta jornada permite um encantamento por este mundo muito eficaz na narrativa que pretende contar. O perigo e maravilha patentes nas várias cenas ajudam-nos a imergir na dicotomia que esta equipa nos pretende demonstrar.
Aliás, o que poderia ser uma mensagem dirigida directamente ao público, como é exemplo um recente blockbuster, é aqui completamente integrada no visual e narrativa do filme, sem nunca se auto-nomear, muito provavelmente por natureza da história original. A posição do Homem face a Natureza da qual é o seu maior predador e a responsabilidade que deve assumir perante o seu poder é patente muito bem na dicotomia que Mogli sente quando conhece Lockwood e a população que ele está a proteger, uma integração que nunca sentira e que termina com uma cena bastante provocatória e traumática, que leva ao conflito final entre os dois lados e permite a Mogli tornar-se o equilíbrio perfeito entre os dois mundos.
Apesar de tudo isto, era necessário mais tempo para o desenvolvimento de certos aspectos narrativos, ainda que o ritmo seja um pouco lento mas acertado. À semelhança do filme de 2016 no que tocava a relação entre Mogli e Baloo, aqui teria sido importante um pouco mais tempo passado com ambos as facetas, humana e animal, para entender, por um lado, como se deu o crescimento de Mogli no meio da matilha e foi surgindo a constante dúvida e insegurança na sua pertença à mesma, e por outro, o reconhecimento de uma ligação com os da sua própria espécie que não possuía com os animais da floresta com quem viveu durante toda a sua infância. Isso ajudaria a aceitar melhor as suas dúvidas e passagem de um para outro lado.
Por estas razões, Mowgli não atinge um patamar de excelência para o qual tinha todo o potencial, dadas as ferramentas utilizadas e o elenco escolhido. Serkis consegue, no entanto, demonstrar muito eficazmente o que aprendeu com a sua experiência enquanto actor (e assistente de realização), assim como uma visão bastante própria e interessante. Infelizmente, face a mesma aposta da Disney e dado o tom do filme, este empreendimento ter-se-ia perdido nas salas de cinema sem sucesso, pelo que será melhor a possibilidade de o achar por entre a selecção da Netflix.
Para isso, Serkis, com toda a sua experiência enquanto actor na utilização do sistema de motion capture em séries tão distintas no seu uso como Lord of the Rings ou o mais recente reboot de Planet of the Apes, consegue tornar este filme mais distinto e eficaz no que toca à expressão das suas personagens que o filme de Jon Favreau de há dois anos. Serkis compreende a necessidade de oferecer uma maior expressão humana aos animais, de forma a nos reconhecermos um pouco nestes seres, ao contrário de The Jungle Book, que oferece um olhar mais realista sobre o "desenho" das personagens, o que parece contraditório, dado o carácter de cada filme.
Chama-se especial atenção para a perícia na criação de Bagheera de Bale e Baloo de Serkis, não fossem personagens principais, um deles inclusivamente interpretado pelo realizador e pessoa que masterizou estas técnicas desde há dezasseis anos. Ainda assim, a expressão dos lobos aqui parece estranha e algo falsa, provavelmente dado a forma do focinho, que não permite o mesmo efeito humanizador e antropomórfico atingido com os restantes animais.
Felizmente, para todos eles as respectivas interpretações oferecem um apoio extra tremendo para a nossa aceitação desta realidade paralela, seja com Bale, Serkis, Harris ou Cumberbatch.
Para além da utilização dos gráficos computacionais com grande efeito nas personagens animais, também a utilização da cor na criação da floresta imensa que Mogli (e a audiência) explora ao longo desta jornada permite um encantamento por este mundo muito eficaz na narrativa que pretende contar. O perigo e maravilha patentes nas várias cenas ajudam-nos a imergir na dicotomia que esta equipa nos pretende demonstrar.
Aliás, o que poderia ser uma mensagem dirigida directamente ao público, como é exemplo um recente blockbuster, é aqui completamente integrada no visual e narrativa do filme, sem nunca se auto-nomear, muito provavelmente por natureza da história original. A posição do Homem face a Natureza da qual é o seu maior predador e a responsabilidade que deve assumir perante o seu poder é patente muito bem na dicotomia que Mogli sente quando conhece Lockwood e a população que ele está a proteger, uma integração que nunca sentira e que termina com uma cena bastante provocatória e traumática, que leva ao conflito final entre os dois lados e permite a Mogli tornar-se o equilíbrio perfeito entre os dois mundos.
Apesar de tudo isto, era necessário mais tempo para o desenvolvimento de certos aspectos narrativos, ainda que o ritmo seja um pouco lento mas acertado. À semelhança do filme de 2016 no que tocava a relação entre Mogli e Baloo, aqui teria sido importante um pouco mais tempo passado com ambos as facetas, humana e animal, para entender, por um lado, como se deu o crescimento de Mogli no meio da matilha e foi surgindo a constante dúvida e insegurança na sua pertença à mesma, e por outro, o reconhecimento de uma ligação com os da sua própria espécie que não possuía com os animais da floresta com quem viveu durante toda a sua infância. Isso ajudaria a aceitar melhor as suas dúvidas e passagem de um para outro lado.
Por estas razões, Mowgli não atinge um patamar de excelência para o qual tinha todo o potencial, dadas as ferramentas utilizadas e o elenco escolhido. Serkis consegue, no entanto, demonstrar muito eficazmente o que aprendeu com a sua experiência enquanto actor (e assistente de realização), assim como uma visão bastante própria e interessante. Infelizmente, face a mesma aposta da Disney e dado o tom do filme, este empreendimento ter-se-ia perdido nas salas de cinema sem sucesso, pelo que será melhor a possibilidade de o achar por entre a selecção da Netflix.
Sem comentários:
Enviar um comentário