sábado, 16 de novembro de 2019

Exterminador Implacável: Destino Sombrio, por Eduardo Antunes


Título original: Terminator: Dark Fate (2019)
Realização: Tim Miller

Mais uma vez, a ironia de um título que representa a sensação exacta após o visionamento do filme. O destino desta franquia é de facto sombrio após um filme que, apesar de um igual número de argumentistas e protagonistas, não consegue passar além das mesmas ideias, com uma realização que nem sequer nos cativa a permanecer no cinema sem inúmeros bocejos.

Já o dissera antes com Terminator Genisys que a hipótese de continuação desta série de filmes de acção passava por um melhor planeamento e algum tipo de inovação na sua narrativa. Nesse sentido, não foi por acaso nem inocente a minha recente visualização e crítica da série The Sarah Connor Chronicles, já que o seu criador esteve envolvido com este filme mas, mais, essa série demonstrava novas ideias e formas de subverter as expectativas jogando com os elementos conhecidos. Aqui, todas as batidas são as mesmas, onde apenas o duo originário é realmente aproveitado, numa espera inexistente mas correspondida positivamente.

Se no filme anterior, o regresso de Schwarzenegger servia meramente de ligação nostálgica aos filmes originais, aqui, quer o seu retorno quer o de Linda Hamilton, servem felizmente o particular propósito de evoluir de forma natural as suas personagens para lá do que já tivera sido feito. Para ambos os actores que aqui retornam, os caminhos das suas personagens demonstram as consequências que a falta de um propósito acarreta nas suas existências, de forma contrária ao que esperaríamos.
No caso de Carl, a possibilidade de uma crescente humanidade de um exterminador explorada há vinte e oito anos é levada ao limite, onde o criador da série acima referida há de ter contribuído particularmente, por reportar a ideias previamente existentes no seu esforço televisivo. No caso de Sarah, isso representa o real finalizar da sua trilogia, onde depois dos eventos de Judgment Day, ela enfrenta o pior pesadelo seguido ao Juízo Final.

Aliás, é particularmente interessante reconhecer uma ideia presente em outros filmes recentes, remetente à perda da memória de um ente querido e ao medo, ao desespero que isso representa no prolongamento da vida de uma pessoa. Infelizmente, está renegada a uma única cena cuja interpretação de Linda Hamilton, apesar de tudo, confere-lhe o peso e gravidade inerentes.



O problema que revitalizar personagens antigas acarreta nesta narrativa é a falta de desenvolvimento oferecida às personagens aqui apresentadas. Para as diferentes cenas em que Sarah e Carl permitem-se reconhecer as suas limitações e crescer perante elas, recebemos apenas uma cena em que Grace revela a sua experiência no futuro e os receios patentes. Em toda esta narrativa, nem a Dani é merecido qualquer prolongado tempo de ecrã, servindo meramente como dispositivo para fazer avançar o enredo, que não seria problemático se ao iniciar o terceiro acto do filme nos não fosse pedida credibilidade para com esta personagem. Na apresentação de duas novas protagonistas femininas à franquia, não lhes é feita qualquer justiça, particularmente a Mackenzie Davis.

Além disso, a contínua ideia (não apenas desta franquia, mas nela demasiado presente) de "actualizar" e aumentar os confrontos entre heróis e vilões a cada novo filme apenas contribui para a confirmação da falta de imaginação aqui patente. Novamente, reportando à série de uma década, os limites orçamentais permitiram, ao invés de encaixar novos inimigos na mesma narrativa, experimentar com novos elementos narrativos no mesmo pacote de inimigos que já conhecemos. 

Até porque aqui – compreensivelmente, por já não ser possível haver melhoria para lá de um andróide composto totalmente de metal líquido – apenas existe uma junção dos antagonistas dos dois primeiros filmes (como já em Rise of the Machines), num esqueleto metálico rodeado de uma pele líquida e independente. Mas nem serve isto para realizar empolgantes e tensas sequências de acção, que podiam retornar aos elementos de horror dos primeiros filmes, através da inabilidade dos protagonistas em rivalizar com um inimigo desdobrável e passível de os flanquear. Em vez disso, recebemos sequência atrás de sequência atrás de sequência, cada vez maior em escala, mas cujo aumento de perigo nunca parece afectar nenhum dos meros humanos que se interpõem no caminho do exterminador.

Tudo isto faz com que toda a acção apenas relembre filmes passados, sem demonstrar carácter próprio, imaginação ou melhoria relativamente aos antecessores, seja na narrativa, seja na acção coreografada, cujo festim de efeitos visuais, no seu exponencial exagero, apenas nos endormece. E mesmo para quem assista com um olhar virgem sobre uma franquia que os mais jovens já não reconhecerão, a ingratidão de assistir a antigas personagens que ganham mais no conhecimento do seu passado e a novas personagens que não recebem mais que lugares comuns, cobre todo o esforço empregado. O destino é incerto, e talvez o seja necessariamente.



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