Génova, por Carlos Antunes

Título original: Genova
Realização: Michael Winterbottom

Argumento: Laurence Coriat e Michael Winterbottom

Elenco: Hope Davis, Colin Firth, Catherine Keener, Willa Holland e Perla Haney-Jardine

Genova é, na sua maior parte, uma história de assombrações.
Sobre as suas personagens, sobretudo as duas raparigas, pende um permanente prenúncio de catástrofe.

Génova é o local escolhido para uma fuga em frente de um pai agora viúvo e com duas filhas para cuidar.
Uma vive ainda assombrada pela culpa da morte da mãe e não adormece senão para pesadelos.
A outra sente a sua vida despedaçada nesta fuga e refugia-se na raiva adolescente mal direccionada.
E o pai parece prestes a libertar-se para novos prazeres.

Mas a história de fantasmas mostra-se indecisa, ora tornando esses fantasmas "palpáveis", ora querendo apenas deixá-los como uma inescapável sentença de desgraça por mais que dela se fuja.
Na indecisão de ser somente figurativo ou de ser real o filme desperdiça a sua promessa, como se estivesse satisfeito na indulgência de se fingir enigmático e sugestivo por via de ser parco.

Promessa essa que sai sobretudo da forma como com tão pouco o filme sugere a nova relação entre as duas raparigas.
O seu comportamento, o seu afastamento, a sua insinuação na vida uma a outra, o seu comportamento através das ruas das cidades dia após dia, constroem o retrato de uma relação de fraternidade afectada por muito mais do que a simples diferença de idades.

São elas as duas, com duas excelentes interpretações, que marcam o filme.
As duas sempre tentadoras da desgraça, subtis o suficientes para nos deixarem incertos.
Os actores consagrados parecem apenas seguir de longe os passos das duas.
Como o filme parece esquecer-se que não poderia apenas seguir os passos das duas pelas ruas de Génova para se concretizar.
Por mais que elas o merecessem.