segunda-feira, 15 de março de 2010

O Laço Branco, por Carlos Antunes


Título original: Das weisse Band
Realização:
Michael Haneke
Argumento:
Michael Haneke
Elenco: Christian Friedel, Ernst Jacobi, Leonie Benesch, Ulrich Tukur e Ursina Lardi

O laço branco que as crianças transportam serve de recordação à pureza que lhes é exigida.
Mas é também uma grilheta que eles têm de carregar, a grilheta dos velhos ensinamentos, das pressões que não levam em conta as características das crianças, a grilheta da rejeição da sua individualidade e das suas necessidades.
A educação que lhes dão não lhes proporciona aquilo por que anseiam e aprenderão a libertar-se das formas mais abjectas.


Daí que a fotografia a preto e branco de Michael Haneke seja também tão limpa, sem um pequeno grão, tornando o ambiente opressivo e não idílico como se poderia pensar.
A opressão que as crianças sentem - mas também, como veremos, todo o povo trabalhador da aldeia sempre ao serviço do barão - predispõe-nas para a vingança violenta, para o silêncio mentiroso e para a consciência (ou falta dela) colectiva.
Três factores dominantes para um servilismo acrítico de causas vazias.


Dizem, certamente com razão, que as crianças podem ser muito mais crúeis que os adultos, algo que vemos bem quando a vingança de um adulto se processa contra um campo de couves e a das crianças contra um deles próprio, ganhando contornos mais extremos quando se trata de uma criança deficiente que nada tem a ver com as exigências que lhes fazem.
Ou talvez tenha, pois ele, na sua ingénua existência, atinge tudo aquilo que lhes exigem sem esforço ou determinação. Vive a feliz ignorância de nada lhe exigirem.


Este pensamento de vingança contra um "bode expiatório" é resultado da opressão em que estas crianças crescem, desde logo predispondo-as a um futuro de violência que o filme anuncia no seu final, o do nazismo alemão.
Mas, contradição das contradições, eles que não queriam seguir as ordens que lhes davam, acabam por se organizar num grupo que segue a vontade geral e não tem espaço para a individualidade de escolha - caso contrário essa criança sofrerá as consequências - e preparam-se para o continuar a fazer.


A responsabilidade da educação é um tema tão presente no filme como a própria ideia de que a extremada pureza pode ser a maior fonte de maldade que se encontra.
Michael Haneke conseguiu, mais uma vez, reflectir ferozmente num filme seu sobre temas que não se podem ignorar, sem nunca desprezar a essência cinematográfica do meio onde se expressa.
Temas que, desta vez, falam tanto do passado, como do presente que o tende a repetir.



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