Review: Glee, season 1

Glee não é uma série fácil de gostar ao primeiro episódio. Na verdade, não é uma série fácil de gostar ao segundo ou terceiro também. A teatralidade e o facto de ser um musical onde as personagens principais são adolescentes é logo das primeiras coisas a desmotivar uma pessoa, provavelmente por associações instantâneas a filmes como High School Musical.

A verdade é que assim que assumimos isto como facto e não como defeito, a série passa a ser boa. A integração das músicas é, na maior parte das vezes, lógica e ajuda ao avanço do argumento, e os cantores são de qualidade, as duas coisas que realmente distinguem um bom musical dos restantes. Glee poderia assumir-se como um cartoon da sociedade, que não estaria errado. As situações são geralmente levadas a extremos, fazendo uma caricatura e muitas vezes ridicularizando-a.

As personagens adolescentes são, na sua maioria, representantes dos diversos grupos em que os adolescentes se inserem, bem como apresentam características com as quais muitos adolescentes se relacionaram (o rapaz homossexual, a rapariga com excesso de peso, a líder de claque, a rapariga grávida, etc.), sendo um golpe de génio para criar uma legião de fãs que assistem religiosamente a cada episódio. Ainda assim, é uma personagem adulta que faz a série: Sue Sylvester (Jane Lynch), possivelmente a pior vilã da história da TV, com provavelmente as citações mais politicamente incorrectas.

Dentro dos actores adolescentes, provavelmente as duas grandes descobertas são Lea Michelle e Chris Colfer, que interpretam Rachel e Kurt, respectivamente. A veterana da Broadway é o que se poderia considerar a personagem principal, que no fundo aspira à carreira de Lea, e Chris tem provavelmente o papel menos fácil de todos, mas consegue dar o seu cunho à personagem e torná-la inesquecível. Já Cory Monteith no papel de Finn deixa por vezes um pouco a desejar, tendo um desempenho inferior ao que se esperaria de uma personagem com tanto destaque.

A escolha das músicas também é claramente estudada, utilizando desde músicas recentes a grandes clássicos, quase todas inserindo-se perfeitamente no contexto do episódio (excepção feita ao episódio dedicado a Madonna, que pecou por um certo exagero e algumas cenas feitas claramente para servir a música). As versões das músicas normalmente são bastante boas, algumas superando mesmo as versões originais.

Apesar de o público-alvo ser claramente o mais jovem, Glee não se fecha a ele, utilizando referências e levando por vezes o humor ao público mais velho que assiste à série. Assim sendo, Glee é o que realmente se pode chamar um guilty-pleasure, que apesar de toda a teatralidade envolvida consegue trazer uma dose de realidade.

O melhor:

• as tiradas de Sue Sylvester
• as músicas

O pior:

• não ser fácil de encaixar
• ridicularizar demasiado algumas situações
• episódio dedicado a Madonna