quinta-feira, 10 de março de 2011

As Múmias do Faraó: As Aventuras de Adèle Blanc-Sec, por Tiago Ramos


Título original: Les aventures extraordinaires d'Adèle Blanc-Sec (2010)
Realização: Luc Besson
Argumento:
Luc Besson e Jacques Tardi
Elenco: Louise Bourgoin, Mathieu Amalric e Gilles Lellouche

Sejamos francos. Por mais que a nossa cinefilia possa tender para o drama bem orquestrado, para o épico sumptuoso, para o realismo social, para o experimentalismo ou para o art-house, a verdade é que poucos são os que ficam indiferentes ao verdadeiro filme de entretenimento, vulgo cinema pipoca. Uns são mais tolerantes que os outros nos limites desse cinema entretenimento, mas na hora da verdade, acabamos sempre por ceder ora por nossa própria intenção e gosto, ora por arrastamento de uma terceira pessoa.



As Múmias do Faraó: As Aventuras de Adèle Blanc-Sec recupera esse tipo de cinema cada vez mais ausente dos grandes ecrãs, o típico filme de aventuras, divertido e sem mais para reflexão. Vencedor do Prémio do Público no Fantasporto 2011, o filme é um reencontro do espectador comum ao velho Luc Besson da altura de The Fifth Element (1997), de características pitorescas e com um sentido de humor excepcional. Escolha interessante por parte do cineasta em aproveitar uma bem-sucedida banda-desenhada franco-belga de Jacques Tardi, com uma (rara) protagonista feminina, embora não tenha tido retorno financeiro em terras francesas.

O filme é claramente um daqueles casos extremos: ou ama-se ou detesta-se. Dificilmente alguém lhe ficará indiferente pela ligeireza e humor com que segue as aventuras de uma intrépida e corajosa (uma mistura de Indiana Jones com Lara Croft, com mais inteligência e classe e num ambiente – não só pelo argumento - ao género de The Mummy) escritora e jornalista num mundo com tanto de fantasia que nem parece uma Paris dos anos 70, não fossem as indumentárias utilizadas pelas personagens e os cenários. O argumento simples, com grandes apetências infanto-juvenis, é despretensioso e virado para a gargalhada fácil desde o início ao fim, capaz de deixar uma audiência inteira rendida ao seu encanto (como se viu no Fantasporto). Embora, de facto a mistura de dois eventos de elevado surrealismo na trama (pterodáctilos e múmias) possam acabar por ser exagerados – talvez resultassem melhor individualmente – o humor com que os conjugam é delirante, sempre com grande ritmo e energia.



Mas essa energia e humor nunca estariam completos não fosse a extasiante interpretação da jovem francesa Louise Bourgoin (Le Petit Nicolas) que deixa uma plateia rendida ao seu talento e na expectativa de uma promissora carreira. É o seu charme e a sua determinação que encantam e tão bem se adequam a esta invulgar personagem de banda-desenhada.

Tecnicamente o filme surpreende e não fica aquém da concorrência norte-americana. A começar pela fotografia de Thierry Arbogast (The Fifth Element), passando pela direcção artística de Hugues Tissandier (Arthur et les Minimoy) até ao guarda-roupa de Olivier Bériot (Le scaphandre et le papillon). Destaque ainda para os efeitos visuais e CGI, bastante competentes e que resultam bem melhor que o esperado.



As Múmias do Faraó: As Aventuras de Adèle Blanc-Sec pode não ser um filme perfeito, mas cumpre completamente o seu objectivo e assume-se como uma interessante proposta de cinema familiar e de aventura, um género cada vez mais ignorado no cinema actual. A sua simplicidade e honestidade são raras, deixando o espectador ansioso pelos capítulos que completarão esta trilogia de aventuras de Adèle Blanc-Sec.

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