Título original: Les amours imaginaires (2010)
Realização: Xavier Dolan
Argumento: Xavier Dolan
Na sua primeira longa-metragem, J’ai tué ma mère, o jovem canadiano Xavier Dolan surpreendeu o mundo cinéfilo (o pouco que conseguiu ter acesso ao filme que viu a sua distribuição limitada, na sua maioria, ao circuito de festivais). As reacções fizeram-se chegar ambíguas, ora divididas entre o seu talento e a sua arrogância e narcisismo. Relembre-se que Xavier Dolan, com apenas 19 anos, produziu, escreveu, realizou e protagonizou o seu primeiro filme. A sua segunda longa-metragem chega agora a Portugal através do IndieLisboa 2011 (tal como o primeiro filme apenas estreou em Portugal na edição anterior do mesmo festival) e será provavelmente o primeiro filme do realizador a ter estreia comercial em no nosso país.
Ora Amores Imaginários é uma espécie de continuação do estilo que Xavier Dolan revelou em J’ai tué ma mère. Uma estética muito própria e estilizada que se assemelha a uma mistura entre o cinema do espanhol Pedro Almodóvar e do chinês Wong Kar-Wai. Encontramos aqui uma visão obsessiva e sentida sobre a paixão, em meio a cenas habilmente artísticas e estilizadas, com sequências repletas de cor ou monólogos – em jeito de confissão – a preto e branco, ou ainda o abuso de zoom e slow-motion em sequências musicais (como a brilhante versão de Bang Bang, cantada pela italiana Dalida). O que realmente se destaca não é tanto o argumento em si, que embora com as mais variadas nuances acaba por ser mais linear que o seu antecessor, mas sobretudo a forma como essa história é contada. Xavier Dolan é frequentemente atento aos detalhes, sedutor nato e amante dessa sedução no cinema, mas tem tendência em não se preocupar tanto em focar psicologicamente as suas personagens, porque o que lhe interessa é a demonstração física dos anseios e expectativas de cada personagem, através de olhares e pequenos gestos. Apresenta-se com uma sucessiva composição fetichista, numa visão burguesa onde os seus interesses são um reflexo da sua experiência de vida.
Não queremos dizer que Amores Imaginários seja um mau filme. Pelo contrário, cativa o espectador pela sua visão narcisista e poética de uma história obsessiva de paixão e rivalidade. As referências ao cinema e cultura pop são agradáveis, bem como o já referido detalhe com que somos brindados em grande parte das cenas, repleto de estética vintage e em alguns momentos kitsch. Mas o problema é a sensação que estamos perante uma manta de retalhos, altamente sensorial mas com um sentido oco. No entanto um leve sentimento de familiaridade e reconhecimento próprio em algumas das situações descritas pode despertar empatia no espectador - quem nunca rivalizou na paixão? É sobretudo um filme de sentimentos – não só juvenis, mas na sua generalidade – e polarizador de emoções. A nível de elenco, o próprio Xavier Dolan é um protagonista interessante – igual a si próprio, é verdade, mas suficientemente narcisista e egocêntrico para se encaixar bem no papel das suas personagens, claramente autobiográficas. Também Monia Chokri enquadra-se bem no ambiente recriado e prepara-se para trabalhar mais uma vez com o cineasta no seu próximo filme: Lawrence Anyways. Por fim temos dois actores recorrentes na sua curta filmografia: a talentosa actriz canadiana Anne Dorval que faz aqui um breve apontamento e Niels Schneider, claramente actor-fetiche com semelhanças a Louis Garrel, tanto na aparência como na expressão corporal que imprime nos seus papeis (embora com alguma inexperiência) a que o realizador não resiste em comparar repetidas vezes a um Adónis.
Porém, se o factor surpresa ajudou em J’ai tué ma mère (e mantenho a minha opinião sobre esta primeira longa-metragem: é de facto um bom e fascinante filme), na segunda vez torna-se mais monótono. Não deixa de ser uma perspectiva interessante de cinema – e menos vazia que outras que por aí andam. Xavier Dolan tem potencial para se tornar um interessante realizador no panorama cinematográfico internacional, mas necessita de crescer mais a nível psicológico e emocional, já que este nível de masturbação artística – por mais válido ou interessante que possa ser – acaba por tornar-se cansativo.
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