domingo, 24 de julho de 2011

The Extra Man, por Carlos Antunes


Título original: The Extra Man
Realização: Shari Springer Berman e Robert Pulcini
Argumento: Shari Springer Berman, Robert Pulcini e Jonathan Ames
Elenco: Kevin Kline, Paul Dano e John C. Reilly
Distribuidora: Magnolia Home Entertainment

Shari Springer Berman e Robert Pulcini já tinham mostrado que sabem ser tão ousados quanto ternos nas suas escolhas de material escrito para transformarem em filme.
Ainda não tinham encontrado, como aqui, material que estivesse em sintonia com ambas essas capacidades. Sem o azedume constante do olhar sobre si mesmo de Harvey Pekar e sem a excessiva doçura da inevitável comédia romântica de Emma McLaughlin e Nicola Kraus.
Jonathan Ames escreveu um livro que tem um lado de divertida magia do acaso (ou não se passasse em Nova Iorque) sobre dois cavalheiros fora do seu tempo e um lado de dureza pela realidade amedrontada em que (ainda) vivem os homens modernos.
Um jovem e outro velho, um a tentar entrar na idade adulta e o outro a tentar não admitir que os seus melhores tempos passaram. Lutam para preservar a beleza de um tempo que já não existe enquanto lutam para negar a essência da modernidade dos seus desejos.
O filme só é terno até ao ponto em que a desponta a consciência da brutalidade dos temas que estão à espreita logo abaixo da superfície
Os desejos silenciados pela aparência da dignidade social, pela masculinidade silenciosa que os grandes modelos representam sem nenhuma sinceridade.
Os realizadores pegaram nestes temas sem procurar nenhuma solução visual ou estrutural engenhosa - embora a cena de abertura seja muito inteligente - mas deixando correr a maior parte do filme como se de uma simples comédia se tratasse, reforçando assim o efeito surpresa do que virá depois a destruir o conforto em que se instalou o espectador.
Shari Springer Berman e Robert Pulcini continuam sem ceder ao conforto dos que estão perante os seus filmes.
Filmes que só podem melhorar quando têm um Kevin Kline com uma das suas memoráveis interpretações e um Paul Dano a acompanhá-lo num bom patamar.
O único salto que faltou ao filme foi dar o salto para um modelo cinematográfico que substituisse Scott Fitzgerald. Algo que substituísse a adaptação do livro de Jonathan Ames por uma transformação de um livro sobre livros para um filme sobre filmes.
Mas isso é um pensamento ousado de alguém que admirou genuinamente o filme.


Extras
Destaque para dois comentários áudio que aprofundam a feitura do filme (com os realizadores e dois responsáveis de produção) e as próprias personagens (com Kevin Kline e Jonathan Ames). São ricos mas por vezes também um pouco sobrecarregados.
O pequeno documentário Behind-the-Scenes Score Footage é interessante de forma inesperada por se dedicar à composição da banda sonora, mas não chega a ser tão rico quanto deveria.
Já a presença de uma única cena cortada e de uma featurette televisiva era dispensável, e o Cartoon Clip Voiceover Recording é mera curiosidade.


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