quinta-feira, 29 de março de 2012

A Vingança de Uma Mulher, por Tiago Ramos



Título original: A Vingança de Uma Mulher (2011)
Realização: Rita Azevedo Gomes
Argumento: Rita Azevedo Gomes

É uma obra curiosa esta. Objecto intransigente na sua estrutura e concepção, bastante literal na sua interpretação que funde várias artes numa só. Entre cinema, teatro, bailado e pintura, Rita Azevedo Gomes assume essa estrutura teatral e não a larga. Faz-se assim A Vingança de Uma Mulher literalmente adaptado de um conto homónimo de Barbey D'Aurevilly, uma história poderosa sobre vingança e de uma mulher que se deixa consumir por ela. Na sua apreciação consegue deixar o espectador com sentimentos ambíguos. É sim uma obra dotada de uma mise-en-scène excepcional, onde nada é por acaso, onde a câmara e os seus planos longos assoberbam o ecrã com a sua imponência, num estilo muito equiparável e acreditamos, inspirado, numa estética de cinema próxima à de Manoel de Oliveira. O ritmo lento que empresta à narrativa juntamente com o seu artificialismo contribui para uma ambiguidade da sua apreciação, onde não sabemos muito bem o que é cinema, o que é teatro ou se ambos podem ser o mesmo.

De uma estética bastante cuidada, desdobra-se entre um forte texto, uma boa banda sonora e excelentes trabalhos a nível de guarda-roupa, fotografia (do sempre fantástico Acácio de Almeida) e cenografia. Cenário esse de estúdio que contribui para a atmosfera lírica e trágica da narrativa.  O artificialismo da forma declamatória como os actores interpretam o texto é simultaneamente o ponto forte do filme, como também o seu calcanhar de Aquiles. É sobretudo uma interpretação forte de Rita Durão, actriz com grande experiência em teatro que empresta a esta personagem toda a insanidade e monstruosidade necessárias.

A Vingança de Uma Mulher é de difícil digestão. Não que seja negativo, mas despoleta sentimentos ambíguos num espectador talvez já não tão acostumado com um cinema assim.


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