sábado, 24 de novembro de 2012

A Origem dos Guardiões, por Tiago Ramos


Título original: Rise of the Guardians (2012)
Realização: Peter Ramsey
Argumento: David Lindsay-Abaire
Elenco de vozes (versão portuguesa): Pedro Granger, José Fidalgo, Rita Redshoes, Paulo Pires e Manuel Cavaco

O mais interessante em A Origem das Guardiões é o facto de manter um certo sentido de deslumbramento, já raro no cinema e inclusive no cinema de animação para crianças. Um filme que raras vezes tenta chegar ao público mais adulto, porque é de um fascínio infantil assumido e orgulhoso. Apenas talvez a sua cena de abertura se permita perceber primeiro ao adulto que à criança, já que esta só a perceberá perto do clímax do filme. É um início adulto e que introduz um lado negro que é, a espaços, explorado, mas nunca o centro da acção. Aliás, aquilo que pretende é precisamente o que mostra: introduzir uma experiência literalmente mágica, para que as crianças abracem o seu lado infantil e abandonem o cepticismo. Fá-lo atrás da história adaptada da série de livros The Guardians of Childhood, da autoria de William Joyce, e cujo próprio nome revela a sua intenção. A qualidade técnica do trabalho da DreamWorks continua irrepreensível - riquíssima a nível visual - com uma influência gráfica do seu próprio produtor executivo Guillermo del Toro e acompanhada da banda sonora de Alexandre Desplat que dá um tom quase etéreo à trama em determinados momentos. Repleto de momentos melancólicos, introduz-se num universo fantástico elaborado, mas também por vezes agressivamente evidente, exibicionista e orgulhoso. Ao abdicar da conexão a um público diferente, mostra-se como um objecto rígido, por vezes perdido dentro do seu mundo colorido e fantástico. E mais grave: nem sempre num tom que pareça genuinamente honesto, especialmente quando sucumbe ao seu visual excessivo.

E se nem sempre a história é agradavelmente interesse - a sua narrativa é por vezes demasiado monótona na forma como conduz a acção, comummente estereotipada - grande parte do trabalho de raiz é estragado pela dobragem portuguesa. A voz de alguns nomes escolhidos para interpretar certas personagens, carece de profundidade dramática em alguns casos, assumindo um tom monocórdico em uns ou excessivamente infantil para outros, onde também algumas das pronúncias escolhidas estão drasticamente desenquadradas da cena ou da ideia geral do filme.

Em A Origem dos Guardiões, a magia existe, mas é tão visualmente evidente e excessiva que, não raras vezes, se esquece de a transmitir ao espectador de um ponto de vista emocional competente. Onde tenta desesperadamente transmitir uma ideia de moral, falta-lhe o rasgo de genialidade ou profundidade no desenvolvimento das personagens, originando um filme simpático, mas também plano.


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