quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Enquanto Dormes, por Tiago Ramos


Título original: Mientras duermes (2011)
Realização: Jaume Balagueró
Argumento: Alberto Marini
Elenco: Luis Tosar, Marta Etura e Alberto San Juan

Depois de se afastar temporariamente do franchise [REC] (embora regresse em breve a título individual para finalizar a saga), o espanhol Jaume Balagueró dedicou-se a um projecto bem mais subtil, mas também mais interessante, sem nunca perder o seu toque para o thriller com nuances de terror. O resultado foi este Enquanto Dormes que parte de uma ideia clássica do género para criar um dos mais fascinantes vilões dos últimos anos no cinema. O mérito não é todo do cineasta, já que o espanhol Luis Tosar (que merecia já bem maior destaque no mercado internacional) constrói um dos mais interessantes vilões dos últimos tempos, com humor negro, voyeurismo e malvadez à mistura. A sua personagem cresce gradualmente numa escalada obsessiva e doentia, à medida que cria uma elaborada e diabólica vingança, que ao espectador parecerá no início não mais que meras partidas de mau gosto. A sua personagem, tão calma quanto forte, é sobretudo o ponto alto do filme que, mesmo padecendo de alguma falta de claustrofobia que poderia ser interessante, não deixa de ser tenso e repleto de pequenas reviravoltas que só contribuem mais para revelar a forma diabólica como o protagonista conduz o seu plano.

O argumento falha porém na sua conclusão, talvez rebuscada demais para aquilo que tinha vindo a construir de forma tão refinada, ao mesmo tempo que atribui à personagem feminina - uma competente Marta Etura - uma ingenuidade incrivelmente absurda para o nível de pressão a que é sujeita. Pior é quando remete para uma reacção causa-efeito entre as acções do protagonista para com problemas maternos, que da forma como é colocada, não mais é que um mero lugar-comum em histórias do género. Porém Jaume Balagueró e o director de fotografia Pablo Rosso acertam na forma como atribuem àquele prédio uma certa tensão misteriosa, num estilo cuidado e subtilmente tenso; bem como ao excelente uso dos close-ups como aumento dessa mesma tensão. Mas sobretudo, o realizador sabe trabalhar com o seu actor principal, dando-lhe inteligentemente oportunidade para que conduza a personagem e a história a um nível de tensão, que de outra forma seria impossível de criar. É sobretudo a prova do talento de um realizador que é competente no seu trabalho e que parece ser o que liga os fragmentos dos, por si já fracos, filmes da saga [REC] (basta olhar para a desgraça que foi o trabalho de Paco Plaza em Génesis). Resta esperar que consiga aproveitar a projecção alcançada para outros rumos mais interessantes como este Enquanto Dormes.


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