quinta-feira, 11 de julho de 2013

Depois da Terra, por Tiago Ramos


Título original: After Earth (2013)
Realização: M. Night Shyamalan
Argumento: Gary Whitta e  M. Night Shyamalan

Não se pode dizer necessariamente que filmes como Depois da Terra representam uma ruptura completa com o trabalho anterior de M. Night Shyamalan ou a ausência da sua, digamos, assinatura. Pelo contrário. Até porque a sua personalidade parece quase evidente logo pela forma manuseia a câmara: veja-se a utilização de campos/contracampos frontais, por exemplo. Mas se há temática que sempre foi transversal à sua filmografia foi o medo, aqui um mecanismo usado para servir de alegoria à sociedade contemporânea e tantas vezes reforçada pelos protagonistas ao longo da história. Daí que o problema deste Depois da Terra não passa necessariamente pela ausência da sua personalidade enquanto realizador, como passará sobretudo pela estrutura narrativa (e pela narrativa per se), abdicando Shyamalan de ser ele um realizador-autor, para um mero veículo de uma história pensada - curiosamente ou não - pelo seu protagonista, Will Smith. E o que acabamos por ter em mãos é uma história previsível, num formato a fazer lembrar os videojogos (não só pelo seu tom), mas também na forma como estrutura a acção - temos até direito a uma espécie de "boss final", tão previsível como profundamente banal. E essa história passa por uma tentativa quase spielbergiana - mas frustrada - de abordagem da relação pai/filho, como um relato moralista de contornos (pouco) subtilmente ambientalistas, como uma espécie de "aviso à navegação". A nós, terrestres.

E se a história já não entretém particularmente, os seus protagonistas menos ajudam. Will Smith, do último reduto de actores-canastrões de Hollywood, faz o seu papel, mas sem grande emoção. Já Jaden Smith, tenta ser a sua cópia, mas consegue soar quase sempre forçado, com uma interpretação feita à base de constantes "caretas" para demonstrar emoções extremas. O co-protagonismo de ambos - pai e filho na tela e na vida real - parece fazer demonstrar que Depois da Terra não é mais que uma forma de Will promover o seu filho e lançá-lo para os escaparates de Hollywood, como já havia feito, por exemplo, quando produziu o remake de Karate Kid (2010), protagonizado por Jaden Smith. Aqui, além da história ser da sua autoria, assume tanto o papel de produtor (também a sua esposa e mãe de Jaden, Jada Pinkett Smith, tem a mesma função) como de protagonista, servindo como uma espécie de mentor à distância no argumento, assim como também na vida real. Safa-se Zoë Kravitz, pela sua jovialidade e talento, mesmo que na história esteja reduzida apenas a uma série de memórias.

Depois da Terra é frequentemente uma sucessão de eventos previsíveis e comuns, assim como uma série de afectações dos blockbusters de ficção-científica. A forma como os apresenta, tal como as suas graves incoerências narrativas e um incompreensível e fraco trabalho no que diz respeito aos efeitos visuais (não tinha este filme custado 130 milhões de dólares?), reduzem-no à insignificância que se calhar nem merecia e surge como mais um filme do género, entre tantos outros estreados anualmente. Sem graça e sem carisma.


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