domingo, 6 de outubro de 2013

Córtex - Apresentação do Júri



Na conferência de apresentação do festival Córtex os elementos do júri, excepção feita a Nuno Galopim que não pode estar presente, apresentaram as várias perspectivas que trazem para o papel a cumprir de seleccionar a melhor curta a concurso.


Carla Chambel falou da evolução do panorama das curtas-metragens que verificou a partir de dentro do meio nacional, com estas evoluíndo de obras menores - de treino - a verdadeiras plataformas de amostragem em que o empenho de concretização de uma obra se sobrepõe a outras considerações sobre o formato.
Daí que ela tenha verificado, igualmente, uma evolução no profissionalismo dos jovens realizadores, cada vez mais capazes de um planeamento do trabalho ao invés de uma certa ânsia amadoresca de muito filmar com menos critério ou respeito pelos horários e intervenientes.
Não que isso marque qualquer menor investimento de energia por parte de uma geração de realizadores que funciona como um grupo criativo. Cada elemento aparecendo associado a várias curtas, saltando de função em função ao serviço de quem assume o papel de realizador a cada momento.
Carla Chambel acabaria por resumir a forma de trabalho desta geração como sendo uma combinação de estímulo criativo, força de trabalho e bastante ousadia.
Há um novo fôlego para as curtas-metragens, embora não deixasse de lamentar que estas também se tenham tornado, em paralelo, o último refúgio para realizadores experientes à procura de continuar a trabalhar.


Carla Chambel


Marta Fernandes interviu para contrariar, em parte, algum do pessimismo associado à exibição de curtas-metragens, assinalando o crescente número de canais de distribuição e a facilidade de concretização de curtas-metragens graças à proliferação dos suportes digitais.
Segundo ela, se não há mais distribuição comercial de curtas-metragens como complemento de longas isso deve-se a um planeamento desadequado entre os dois filmes gerando uma massiva reacção de desagrado que no seu caso particular só viu contrariada na combinação de China, China com O Sabor da Melancia e de Nana com Rafa, verdadeiras sessões duplas e não meras agregações de filmes.
A propósito de João Salaviza, Marta Fernandes assinalaria mesmo os bons resultados que a edição conjunta das suas curtas-metragens teve, tanto em DVD como em Video on Demand (VOD), assinalando com isso o desejo do público por este formato de cinema.
Assinalou que se não há mais distribuição comercial, em sala e em VOD, são dois os motivos: terem deixado de existir salas de cinema onde possa ser feita programação (substituídas pela lógia de multiplexes); existir uma resistência dos operadores a flexibilizar um sistema de preços padronizado para a duração longas-metragens.


Marta Fernandes                                                          Nuno Galopim


Graça Castanheira foi quem abordou a sua abordagem de júri sem falar do panorama geral das curtas-metragens.
Disse, mesmo assim, que como professora tinha de reconhecer que o cinema é uma arte que só se aprende fazendo e que, por isso, era uma excelente notícia estarem 17 curtas-metragens no festival.
Continuou dizendo que ser júri é defender o "seu cinema", um cinema que exige, independentemente do formato, exige uma coesão dramática e em que a experimentação tem de ser uma excepção.
Isto porque, de acordo com Graça Castanheira, o cinema nacional tende a tornar essa excepção numa forma regular, experimentando porque não se sabe fazer e depois tentando passar os inevitáveis erros como sendo forças.
A sua expectativa é a de encontrar curtas-metragens que saibam inscrever a excepção numa forma regular e, com isso, tocar o espectador.
No final vaticinou que o crescente interesse que têm gerado as curtas-metragens obrigará a qualidade da sua gramática do cinema a dar um salto perante um mercado demasiado exíguo que aumentará a exigência.


Graça Castanheira


Assinalando o já de si pouco espaço cedido à crítica de cinema - e a ainda menor possibilidade, senão mesmo impossibilidade, de abordar curtas-metragens - José Vieira Mendes disse que o seu documentário Gerações Curtas!? servia exactamente o propósito de marcar o seu acompanhamento das curtas-metragens em Portugal, destacar os muitos realizadores que delas haviam emergido e homenagear um outro festival (Curtas Vila do Conde).
Não se alongando muito perante o larço panorama traçado até aí, José Vieira Mendes destacou o Córtex como a montra priveligiada e exclusiva para curtas-metragens da região da Grande Lisboa.
Terminou com uma comparação, da curta para o cinema como o conto para a literatura. Ambas são formas de preparação para obras de maior fôlego mas, igualmente, formas com características próprias em que alguns alcançam feitos assinaláveis.


José Vieira Mendes


Depois desta introdução, a organização não deixaria de assinalar que as 17 curtas-metragens nacionais em competição eram uma selecção de um conjunto mais vasto submetido ao festival, o que mostrava tanto a força corrente da produção nacional como a importância que o festival tinha adquirido em tão pouco tempo de existência.
Com todas as curtas a já terem sido exibidas em outros festivais, a organização assume a intenção de mostrar e premiar as melhores curtas-metragens e não de procurar exclusivos.
Destaque ainda para o conjunto de curtas internacionais, uma selecção de seis de muitas outras que chegaram para selecção. Outra assinalável notícia para a força do festival além portas.


O mote para a quarta edição do festival Córtex estava dado, tendo sido depois discutida a mostra integral das curtas-metragens de João César Monteiro, o momento alto do festival, que abordaremos num próximo artigo.

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