sábado, 8 de julho de 2017

Planeta dos Macacos: A Guerra, por Eduardo Antunes

http://splitscreen-blog.blogspot.pt/2017/07/planeta-dos-macacos-guerra-por-eduardo.html

Título originalWar for the Planet of the Apes (2017)
Realização: Matt Reeves
ArgumentoMark Bomback, Matt Reeves

Devo confessar que não fiquei imediatamente convencido com o primeiro filme desta agora trilogia na sua possível qualidade enquanto um remake distante da série original de filmes. Mas com a primeira tentativa com Matt Reeves ao leme, serei sempre o primeiro a tentar convencer qualquer pessoa a investir o seu tempo num intenso drama com símios em vez de humanos como personagens centrais. E ainda que este "último" filme não atinja o patamar do filme que o precede, é uma conclusão tematicamente bem sucedida no seguimento daquilo que fez esta nova série de filmes destacar-se à partida.

Em Rise of the Planet of the Apes, apesar de uma introdução bem conseguida à personagem de Caesar, onde assistimos ao início e queda da sua confiança nos humanos e consequente ascensão do seu percurso enquanto líder da sua espécie, seguíamos de igual forma algumas personagens humanas que, aparte o seu interesse no processo narrativo, não tinham interesse por si só e desviavam a devida atenção do que o filme introduz como novidade. Para além disso, a estória era contada apressadamente, não nos dando pausas para absorver e sentir total empatia com o nosso protagonista símio.

Nesse seguimento, quando Matt Reeves entrou para esta saga com Dawn of the Planet of the Apes, conseguiu trazer tudo o que o anterior filme não conseguira. Soube ser arrojado e focar o filme quase inteiramente nos símios que dão nome ao filme, com tamanha nuance e subtileza, na eficaz utilização do silêncio enquanto ferramenta narrativa, que nos permitia focar nas expressões brilhantemente interpretadas e passadas para o ecrã através de um trabalho de efeitos visuais exímio por parte da Weta Digital, da qual julgávamos já ter visto o seu melhor trabalho com a criação de Gollum.
Também a simplicidade de uma história que seguia paralelamente a tentativa de sobrevivência de humanos e símios, e a possibilidade de cooperação entre ambos, permitia-nos focar inteiramente na jornadas das diferentes personagens, nomeadamente no esperançoso Caesar e no conflituoso e desconfiado Koba, cujo conflito nos guiava pelo filme até aos créditos finais.
Para tudo isto, também uma banda sonora extraordinária por parte de Michael Giacchino ajudava a uma envolvência maior na sentimentalidade de um filme por si só já visual e narrativamente poderoso.

E vejo-me obrigado a fazer esta "breve" introdução porque, ido com este entusiasmo para o último capítulo na jornada de Caesar, esperava que Matt Reeves e a sua equipa trouxessem o mesmo nível de excelência para nos mostrar o final da jornada da ascensão do planeta dos macacos. Ainda que o anterior nível de subtileza que Matt Reeves injectou há três anos não tenha passado inteiramente para a sequela.
Desde os créditos iniciais percebemos que, ao contrário do filme anterior que apenas servia a contextualização da escala que os eventos tomaram entre os dois capítulos desta história, este faz um resumo escrito de ambos os filmes anteriores, assim como do que levou ao início deste, desnecessariamente por serem claros os eventos dos vários filmes no seguimento.



Onde antes Caesar usava quase unicamente linguagem gestual, poses e olhares para se expressar, existe agora bastante enfoque na sua capacidade de fala que, por um lado demonstrando a sua crescente inteligência, de igual forma retira alguma nuance da interpretação de Andy Serkis (a qual continua, de qualquer forma, merecedora do nosso maior louvor). É-nos também mostrado que Caesar tem visões de Koba, servindo o conflito crescente na sua "pessoa", mas numa forma óbvia de o ilustrar ao longo da história, nos ocasionais momentos em que o foca.
Tudo isto culmina, a meio do filme, numa conversa com o Coronel, lugar para uma longa e forçada exposição dos eventos que o levaram a tomar as decisões que tomou. Ainda que acrescente ao ódio de Caesar pela personagem de Woody Harrelson, falta-lhe a subtileza de apenas ver os sintomas (literais e não só) que o levaram às suas acções, ao invés de nos serem contados.

Não quer isto significar que estas razões enfraquecem o filme na história que pretende contar. Aliás, contrariamente ao título, onde a palavra guerra aparenta significar um conflito em larga escala, este filme apresenta-se antes como a finalização da contínua jornada pessoal de Caesar, de crescente humanidade e liderança. Essa exploração da humanidade através dos olhos das personagens não humanas termina com um confronto que, por pequeno que seja, impõe um tão maior impacto por isso.
O confronto final entre os líderes de ambos os lados é quase insignificante na sua escala, mas demonstra o crescimento que Caesar alcançou até então, não se deixando levar pela vingança que exacerbou o seu espírito durante todas as suas decisões durante o filme. Simultaneamente, cede à posição que sempre defendeu enquanto resposta acertada, reconhecendo que, apesar das más decisões levadas a cabo pelos humanos (e fechando um ciclo explorado desde o primeiro filme), a resposta não deve ser vingativa mas misericordiosa face o desespero dos seus inimigos.
E as interpretações continuam exímias em nos fazer compadecer pelos animais que os humanos pretendem eliminar pelo seu aparente legítimo lugar na Terra. Maurice, Rocket, Luca e o recém-chegado Bad Ape são, para além de Caesar, quem queremos que recuperem o clima de paz que no início do filme anterior tinham conseguido instaurar.

Assim sendo, é com grande pena que vejo esta renovada saga chegar ao seu fim (por enquanto, pelo menos, até decidirem continuar com inevitáveis sequelas). Porque, mais que um filme sobre macacos a batalhar humanos pelo controlo do planeta, esta franquia conseguiu tornar-se num olhar metafórico sobre a nossa perspectiva perante os conflitos que inevitavelmente continuarão a fazer parte da nossa história, sobre as razões que as nossas decisões realmente escondem, sobre o que estamos dispostos a abdicar para nos tornarmos melhores, sobre a nossa posição enquanto espécie, sobre o que significa verdadeiramente a nossa humanidade. E no final, na sua maior parte, tudo isso se deveu à capacidade de um actor, Andy Serkis, em nos fazer acreditar, de corpo e alma, que um primata podia crescer e ser exemplo, para símios e humanos da mesma maneira.

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