sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Aquaman, por Eduardo Antunes


Título original: Aquaman (2018)
Realização: James Wan

Após a demonstração da insegurança por parte dos estúdios responsáveis pelas personagens da DC em arriscar com Justice League, Aquaman demonstra de forma muito peculiar a faca de dois gumes que pode ser apostar numa visão e universo ambiciosos em total liberdade.

Desde já, não se deve entender esta afirmação como uma equalização a Man of Steel ou à sua sequela, em que a interessante ideia de criar um universo "realista" acabou por cair na sua própria ambição, pelos aspectos irrealistas ou incongruentes nesse mesma visão. Aquaman é um tipo muito diferente de filme, em que o grande ponto forte é precisamente o abraçar de uma premissa estranhíssima sem racionalizá-la, em que mito e realidade coexistem da forma mais bizarra concebível. Isso não impede, no entanto, que hajam fraquezas óbvias no filme, o qual parece querê-las esconder com o maior espectáculo possível a cada minuto.

Esse espectáculo é, efectivamente, o seu grande ponto de venda, que se deve precisamente à falta de subtileza em quase todo o filme, existindo a liberdade narrativa para abraçar a originalidade e imaginação inerentes a este universo e às personagens que nele habitam (que não dispensa claras influências de Avatar Valerian). Mas, tal como se mostra como ponto forte, também essa falta de subtileza é um ponto de real fraqueza no filme.
A falta de subtileza infecta o filme em todos os seus elementos narrativos, demonstrado desde o início pela narração através da voz do protagonista sem propósito, ou pela introdução da óbvia e fácil mensagem ecológica, que não serve como potencial tema do filme nem como base para o conflito maior, mas cai de pára-quedas como que uma obrigação.



Até os diálogos e piadas são particularmente desastrados e fracos, como se nota no momento em que a personagem de Amber Heard recebe o livro com a história de Pinóquio sem razão senão a de justificar uma piada anterior. E a utilização de tantos lugares comuns e humor "pateta" não seria problemática, se todo o filme mativesse um tom consistente. No entanto, tal como Thor: Ragnarok, acabam por se desenrolar duas narrativas em paralelo, que lutam constantemente pela atenção do espectador.

Ao mesmo tempo que se desenrola uma aventura que envolve os dois protagonistas (inspirada em filmes como National Treasure ou Raiders of the Lost Ark com a busca de um artefacto desejado por todos), o nosso antagonista batalha numa linha narrativa que mantém mais semelhanças com Game of Thrones, seja pela forma como a personagem de Patrick Wilson ora tenta convencer os seus aliados a se unirem à sua cruzada através de jogadas sujas, ora assassina um possível aliado à frente da respectiva filha para demonstrar o seu desagrado pela sua visão e política.

Este conflito interno no reino de Atlântida leva inclusive à batalha final, ao invés de começar como uma luta entre herói e vilão, o que acaba por ser refrescante mas por pouco tempo. Isto, já que parece existe maior interesse em Jason Mamoa, mais interessante que na sua aparição anterior, embora claramente escolhido para fazer uma personagem potencialmente ridícula no grande ecrã suar carisma e boa aparência em todas as suas falas e aparições.

No final, este não é certamente uma desapontante longa-metragem, muito menos no seguimento de Justice League, que tanto se esforçava por parecer leviano. Aquaman vale o esforço da sua visualização, mais que não seja pelos 180 minutos de acção bem coreografada e ambientes visuais de uma imaginação pura e sem limites, que no maior ecrã possível ganham toda a extensão merecida. Pena que nesse tempo todo não tenha sido possível desenvolver mais uma mitologia tão rica, caindo ao invés em humor barato e uma história preguiçosa. Que fãs suficientes sejam cativados para uma sequela potencialmente mais inteligente e interessante.


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