quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A Duquesa, por Tiago Ramos


Título original: The Duchess (2008)
Realização: Saul Dibb
Argumento: Jeffrey Hatcher e Anders Thomas Jensen
Elenco: Keira Knightley, Ralph Fiennes, Charlotte Rampling e Dominic Cooper

Um drama histórico surpreendentemente bom.

Nunca gostei de filmes históricos. Sempre questionei que Keira Knightley tivesse começado quase a especializar-se em filmes históricos. À partida, A Duquesa seria um filme que não me daria ao trabalho de ver, mas o trailer do mesmo provocou-me interesse na película.

Georgiana Spencer, Duquesa de Devonshire é a mulher do momento. Estamos no século XVIII e Georgiana tornou-se das mulheres mais influentes da época, num mundo que na altura lhes estava vedado. E daqui temos o ponto de partida para uma bela história dramática, uma biografia romanceada da Duquesa de Devonshire, ascendente da Princesa Diana. Obviamente que esse rótulo que as produtoras lhe tentaram impôr, devido ao sensacionalismo da história contemporânea, é redutor e não é por esse motivo que o filme deve ser visionado.



A Duquesa é um filme rico em vários sentidos. Os cenários são soberbos, bem como a maquilhagem, a fotografia e o guarda-roupa. Os ambientes de época são sempre interessantes em pormenores e este não é excepção. A Duquesa gira em torno da moda dos filmes históricos se centrarem, não nos grandes factos da História, mas sim da vida íntima das cortes. Isso aconteceu em filmes como Marie Antoinette (2006) e Elizabeth - The Golden Age (2007), entre outros.

Georgiana Spencer é uma mulher ao mesmo tempo ingénua e rebelde, mas também de firmes convicções. E é aqui que o argumento surpreende: na biografia da Duquesa de Devonshire. O filme é baseado na biografia escrita por Amanda Foreman e que aborda a vida da duquesa, que viveu no período de 1757 e 1806. À medida que o seu casamento desmoronava, Georgiana ia crescendo em popularidade, conquistando o povo inglês pela sua forte influência política, gosto pelos jogos mundanos, simpatia e até tida como um ícone da moda, chegando mesmo a desenhar os seus próprios vestidos. Podemos considerar a Duquesa de Devonshire como uma das primeiras celebridades de todo o mundo, servindo de modelo para muitos súbditos, ao mesmo tempo que a indiferença do Duque ia aumentando, popularizando uma das grande expressões do filme: “Todos estão apaixonados pela duquesa, menos o seu marido“.

Saul Dibb diferencia-se dos seus trabalhos anteriores, um documentário e um filme de acção, criando um excelente retrato da época, com abordagem maioritária da condição feminina da altura e os efeitos comportamentais consequentes de uma atitude que violassem os conceitos vigentes. O argumento de A Duquesa possui uma excelente construção de personagens, que deu grande facilidade aos actores. Não foi por acaso que Ralph Fiennes ficou nomeado para os Globos de Ouro, pela sua prestação enquanto actor secundário. Por seu lado, obviamente que a trajectória emocional e amorosa não ficou esquecida, com uma percepção ingénua do casamento, seguida de uma abordagem dos deveres matrimoniais, concluindo com a constatação da instabilidade emocional e condições humilhantes, sofridas por Georgiana.



A Duquesa não ficará esquecida pela Academia, pelo menos não nas categorias técnicas. O guarda-roupa de época e a direcção artística de filmes de época são sempre elogiados pelos membros da Academia e o argumento de Jeffrey Hatcher e Anders Thomas Jensen não comprometem tal efeito.



De elogiar também a prestação de Keira Knightley, que tem aqui uma prestação mais madura e consistente, mas que ainda não me surpreende totalmente. Contudo, existem determinadas sequências em que actriz está praticamente perfeita, sobretudo os de maior carga dramática, não caindo nos habituais vícios de reacções forçadas. Por sua vez, Ralph Fiennes tem aqui uma prestação mais contida em termos argumentativos, com uma personagem austera, complexa e repleta de conflitos internos e externos. Contudo, a surpresa surge no papel Dominic Cooper, que interpretou o jovem nubente Sky em Mamma Mia! (2008). Enquanto que em Mamma Mia! a sua interpretação deu a conhecer um actor fraco, em A Duquesa, Cooper revelou que até não é mau actor, conseguindo contracenar de forma exímia com Keira Knightley.



Apesar de vacilar um pouco no romance adúltera de Georgiana, A Duquesa é um grande drama história que surpreende bastante e que cujo material original é instigante e garante qualidade ao argumento.
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