quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O Estranho Caso de Benjamin Button, por Tiago Ramos




“Nasci sob circunstâncias pouco usuais“. Este é o mote para a história de Benjamin Button, um homem que nasce com cerca de 80 anos e, à medida que os anos vão passando, começa a rejuvenescer.



O filme, adaptação de um clássico da década de 20, escrito por F. Scott Fitzgerald, é realizado por David Fincher: realizador que já nos habituou a grandes filmes como Fight Club (1999), Se7en (1995), Zodiac (2007) ou Panic Room (2002). O Estranho Caso de Benjamin Button destaca-se desde já pelo burburinho que se gerou devido à temática curiosa do mesmo e foi num espírito de grande curiosidade que o vi avidamente.

O filme brilha desde logo pelos ambientes cénicos e pela caracterização. Se à partida parecia demasiado fantasioso imaginar algo semelhante, a verdade é que somos levados a acreditar que rejuvenescer, em vez de envelhecer, é verosímil. O processo de caracterização do actor Brad Pitt é pormenorizado e completo, salvo alguns erros menores. A história é contada a partir de Nova Orleães, no fim da I Guerra Mundial em 1918, passando pela II Guerra Mundial, Guerra Fria, até ao século XXI. David Fincher consegue realizar essa tarefa que, à partida, nos parecia megalómana, sendo fiel aos factos históricos, incluindo cenários, trajes, comportamentos…

O trabalho do realizador é intemporal, arriscando tornar-se um grande clássico da história do cinema. A construção do filme e do argumento de Eric Roth e Robin Swicord é feita de forma a que o mesmo se assemelhe a uma biografia, narrada pelo próprio, desde o nascimento até à morte. O interessante é que apesar de ser o filme mais completo que vi até ao momento e apesar das fascinantes personagens, histórias e acontecimentos paralelos, tudo se complementa e destaca o personagem principal.

O Estranho Caso de Benjamin Button é o mais bonito romance que já alguma vez vi. Eu confesso que bem tentei encontrar erros crassos, algo que deitasse por terra todo o destaque dado ao filme, mas não consegui. Está lá tudo e muito bem feito. Desde os cenários e caracterização (já mencionados), bem como a banda sonora, as interpretações, direcção artística e fotografia.

Os destaques vão, claro está, também para as interpretações. Todo o elenco é sublime. Brad Pitt tem aqui uma grande interpretação. Não é a interpretação masculina do ano, é verdade, mas não conseguia imaginar outro actor para desempenhar tal papel. Por sua vez, Cate Blanchett, que considero uma das actrizes mais completas da actualidade, tem uma interpretação que a início me parecia duvidosa, mas que a meio do argumento, revela toda a energia, dramatismo e plasticidade necessárias para interpretar o papel de Daisy.



Ao plano das interpretações secundárias, surge o brilhantismo de Taraji P. Henson. Queenie é a mãe adoptiva de Benjamin Button, se assim lhe quisermos chamar e que tem uma grande importância no argumento, à qual Taraji conseguiu imprimir todas as qualidades desejáveis. Por outro lado, a surpresa cai também em Tilda Swinton, vencedora do Óscar de Melhor Actriz Secundária em 2008, por Michael Clayton. O papel desempenhado pela actriz é portentoso, de uma mulher surpreendentemente interessante e que suportaria, por si, um único argumento a si dedicado. Uma nota também para Julia Ormond, cuja presença por si só já é de elogiar.

O Estranho Caso de Benjamin Button colmatou aquilo que já não se via há muitos anos na indústria do cinema. É um Filme, com maiúscula, completo e em pleno. De realçar, os diálogos majestosos e profundos, a subtileza das interpretações, a ironia e comédia subjacente em algumas cenas e que fazem lembrar, por momentos, Forrest Gump (1994). Com uma diferença: Benjamin Button é ainda mais profundo e apesar de todas as épocas que passam pelo filme, a personagem não é deslocada, mas surge sempre em primeiro plano.

O único ponto que em princípio poderíamos negativizar seria a duração do filme, afinal são quase três horas de acontecimentos, histórias e épocas, que quase nos impedem de respirar, com medo de perdermos algum pormenor importante. Contudo, nem isso se torna negativo. Compreende-se logo que a duração assim o é porque não havia outra forma de o fazer sem diminuir a qualidade do argumento.



O Estranho Caso de Benjamin Button vale, nem que seja só pela curiosidade, uma ida ao cinema e é “aquele” filme que ninguém pode descurar em ver. Já não podemos cair em ilusões e esperar a atribuição dos Óscares deste ano para prestigiar o filme de David Fincher, ainda para mais depois desta cerimónia dos Globos de Ouro. Não fosse este ano um dos mais fortes dos últimos em termos de películas, o filme provavelmente seria um dos mais galardoados, tanto em categorias principais, como em categorias mais técnicas.

Não percam sobretudo as sequências finais, que são de extrema emoção, capazes de levar o espectador mais insensível às lágrimas.
Classificação:

2 comentários:

  1. Vejo que gostou muito do filme, concordo com a maioria do que dizes, mas não o acho perfeito (mas também não vejo erros "crassos", apenas defeitinhos que não tiram a grandiosidade do filme)... Qualquer coisa passa no meu blog para ler o que eu escrevi, abraços...

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  2. a partir do momento em que me apercebi da dobragem que foi feita da voz de daisy quando menina (naquela cena debaixo da mesa), fiquei num estado de irritação tal que o resto do filme me começou a dar comichões. tenho pena. e por um pormenorzinho de nada.

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