quinta-feira, 2 de julho de 2009

Home - Lar Doce Lar, por Tiago Ramos



Título Original: Home (2008)
Realização: Ursula Meier
Argumento: Antoine Jaccoud e Olivier Lorelle
Elenco: Isabelle Huppert, Olivier Gourmet, Adélaïde Leroux, Madeleine Budd e Kacey Mottet Klein

Quando uma família procura a tranquilidade e a paz interior junto de uma auto-estrada abandonada, acaba por ser, inadvertidamente, atropelada pelo progresso. Progresso esse que, tal como no nosso país, acaba por ser medido em quilómetros.



Nesta primeira obra, Ursula Meier cria um excelente retrato familiar, numa espécie de road movie, que tem sido aplaudido pela crítica mundial. Home - Lar Doce Lar arrecadou prémios no Swiss Film Prize, nomeadamente Melhor Filme e Melhor Argumento, incluindo nomeações para os César Awards e no Mar del Plata Film Festival.

A realizadora não se coíbe de cruzar géneros, revelando-se uma cineasta evocativa. Ao vermos Home - Lar Doce Lar rapidamente nos apercebemos que a temática da fronteira, vai além do argumento, com alusões ao típico road movie americano (neste caso, invertido), Steven Spielberg e o seu Close Encounters of the Third Kind (1977), Alfred Hitchcock e filmes de série B.

O curioso é que à medida que o progresso invade esta feliz família, existe uma desconstrução a nível familiar e pessoal, com um desequilíbrio evidente que se torna em loucura. Contudo existe uma bonita evidência de resistência estóica no cerne desta família. E foi essa evidência que Ursula Meier soube retratar muito bem. Um circuito familiar genuíno, um ambiente voyeurista, especialmente as recriadas na casa-de-banho, que serve como uma espécie de catárse.



Tão íntima, insólita e absurda é esta fábula heróica de uma família que tenta reconquistar o silêncio, numa tarefa quase dantesca. Mas curiosamente o embate não é com a auto-estrada. É o embate de uma família contra o medo da civilização e da sociedade, onde a auto-estrada serve de elemento potenciador e revelador das falhas da família.

O elenco foi escolhido a dedo com uma portentosa e fascinante interpretação de Isabelle Huppert e um renovado Olivier Gourmet. Mas é o jovem Kacey Mottet Klein que se torna a revelação do filme, com uma espantosa honestidade e realismo. E as filhas Adélaïde Leroux e Madeleine Budd completam o contraste da família.



A fotografia é um dos pontos altos do filme, a cargo de Agnès Godard, que trabalha também no sentido evocativo do fotógrafo canadiano Jeff Wall e do pintor norte-americano Edward Hopper (Basta consultarem algumas das suas obras mais icónicas para perceberem a semelhança). E a forma como o argumento, as interpretações, a fotografia e a câmara se complementam entre si é o que faz deste Home - Lar Doce Lar, uma raríssima fonte de elevado talento.

Classificação:

3 comentários:

  1. Só agora me apercebi que tinham uma crítica deste filme no vosso site... Vi o filme há cerca de um mês e achei-o muito bom... O argumento é dos mais originais e interessantes que vi nos ultimos tempos e o óptimo elenco consegue tornar as suas personagens tão diferentes mas com uma relação entre eles tão particular... E a fotografia é realmente excelente!!!

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  2. É um dos meus filmes preferidos do ano passado, vi-o na antestreia e foi curioso como senti um sufoco enorme durante o filme, como se aquela claustrofobia toda do filme estive a passar também para mim. Adorei mesmo, original, bizarro, interessante. Fascinante!

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  3. onde posso assistir esse filme?

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