Estreou na passada 5ª feira a série
FlashForward, a grande aposta da ABC para esta temporada, que é já considerada por muitos como o primeiro herdeiro do legado deixado por LOST. A premissa é simples: o mundo inteiro perde a consciência durante cerca de 2 minutos e, durante esse tempo, a grande maioria das pessoas presencia um momento do seu futuro passados 6 meses.
No entanto, as comparações são inevitáveis: tendo o nome desta série (que na realidade é o título do livro que a inspirou, mas é também um termo muito familiar para os espectadores de LOST) sido apenas a primeira chamada de atenção. A segunda foi bastante explícita, com a ABC empenhada em promover a série como vindo "da cadeia que nos trouxe LOST":
O casting de FlashForward trouxe-nos também várias caras familiares de LOST, incluindo não só actores bastante populares como
Sonya Walger e
Dominic Monaghan, mas também a actriz convidada
Kim Dickens, que não escapará aos fãs mais atentos nas próximas semanas. Tendo em conta toda a promoção dirigida à audiência de LOST, as expectativas criadas foram bastante altas.
No More Good Days
Na realidade, o primeiro episódio de FlashForward não desiludiu e soube tomar a medida certa da fórmula de LOST: utilizar um determinado evento como motivação para as acções e emoções dos seus personagens, ao contrário de muitas séries de ficção científica centradas na sua própria mitologia que remetem a densidade dos personagens para segundo plano. O flashforward (nome dado ao evento que levou as pessoas a conhecerem o seu próprio futuro) induz diferentes reacções em diferentes personagens: alguns desejarão que esse futuro realmente aconteça, outros tentarão a todo o custo evitá-lo.
É a partir deste evento que é desenvolvida toda a temática da série: será que por terem visto o futuro, as pessoas serão capazes de o alterar, ou terão já o seu destino traçado? O principal exemplo é o caso de Bryce, que descobre no momento em que planeia o suicídio que afinal estará vivo no futuro — estará ele vivo no futuro apenas porque soube que iria estar vivo?
Apesar de alguns exageros a nível dos efeitos digitais (haveria assim tantos prédios em chamas se todas as pessoas desmaiassem durante 2 minutos? Incluindo o Big Ben?), a fotografia é bastante boa e reflecte bem a percepção dos personagens retratados: Bryce é brevemente envolvido em tons dourados, até ao momento em que se apercebe do caos que o rodeia, voltando então os tons frios a dominar a cena.
O desenrolar da acção é também comparável à estrutura de LOST, embora os personagens nos sejam dados a conhecer ainda antes do evento que muda as suas vidas — aqui, a pergunta que se impõe é: o que é que cada pessoa viu? Para responder a esta pergunta, é criada uma rede social onde cada pessoa poderá partilhar a sua experiência, conhecida como "The Mosaic". E é desta premissa que surge o primeiro website oficial, ao estilo dos que os fãs de LOST têm seguido durante os últimos 4 anos, que poderão visitar
aqui.
Marketing viral
Talvez por decisão da cadeia de televisão, é atirada à cara de todos os espectadores uma referência a LOST: Um cartaz da empresa fictícia Oceanic Airlines perfeitamente enquadrado numa cena em que nada acontece. Reparem, na foto em baixo, como o cartaz deveria estar desfocado para estar em conformidade com os restantes elementos da cena colocados à mesma distância. Já existem teorias sobre como os universos das duas séries possam coincidir mas, neste momento, não parece passar de uma tentativa de auto-promoção.
Uma série não estaria a seguir devidamente o legado de LOST se não tivesse a sua dose de empresas e organizações fictícias: neste caso, a Red Panda Resources. A forma como o seguinte cartaz nos é apresentado é a principal indicação de que o cartaz da Oceanic foi colocado durante a fase de pós-produção: este encontra-se bastante bem integrado na cena, passando muito facilmente por um cartaz genérico:
Curiosamente, o que me levou a reparar na imagem foi precisamente o slogan "Better Tomorrow...." (só depois notei as reticências com 4 pontos que, certamente, terão algum significado). Este slogan, no entanto, é muito semelhante ao utilizado na primeira campanha de marketing viral utilizada em LOST: a
Hanso Foundation - "Reaching out to a better tomorrow". Com esta chamada de atenção, não pude deixar de ficar atento a aparições desta organização.
Na sua visão, Mark (
Joseph Fiennes) tenta descobrir os responsáveis pelo flashforward que afectou o mundo inteiro. No seu painel, de entre
várias pistas que Mark irá encontrar ao longo da investigação, podemos observar precisamente uma referência à Red Panda Resources, indicando assim que este poderá ser um nome importante em episódios futuros.
Ainda à semelhança de LOST, são criados também websites "independentes" que se manifestam contra organizações referidas na série. O primeiro exemplo é o site
Truth Hack, onde um novo personagem se manifesta em relação à
Mosaic Collective.
O veredicto
Apesar de todas as semelhanças com a série LOST, a estreia de FlashForward conseguiu estabelecer com sucesso a sua própria mitologia. Estão lançadas as bases para um enredo envolvente e com uma boa dose de mistério, sendo bastante focado nas personagens retratadas e os dilemas que a experiência do flashforward lhes causou. Apesar do primeiro episódio ter como título "No More Good Days", a série mostrou bastante potencial e até cativou um número
bastante positivo de audiências para a ABC.
A estreia de FlashForward é vivamente recomendada a todos os apreciadores de mistério e/ou ficção científica, sendo particularmente apelativa aos espectadores de LOST.