segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Shine a Light, por Carlos Antunes

http://www.nycmovieparties.com/photos/2008/0328shinealight/shine_a_light.jpg

Título original: Shine a Light
Realização: Martin Scorsese
Com:
Rolling Stones, Martin Scorcese, Buddy Guy, Christina Aguilera e Jack White

Cinema-concerto.
Não sei se já viram um concerto dos Rolling Stones.
Se viram, já sabem o que os espera.
Se ainda não viram, saibam que terão direito a duas horas frenéticas, imparáveis e “larger than life”.
Seria simples filmar um concerto dos Stones e deixar que todo o trabalho deles fizesse o filme.

http://movethatjukebox.com/wp-content/uploads/2009/09/shine-a-light-1-1024x680.jpg

Scorcese tenta o contrário, fazer um filme em que as interpretações estejam a sublinhar a qualidade do filme.
Quando o filme começa, encontramos uma espécie de confronto de Scorcese e Jagger.
O primeiro a querer fazer cinema e o segundo a querer, “apenas”, fazer música.
Scorcese planeia o palco, negoceia a posição das câmaras, esforça-se por organizar o argumento (leia-se o alinhamento musical) e tenta chegar a um acordo entre os dois.
Jagger queixa-se do palco, das câmaras que obstruem a visão dos espectadores e adia interminavelmente o alinhamento em favor do melhor concerto possível.

http://andrade.gctec.com.br/cml/img/bd/bd-rolling-stones-shine-a-light-4.jpg

Ainda que nenhum se veja totalmente satisfeito, a verdade é que o resultado é soberbo.
Scorcese pensou os movimentos de câmara, a composição dos planos. No fundo preparou a linguagem do cinema. Com ela lidou com o concerto – de cujo alinhamento só teve conhecimento a um minuto do início – com a mesma exigência de qualquer filme.
Soube, aliás, reagir à força das personagens naquele palco e operar uma reacção – potenciadora, claro – a ela através da enérgica montagem.
A montagem engrandece o espectáculo enquanto nos coloca quase numa privada conversação com a música que ali se faz.
Por isso mesmo, o material de arquivo que esparsamente se intromete no concerto tem também essa capacidade, de nos levar mais ao encontro do momento por atracção do passado.

http://www.velvetron.com/blog/wp-content/uploads/2008/04/shine_a_light.jpg

Tudo isto é um acontecimento de cinema e de música – quando Buddy Guy sobe ao palco para uma deliciosa versão de Muddy Waters ou quando Keith Richards se coloca no papel de vocalista-trovador, são momentos excepcionais, tanto para a câmara (que joga tão bem com estas duas personagens) como para o próprio concerto.
O espectador sentado na cadeira não poderá deixar de se agitar com o ritmo frenético.
Haverá outro propósito para um filme assim?



http://images.allmoviephoto.com/2008_Shine_a_Light/2008_shine_a_light_003.jpg

Publicado originalmente a 10 de Maio de 2008.


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