terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Nove, por Carlos Antunes

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Título original:
Nine
Realização: Rob Marshall
Argumento:
Michael Tolkin e Anthony Minghella
Elenco: Daniel Day-Lewis, Marion Cotillard, Penélope Cruz, Nicole Kidman, Judi Dench, Kate Hudson, Sophia Loren e Stacy Ferguson

Dez minutos adentro do filme e o fantasma da mãe de Guido Contini diz-lhe que o mundo vê Roma como ele a inventou.
De certa forma é uma frase premonitória, pois Rob Marshall apenas vê, também, a Roma e a obra de Fellini como uma imagem que não é sentida, apenas um olhar reproduzido a partir de outro muito mais honesto e pungente.
Pior que isso, pega nesse olhar e logo o copia como um cenário de papelão.

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Aqueles que apreciam a obra de Fellini ficarão chocados pela forma como o seu imaginário foi reduzido a referências apressadas, chavões imagéticos e ideias feitas.
Os restantes encontrarão uma história confusa na sua pressa de tocar tudo e tudo apressar em direcção ao final e um desenxabido filme musical.

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A suposta história de um realizador em crise de identidade artística por extensão da sua crise "de mulheres", cada uma delas a demonstração de uma forma de descobrir e falhar no amor, parece apenas a crise de meia-idade de um marialva fugidio que nada afirma para em nada dar de si.
Não se percebe o que o tão selecto Daniel Day-Lewis anda a fazer aqui, talvez tenha sentido a vontade de se rodear de mulheres bonitas, algumas delas a escaparem ao meramente decorativo - Penélope Cruz e Marion Cotillard, sobretudo - mas sem nada de especial a contribuir.

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Para elas Rob Marshall guardou uma série de números musicais sem garra, sem explosão, sem diferença.
Rob Marshall não sabe o que fazer com a sua versão do cenário grandioso com que Fellini não sabia o que fazer e do qual retirou uma obra-prima pessoalíssima. Por isso usa-o como palco sistemático e restritivo de uma composição dos números, o cenário de fundo de um espaço restrito, como se ao cinema musical bastasse olhar estaticamente para aquilo que um grupo coreografado faz num pequeno palco.

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O pop orelhudo das cançonetas não tem mais graça do que aquele que foi estabelecendo a lista de milhentas músicas que passaram na rádio nas últimas duas décadas e, por isso mesmo, não disfarça a insalubre realidade dos números musicais que estamos a ver.
Impingem-nos luxo ou sensualidade como extravagâncias a agitar internamente as coreografias que têm pouco de distinto mas dariam alguns videoclips fáceis para aqueles que apenas querem ver algumas imagens ao som da música.

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Trata-se, afinal, do mesmo sentimento que nos atravessava em Chicago, de um Musical que é apenas aquilo que já podia ser em palco, sem mais nada que o leve a ser Cinema.
Porque esta nova vida do Musical não tem vida própria nenhuma, é apenas a reprodução em película do que passa no palco e, para isso, ficamos melhor servidos com os DVDs onde encontramos o elenco original, normalmente mais talentoso do que aquele depois escolhido para os substituir.

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Concluindo, se a pretensão for apenas de ver divas em números musicais, certamente que este é o filme certo.
Mas se se quiser algo com mais substância, algo que tenha algo de novo a dizer, a escolha terá sempre de ser para com outro filme que não Nove.



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