sexta-feira, 12 de março de 2010

LOST: Dr. Linus (6.07)

É já uma regra geral que os episódios centrados no Ben sejam os melhores da série. Este episódio, ainda assim, conseguiu ser ainda melhor que o esperado, principalmente graças à prestação de Michael Emerson. Aquele que foi apresentado como o maior vilão de toda a série, obtém agora a sua redenção. Ao longo da série, acompanhamos o árduo percurso de Ben que o levou a, finalmente, abrir o seu coração. Ben é um dos bons da fita.


Depois desta história em flash-sideways, torna-se fácil associar estes eventos a uma possível consequência das decisões tomadas pelos personagens no mundo original. No episódio anterior, vemos Sayid fazer uma escolha que implica a morte de todas as personagens no Templo, e Sayid X não consegue fugir à sua natureza como assassino. Neste episódio, vemos Ben redimir-se da sua sede pelo poder e, por sua vez, Ben X a abdicar do poder por uma causa maior.

Mundo Paralelo

Foi na ilha de Elba que Napoleão foi exilado e perdeu o seu poder. Apesar de ter mantido o título de Imperador, não tinha uma razão para a sua existência. Um ano mais tarde, escapou do exílio e retomou o seu cargo de poder, apenas para ser derrotado na Batalha de Waterloo e aprisionado, onde acaba por morrer [wikipedia]. A luta pelo poder é um tema bastante presente em LOST e um dos centrais para este episódio.

O enredo começa quando, ao sair de uma das suas aulas de História, Ben é confrontado com uma decisão do director Reynolds que o desagrada profundamente. Ao ter de tomar conta de alunos mal-comportados, fica impedido de reunir o seu Clube de História, o único local em que valorizam o seu trabalho e o seu conhecimento. Na sala dos professores, Ben discute com Arzt a situação administrativa da escola, quando Locke lhe sugere que devia substituir o director.

A construção do personagem é genial, desde o detalhe de guardar o sushi rotulado com uma etiqueta exagerada "BEN LINUS" à sua caneca dizento simplesmente "BEN". O cargo que exerce é muito inferior às suas qualificações e isso é motivo de frustração, pelo que faz questão de ser tratado por Dr. Linus. A tentação do poder é plantada na mente de Ben, não só por passar a ter um cargo melhor, mas também pela capacidade de mudar aquilo que pensa estar mal gerido na escola. A sugestão de liderança dada por John Locke é, em si, uma troca de lugares interessante no jogo de influências que ocorreu entre ambos na outra realidade.

Tal como com todos os personagens centrais dos flash-sideways mostrados até agora, Ben observa o seu próprio reflexo enquanto prepara o jantar para o seu pai, Roger. Faz questão de lhe dar comida saudável, e cuida da sua saúde. Roger está ligado a uma botija de gás, que lhe é administrado pelo filho. Na realidade original, foi através de um gás nocivo que Ben matou o seu próprio pai.

Mais uma vez, vemos neste universo um melhor relacionamento entre pai e filho. Não se sabe porque razão está Roger neste estado, mas é confirmada a sua estadia na Ilha e na Dharma Initiative. Roger interroga-se acerca de como seria o Ben se tivessem ficado na Ilha, mas provavelmente não iria querer descobrir a resposta. No entanto, levanta-se a questão: quando terão eles saído da Ilha? Terá sido depois da detonação da Jughead (o que seria consistente com a teoria da bifurcação das timelines), ou será que este Ben não chegou sequer a ser alvejado pelo Sayid, nem levado para o Templo? Estará a saída da Ilha relacionada com o estado de saúde do Roger?

Alex visita o Ben, perguntando pelo Clube de História, ficando assim a saber que o professor tem um cargo temporário que o impede de participar. Alex precisa de ajuda para um teste e, assim, marcam uma sessão de explicações. Alex confessa que é muito importante para si entrar para a universidade, e que para isso necessita de uma boa carta de recomendação. Embora não exista entre eles a (péssima) relação entre pai e filha, Linus é apresentado como uma figura paternal para a Alex.

É aqui que Alex dá a Ben a informação necessária para tirar o director do caminho: Reynolds mantém um caso com a enfermeira, dentro da escola. Um argumento semelhante ao utilizado para exilar Widmore da Ilha, na realidade original, por ter concebido uma criança com uma pessoa externa. Assim que recolhe as provas necessárias, Ben dirige-se ao gabinete do director para o confrontar, com um evidente nervosismo. No entanto, Reynolds ameaça arruinar o futuro de Alex, fazendo Ben ponderar sobre aquilo que realmente considera mais importante e, assim, desistir do seu plano de ficar com o lugar do director.

A escolha de Ben a favor do futuro da sua aluna mostra que o mais importante na escola não é o cargo de director, mas o conhecimento que transmite aos alunos. Ben tem um propósito para a sua vida e está disposto a abdicar do poder em nome dessa causa.

Mundo Original

Ben corre pela floresta, fugido do Templo, com a notícia de que o Sayid matou Dogen e Lennon e que o Black Smoke matou todos os outros. Ilana confronta-o com a morte do Jacob e usa Miles para tentar descobrir a verdade através das cinzas. Miles revela que foi Ben quem o matou, descrevendo um cenário semelhante à que Ben fez de Sayid.

Para Ilana, Jacob era como um pai. O passado desta mulher é cada vez mais intrigante, especialmente no que diz respeito à sua relação com Jacob. No único flashback de Ilana, em "The Incident", vemos que Jacob a visita após um acidente (Ilana está coberta de ligaduras) e pede-lhe ajuda. Existe um poder associado ao seu toque mas, quando fala com Ilana, Jacob usa luvas pretas nas mãos, evitando assim qualquer contacto físico.

No acampamento, o grupo começa a recolher material e reconstruir as tendas. Em conversa, Ilana revela que não sabe se o candidato Kwon representa Sun, Jin ou o casal. Sabe, no entanto, que restam apenas 6 candidatos e tem o dever de os proteger. Ilana é uma mulher forte e bem preparada para a guerra iminente. No entanto, sente uma angústia profunda pela morte do Jacob e planeia matar Ben, depois de o forçar a cavar a sua própria sepultura.  Miles revela a Ben que Jacob tinha esperanças de se ter enganado em relação a ele, mas afinal estava certo. Ben tenta suborná-lo para o ajudar a fugir, mas Miles descobriu que o Paulo e a Nikki foram enterrados com uma fortuna em diamantes, pelo que não tem interesse em envolver-se.

Hurley e Jack encontram Richard, que lhes revela que toda a gente no Templo morreu, mas os amigos deles não se encontravam lá. Hurley pergunta-lhe se a razão para não envelhecer é estar a viajar no tempo, se é um cyborg ou um vampiro (algumas das teorias populares entre os fãs durante as últimas temporadas), mas este explica que foi uma dádiva do Jacob que afinal se revelou uma maldição.

Richard guia-os até ao Black Rock, local onde nunca tinha regressado, mesmo após tantos anos na Ilha. No interior, examina um par de correntes nas quais não existe um cadáver, evocando as palavras do Black Smoke quando o encontra em "LA X": nice to see you out of those chains. Já em "Follow the Leader" (5.15), Richard estava a terminar uma miniatura do Black Rock no interior de uma garrafa. O passado e a origem do Richard vão sendo, aos poucos, desvendados.

Richard explica que aqueles que foram tocados por Jacob toca ficam impedidos de se suicidar. Assim se explicam as diversas tentativas falhadas de suicídio por parte do Michael (4.08), o acidente que faz com que o Jack não se atire da ponte (3.22+3.23), ou a chegada do Ben ao quarto onde John Locke se tentava enforcar (5.07). Não são imortais, mas são impossibilitados de causar a sua própria morte. No entanto, Richard está empenhado em morrer e pede a ajuda de Jack: durante décadas, seguiu cegamente as ordens do Jacob, que morreu sem alguma vez lhe dar uma explicação. Richard Alpert não consegue agora encontrar um sentido para a vida.

Jack, por sua vez, compreendeu que existe um propósito para a sua presença na Ilha. Está convencido de que a regra que mantém Richard vivo também se aplica a si, e acende o rastilho para comprovar a teoria. Quando o rastilho se apaga, Jack respira de alívio. No interior do Richard, acende-se uma nova esperança de que afinal ainda possa haver um propósito para a sua existência. Jack sugere-lhe que regressem ao ponto de partida, e seguem em direcção à praia.

Já nesse local, Ben está a completar a tarefa imposta por Ilana quando é visitado pelo Black Smoke, que o liberta da corrente para que possa fugir. Smoke está a liderar um grupo de pessoas para sair da Ilha e precisa de alguém que tome conta dela – estará a oferecer-lhe o lugar do Jacob ou o seu próprio papel enquanto Black Smoke? A escolha entre a morte e a proposta do Smoke não é difícil: Ben foge, sendo perseguido por Ilana. Encontra uma arma no local indicado pelo Smoke e trava a perseguição, levando-a a pensar que a irá matar, mas Ben só quer apresentar a sua justificação.

Não há palavras suficientes que descrevam o diálogo entre Ben e Ilana na selva. Ben carrega no seu coração a culpa da morte da sua filha Alex em nome do poder que tanto ambicionava. A forma como foi manipulado pelo Black Smoke foi decisiva para que matasse o Jacob mas, nessa altura, Ben já tinha percebido que o que realmente importava para ele não era o poder. Em várias culturas e religiões, o arrependimento é a chave para a redenção e, neste episódio, Ben conquistou a sua. Ilana, ao aceitá-lo, dá-lhe a oportunidade de não cair novamente na tentação do poder que foi oferecida pelo Smoke. Principalmente, deu-lhe um propósito, um grupo ao qual possa pertencer.

Ben regressa com Ilana ao acampamento e tenta integrar-se no grupo, quando Jack, Hurley e Richard se aproximam. Ficam, assim, reunidos os grupos do lado do Jacob e do lado do Smoke. No entanto, Smoke perdeu o seu principal "candidato", alguém que parece ser necessário ficar no seu lugar para que possa sair da Ilha. O grupo do Jacob é observado por um submarino, onde se encontra Widmore, anterior líder dos Others. Charles Widmore sempre teve dificuldade em acatar as ordens dadas pelo Jacob e, desde que foi expulso da Ilha que a procurou incessantemente. Por outro lado, Jacob manifestou interesse na sua chegada à Ilha. Widmore parece ter os seus próprios planos mas, tendo em conta a sua sede de poder, poderá tornar-se um poderoso aliado do Black Smoke na guerra que ele próprio tinha anunciado. Tal como Napoleão, Widmore regressa do exílio e prepara-se para entrar na batalha. A incógnita é se terá o mesmo desfecho...

4 comentários:

  1. Este episódio foi simplesmente brutal! Vi-o no comboio e acho que as pessoas estavam a rir-se das caras de :O que eu fazia :P Está espetacular! LOST não pára de nos surpreender e é por isso que gosto da série ;)

    Mais uma grande crónica, Telmo ;)

    ResponderEliminar
  2. Este foi mesmo o episódio mais emocional desta temporada (e um dos mais emocionais da série!) Foi mesmo muito bom, principalmente porque o Michael Emerson esteve muito bem. Gostei muito de ver novamente a Alex, e principalmente a relação dela com Ben (numa realidade respeita-o por ser um bom pai, noutra realidade respeita-o por ser um bom tutor).

    Mas agora abre-me a curiosidade. Alex Rousseau, portanto suponho que ela esteja feliz com a mãe Danielle e com o pai Robert. Mas mais importante é o Widmore. Finalmente encontrou a ilha, terá sido a Elloise que lhe indicou o caminho?

    ResponderEliminar
  3. Obrigado João :) é por causa disso que gosto de ver LOST sozinho em casa, pra ninguém me apanhar com os queixos no chão heheh

    ResponderEliminar
  4. Duvido que a Eloise o tenha ajudado. Da última vez que os vimos juntos, não estavam propriamente amigáveis.. e só passaram 6 dias entretanto. O Widmore pode ter tentado apanhar a mesma "janela" por onde foi o avião, ou recorreu aos conhecimentos do Faraday, que também permitiram o grupo do Keamy aproximar-se da Ilha sem ajuda da Ellie :)

    ResponderEliminar